"Nós pensamos em esperar pela vistoria, mas soubemos que o dono está querendo negociar, por isso ocupamos", disse Tampinha. O sem terra desconhece se Anísio Neto pediu a reintegração de posse e afirma que há poucos dias o Incra marcou uma reunião, em Salvador, para iniciar a negociação, mas ele não apareceu. Tampinha afirmou que a fazenda está mal-conservada e que pediu à Coelba a religação da energia, que teria sido cortada por falta de pagamento.
Ex-empregado da fazenda, José Ferreira dos Santos destaca que há 35 anos trabalhou na Porangaba, que, na safra, chegou a produzir 40 mil arrobas de cacau e a empregar 180 peões. O trabalhador disse que havia muita mata e madeira, mas boa parte foi tirada. Parte da boa infra-estrutura está danificada, segundo os sem terra, por falta de conservação. São várias casas para trabalhadores, barcaças de secar cacau, almoxarifado para armazenar defensivos agrícolas, uma pequena fábrica de pias e tanques de fibra, uma escola e até um barzinho que era explorado por um trabalhador, segundo os sem terra.
Vassoura-de-bruxa - A prefeita de Camacan, Débora Borges, destaca que a Porangaba é uma fazenda histórica, com uma estrutura muito boa, onde morou muito tempo o primeiro dono, Anísio Loureiro, que foi prefeito do município duas vezes. Débora Borges tem informação de que o dono estaria querendo negociar, porque não tem condições de conservar a fazenda, como a maioria dos produtores de cacau, após a chegada da vassoura-de-bruxa. Uma das maiores riquezas da fazenda é a água abundante, porque fica às margens do Rio Panelão.
A ocupação, iniciada em 27 de agosto passado, foi pacífica, segundo os sem terra e confirmada por Maria Senhora de Almeida, empregada da fazenda. Ela disse que o patrão esteve pela última vez na Porangaba no dia 23, três dias antes da invasão dos sem terra. "Não sei de nada do que está acontecendo da porteira para fora da fazenda. Estou como os sem terra, esperando uma decisão", disse ela, que acha que Anísio Neto tinha informação de que os sem terra queriam invadir sua propriedade.
Maria Senhora diz que desde a invasão as casas estão fechadas. Ela só faz limpar a sede e tratar do jardim. "Não mexo com os sem terra e nem eles comigo", disse ela. Os sem terra estão acampados em barracos de lona, próximo à entrada da fazenda.
As famílias estão sobrevivendo do plantio de hortaliças, feijão e da criação de galinhas. "Nós não mexemos no cacau e em nada da fazenda", disse Reinaldo. Ele afirmou que há seis meses seu grupo não recebe cesta básica. A reportagem tentou contato com Maria D?Ajuda, representante da família Loureiro, mas não obteve retorno. FONTE: A Tarde ? BA