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REVOLUÇÃO EM MARCHA NOS LABORAT
Revolução em marcha nos laboratórios
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19 de Outubro de 2007

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O desenvolvimento da agricultura permitiu aos povos primitivos maior controle sobre a oferta de alimentos e fixação em territórios. Vieram clãs e cidades, e a aceleração do crescimento demográfico. Entre os séculos XVII e XIX, a queda de produtividade e a escassez de comida motivaram a primeira revolução agrícola, marcada por rotação de culturas e pela integração entre lavouras e pecuária. Mas os cintos europeus continuaram apertados, e a segunda revolução veio entre os séculos XIX e XX com o desenvolvimento da chamada agricultura industrial, que passou a promover o uso de fertilizantes químicos, melhoramento genético e uso de máquinas agrícolas.

Para alguns cientistas, o atual interesse em se reduzir o uso de derivados do petróleo - por questões econômicas e ambientais - e a preocupação com os efeitos que o aquecimento global provocarão sobre a produção de alimentos direcionam a agricultura para uma terceira revolução. Neste caso, derivada da busca por produtos resistentes a intempéries climáticas, sobretudo à seca, e que possam ser utilizados como alimento e também como matéria-prima para a produção de energia limpa.

"O mais importante é que, se alcançarmos a característica de tolerância à seca, será possível ao produtor expandir a janela de plantio para meses mais secos e também utilizar áreas com menor índice de umidade no solo, pondo fim ou reduzindo o problema da oferta insuficiente de grãos para alimentos e biocombustíveis", diz Elibio Rech, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

O foco da estatal brasileira é o mesmo de diversos grupos multinacionais, que nesse momento concentram esforços no desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar, canola, soja, milho, algodão e trigo tolerantes ao déficit hídrico. A maioria dessas culturas, em menor ou maior escala, já são utilizadas para alimentação humana ou para a produção de biocombustíveis.

No Brasil, também o café arábica, mundialmente apreciado por seu sabor e pelo baixo teor de cafeína, ganha a ajuda do café robusta para adquirir tolerância à seca. No próximo ano, o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), vinculado à Secretaria de Agricultura do Paraná, iniciará testes de campo com variedades transgênicas de café robusta resistentes à falta de água. A intenção, nessa frente, é usar esses pés transgênicos em porta-enxertos para a produção do arábica convencional, revela o pesquisador Luiz Gonzaga Vieira.

"A planta do arábica é mais sensível que a do robusta, menos resistente a estresse hídrico e doenças", diz. No Paraná, por exemplo, onde há grande incidência da praga de nematóides no solo, é comum produtores usarem a planta do robusta como base para enxertos com o café arábica - o que resulta em um pé mais resistente, que produz apenas grãos do tipo arábica. Os estudos do Iapar começaram há três anos e devem levar outros dez até chegarem ao mercado. O processo de transgenia consistiu basicamente em implantar no robusta um trecho genético (P5C5) da vigna - o conhecido feijão-de-corda do semi-árido nordestino.

Esse gene é responsável pela produção de um aminoácido chamado prolina, que dá às plantas maior tolerância à seca, ao excesso de calor e de sal no solo. "O café também possui genes que conferem essa característica à planta, mas no feijão-de-corda essa produção é maior", diz Vieira.

Com a mudança genética, a planta apresenta melhora no seu sistema de raízes e adquire mais tolerância às intempéries climáticas. A vantagem, diz Vieira, é que o pé transgênico proporcionará um melhor fornecimento de águas e nutrientes para o enxerto de café arábica, que preservará a produção de grãos convencionais, mas com melhor produtividade. "Já fizemos trabalho semelhante com cana-de-açúcar e citrus e sabemos que, com essas plantas, funciona. Falta confirmar a mesma eficiência com o café", afirma o pesquisador.

A Embrapa, em parceria com o Instituto Capixaba de Pesquisas, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e com o francês Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica (Cirad), também desenvolve variedades de café arábica e robusta mais tolerantes à seca. "Já encontramos vários genes de tolerância no café robusta. O objetivo agora é introduzir esses genes no café arábica, sem alterar sabor e qualidade do grão", diz Alan Carvalho Andrade, coordenador do Núcleo de Biotecnologia do Consórcio Internacional do Café e pesquisador da Embrapa.

A mudança, segundo ele, poderá ser feita tanto por melhoramento convencional (com fecundação cruzada) como por transgenia. O trabalho teve início em 2006 e a expectativa é que os testes de campo comecem a dar resultados em cinco anos. A Embrapa também realiza melhoramentos na soja para alcançar variedades tolerantes à seca.

Além das pesquisas com o café, o Brasil também lidera o desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar tolerantes à seca, trabalho levado à cabo pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) - que busca acordos com multinacionais - e pela Allelyx, da Votorantim Novos Negócios, que desde maio realiza pesquisas em parceria com a americana Monsanto. O trabalho atraiu o interesse da também americana DuPont, que já realiza pesquisas com o milho nos Estados Unidos e agora planeja fazer trabalho semelhante no Brasil com a cana, conforme informou Uma Chowdhry, vice-presidente de ciência e tecnologia da DuPont, em entrevista recente ao Valor.

A anglo-suíça Syngenta já desenvolve sementes de milho e de soja tolerantes à seca - convencionais e transgênicas - na Argentina, com previsão de lançamento em 2010, e recentemente fechou acordo com a americana Performance Plant, para pesquisar tais variedades nos Estados Unidos e no Canadá. "Nos EUA, as áreas agriculturáveis estão no limite e só será possível expandir sobre os desertos. No Brasil, essas variedades poderiam ser desenvolvidas, por exemplo, para a região Nordeste", afirma Lilian Saldanha, diretora de assuntos regulatórios da Syngenta Seeds. De acordo com ela, a empresa deve efetuar os primeiros pedidos de licença para pesquisa no Brasil até o próximo ano. FONTE: Valor Econômico



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