Agricultura familiar, presente! Com uma mística de fortalecimento da resistência da agricultura familiar contra a mercantilização da água, de denúncia de crimes ambientais, do mau uso dos bens naturais e os efeitos que contribuem para as mudanças climáticas, foi iniciado o Seminário Nacional sobre Meio Ambiente e Direito à Água com a presença de cerca de 300 dirigentes sindicais, lideranças, assessores(as) e trabalhadores rurais agricultores e agricultoras familiares de todo o País.
Esse seminário, que tem como tema "Sem Água não Alimentamos o Brasil", integra a programação do Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA) e acontece de 19 a 22 de março, em Brasília, com o objetivo de dialogar e capacitar a agricultura familiar sobre a importância de atrelar a defesa do meio ambiente à luta em defesa da água como um direito essencial, fundamental e universal.
Durante a mística, a delegação da CONTAG, das Federações e Sindicatos também fez uma homenagem a todos e todas que tombaram na luta, incluindo a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL-RJ), assassinada no último dia 14 de março. Foi um momento forte, de reflexão e um grito de basta de violência! "Trabalhadores e trabalhadoras rurais, presente! Marielle Franco, presente! Todos que tombaram na luta, presente!", reforçaram todos e todas.
Em cortejo, levantando o estandarte "Água é um direito, não mercadoria" e bandeiras da CONTAG, os(as) participantes se dirigiram ao auditório como sinal de resistência para a abertura política do Seminário.
A Diretoria da CONTAG destacou a posição do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) de se contrapor ao Fórum Mundial da Água (FMA), também chamado de Fórum das Corporações, que pretende mercantilizar a água. "Temos que dizer a toda sociedade que vamos fazer muitas lutas para garantir a água como direito, não como mercadoria. Também não basta fazermos somente o debate em defesa da água. Temos o compromisso de fazer mais e a CONTAG se compromete a fazer mais. Temos que mudar os nossos hábitos, fazer o manejo e intensificar a preservação da água", destacou o presidente da CONTAG, Aristides Santos.
A secretária de Meio Ambiente da CONTAG, Rosmari Malheiros, denuncia que estamos atravessando um momento desumano de transformação da água em mercadoria. “Não aceitamos a mercantilização da água. Está tramitando no Congresso Nacional projeto que visa inserir a concessão da água na política de recursos hídricos. Além disso, de 2011 para cá cresceu em 150% o número de conflitos por água. E esse número pode ser maior, pois muitos casos nem chegam a ser registrados”, destaca a dirigente. Rose também relembra outros problemas ambientais recentes e que permanecem na impunidade. “Temos os casos de Mariana/MG e de Barcarena/PA, que degradam o meio ambiente, poluem os nossos rios, matam os nossos peixes e retiram o nosso direito ao acesso a fontes de água adequadas”, denuncia.
E, na opinião de Rose, as grandes corporações usam a mídia para convencer a população de que estão preocupadas com o meio ambiente e que privatizar a água seria algo positivo. “O FAMA rejeita todas as propostas em discussão no Fórum das Corporações. Nós reafirmamos o que aprovados no 12º Congresso da CONTAG: preservar o meio ambiente, a água e os nossos solos. Ou cuidamos do nosso planeta ou não teremos como alimentar o nosso País”, ressalta a secretária de Meio Ambiente da CONTAG.
DEBATE
Em sequência à abertura política, foi realizado o debate sobre “As questões socioambientais e as múltiplas relações com a agricultura familiar”, com a participação do professor Murilo Souza, da Universidade Estadual de Goiás, e Cristiane Faustino, da Rede Brasileira de Justiça Ambiental.
Para Murilo, quando os bens naturais são vistos como mercadoria, começam a aparecer os problemas ambientais. “Os agrotóxicos representam toda uma indústria que agora também quer controlar as terras e as águas. Agrotóxico é VENENO! No Brasil a água está muito contaminada. Aqui, é tolerado fornecer água com 5 mil a mais de glifosato do que em países da Europa. Já está comprovado que vários casos de câncer estão ligados ao consumo de agrotóxicos na comida e na água. E a agricultura familiar pode contribuir bastante para reverter essa situação. Os agricultores e agricultoras familiares produzem muitos alimentos e contam com grandes experiências agroecológicas, mesmo sem políticas públicas de incentivo para as boas práticas”, argumenta o professor.
Cristiane Faustino também reforça que as práticas e a relação que estabelecemos com a natureza são diferentes no campo e na cidade. “O Plano Nacional de Mineração, por exemplo, foi feito entre o governo e empresas. As populações afetadas não foram consultadas. Esses grandes grupos têm maior capacidade de degradação e não a agricultura familiar. A degradação ambiental é atravessada por relações de poder e de forma injusta. E os impactos maiores acontecem nos territórios indígenas, quilombolas e da agricultura familiar”, ressalta a representante da Rede Brasileira de Justiça Ambiental.
FONTE: Assessoria de Comunicação da CONTAG - Verônica Tozzi