Os custos dos fertilizantes realmente estão aquecidos. É o que admite a própria Anda, a associação das indústrias. Mas a alta não é exclusividade do Brasil. A forte demanda mundial por alimentos gera produção maior, que passa a exigir mais adubos e fertilizantes.
"O preço vem de fora", diz André Pessôa, da Agroconsult. Apenas 20% a 25% do preço final ao produtor depende de custos internos, diz ele.
E o país não deve esperar alívio nos custos. China e Índia, onde há aumento no consumo de alimentos, não têm mais terra disponível para cultivar. A saída é o uso maior de fertilizantes, produto subsidiado, segundo Alexandre Mendonça de Barros, da MBAgro.
A alta dos fertilizantes eleva os custos de produção, que geram inflação, que puxa os juros. Já o Fed (banco central dos EUA) baixa os juros, facilitando a entrada de capital aqui, valorizando o real e deteriorando a renda do produtor. Conclusão: o país que mais poderia elevar a produção mundial de alimentos tem dificuldade de investir.
Acompanhamento de preços da Agroconsult mostra que, na safra 2008/9, os produtores que anteciparam compras pagaram US$ 464 (R$ 773) pela tonelada de adubo em Mato Grosso. Na safra anterior, o custo era de US$ 290 (R$ 483).
O preço atual de uma tonelada de fertilizante básico é de R$ 1.620 em Rondonópolis (MT), 103% a mais do que em 2007, mostra a consultoria Céleres.
Para o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, a batalha dos fertilizantes não será ganha a curto prazo. O governo tem um grupo específico para buscar soluções para o setor. Uma redução da dependência externa só virá "a médio e longo prazo", diz o ministro.
No cenário atual, ganha o produtor que está na vanguarda tecnológica, diz Anderson Galvão, da consultoria Céleres. Na avaliação dele, os custos dos produtores de Mato Grosso devem ficar entre US$ 800 e US$ 1.000 por hectare, dependendo do uso de tecnologia.
Pessôa estima os custos de produtores mato-grossenses em US$ 940 nesta safra, 35% a mais do que na anterior. A renda líquida cai para R$ 270 por hectare, quando considerados apenas os custos variáveis (adubos, sementes, defensivos etc.). A Céleres indica margem operacional bruta de R$ 484.
Já no Paraná, o custo de produção de soja sobe para US$ 756 (R$ 1.260) por hectare. O aumento é de 73%, em dólar, e de 46%, em reais, em relação à safra anterior, segundo José Pitoli, da Coopermibra.
As pressões para os produtores de milho são maiores: na primeira safra, o custo do hectare subiu para R$ 1.530, com alta de 49%. Já na safrinha, foi de R$ 1.071, com evolução de 46%.
Mas não são apenas os fertilizantes que pesam para o produtores. A alta de quase 60% no preço do glifosato nesta safra fez o custo de produção da soja transgênica ficar próximo do da convencional, segundo Leonardo Menezes, da Céleres.
FONTE: Folha de São Paulo - 13/05/2008