5 de março de 2008, 19:17 | Online
SANDRA HAHN - Agencia Estado
PORTO ALEGRE - Manifestantes da Via Campesina e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) liberaram hoje oito trechos de estradas no Rio Grande do Sul que haviam sido bloqueados no começo da manhã. Os atos foram realizados em protesto, segundo os grupos, "contra a violência da Brigada Militar (Polícia Militar gaúcha)" em ação de desocupação da Fazenda Tarumã, realizada ontem em Rosário do Sul (RS). Houve conflito e a BM usou balas de borracha na operação, que resultou na prisão de Irma Maria Ostrovski, uma das líderes dos sem-terra.
O delegado da Polícia Civil em Santana do Livramento, Othelo Saldanha Caiaffo, disse que Irma foi autuada por invasão com violência, desacato a autoridade, lesão corporal e formação de quadrilha. Conforme o MST, ela obteve ordem de soltura nesta tarde, que deve ser cumprida amanhã. O delegado terá 30 dias para concluir o inquérito e previu indiciar outras integrantes da Via Campesina pelos mesmos delitos - à exceção da lesão corporal, já que, segundo ele, Irma teria desferido golpe de foice no coronel da Brigada Militar Lauro Binsfeld.
Depois da desocupação da fazenda em Rosário do Sul, as cerca de 500 mulheres que participaram da ação foram levadas à vizinha Santana do Livramento, pois a delegacia teria melhores condições de fazer o registro. Como as manifestantes estavam sem água e comida, o ouvidor-geral de Segurança Pública, Adão Paiani, negociou o transporte do grupo para um ginásio na cidade, onde elas pernoitaram e receberam alimentação, explicou o delegado.
A coordenação do MST divulgou que cerca de 50 mulheres realizaram exame de corpo delito e uma delas deve entregar amanhã protesto contra a ação da BM ao Ministério da Justiça e à Secretaria Especial de Direitos Humanos. Conforme a BM, foram "duas ou três" mulheres atingidas por balas de borracha na operação de reintegração de posse da fazenda, disse o coronel Paulo Mendes, subcomandante da corporação. "A única violência que reconhecemos é contra o coronel Binsfeld", disse Mendes. "O resto é uso legítimo de força policial", acrescentou, sobre a operação, ressaltando que a Brigada fez uso de armas não-letais para cumprir a reintegração de posse - a propriedade tinha interdito proibitório contra possíveis invasões.
A Fazenda Tarumã, da sueco-finlandesa Stora Enso, tem 2.075 hectares e tinha sido invadida na madrugada de ontem. A área foi ocupada em protesto contra o plantio de florestas de eucalipto na região e os projetos que tramitam no Congresso propondo a redução da faixa de fronteira no Brasil de 150 para 50 quilômetros. A Via Campesina entende que a presença da Stora Enso em municípios como Rosário do Sul, localizados na faixa de fronteira, é ilegal. O grupo sueco-finlandês registrou as terras que adquiriu na região em nome da Azenglever Agropecuária, constituída por sócios brasileiros, e vai incorporar a empresa quando receber autorização do Conselho de Defesa Nacional (CDN) para assumir a titularidade das propriedades rurais. FONTE: Estadão Online ? SP