Rubney Gonçalves SantAna, 30 anos, é agricultor familiar nascido em Alegre, sul do Estado, e carrega nas veias o DNA da agricultura. Filho de agricultores do município, ele conta que, aos três meses de idade, os pais abandonaram o campo por falta de oportunidade.
"Minha mãe chegou a trabalhar como vendedora ambulante, costureira e em casa de família, enquanto meu pai, em pocilga, marmoraria, serraria e servente de pedreiro nesta luta toda para aumentar a renda da família, tendo em vista que minha irmã estava para nascer, lembra Rubney.
Após dez anos na cidade grande, a família conseguiu comprar a casa própria. O agricultor estudou em escolas públicas e, em todas as férias, gostava de ir para a casa dos avós na roça, onde andava a cavalo, tomava banho no córrego...
Quando Rubney tinha dez anos, o pai recebeu uma proposta para voltar a morar na zona rural e tocar a propriedade dos avós paternos.
"Minha mãe não gostou da ideia porque ir para a cidade grande foi por causa da ganância e da cabeça dura do meu avô que, no passado não nos deu oportunidade para ficarmos no interior. Como saí dali com três meses de vida e não tinha condições de compreender nossa saída da roça, fiquei louco para voltar, e minha mãe acabou aceitando a proposta, diz o agricultor.
O pai atuava na propriedade, no Córrego da Carneira, distrito de Anutiba, como meeiro do avô do agricultor. E mesmo estudando, no contra-turno Rubney tinha várias obrigações, dentre elas descascar milho, cortar cana e tratar das criações de galinha e porco. Não tinha aquilo como obrigação, mas sim um grande hobby, afirma.
Rubney estudou até o terceiro ano do Ensino Médio, mas sempre com o pensamento fixo de continuar no campo. O trabalho da família era intenso, porém a renda não era lá estas coisas. Nossa lavoura de oito mil pés de arábica produzia de dez a treze sacas para repartir com meu avô. Meu pai tinha que trabalhar fora do sítio para cobrir as despesas de casa. Foi me batendo um desânimo... Já estava com dezessete anos, queria uma moto e fazer as coisas de um jovem da minha idade.
O agricultor conta que via em outras regiões mais quentes o café conilon com produção maior, o que lhe chamava muita atenção. Meus tios produtores de conilon falavam em 50, 60 e até em 100 sacas de café em uma pequena área. Aquilo me deixava doido e fui atrás de melhorias para a cultura e minha realidade, lembra Rubney.
Descoberta
Ele passou a participar de encontros de sindicatos e da Pastoral da Juventude Rural (PJR). E foi neles que descobriu que outros jovens também buscavam os mesmos objetivos para se manter na terra com dignidade. Comentou com o pai sobre o assunto, e ele gostou da ideia e deu a maior força como sempre.
Segundo Rubney, só havia um problema. O pai não era proprietário do imóvel onde a família morava. O avô embarreirou o projeto do neto de implantar uma nova lavoura. Até que um dia um tio-avô, que morava no Rio de Janeiro, cujas terras faziam divisa com o irmão, ofereceu a área para o sobrinho tocar a atividade, já que só tinha gastos com o terreno.
Rubney não pensou duas vezes. Plantou 1.000 pés de café e passou a administrar a lavoura enquanto ainda cursava o 2º ano na escola, a 18 km de distância, o que não foi tarefa fácil. Eu não gostava de estudar, e a escola me comia boa parte do dia. Muitas vezes tinha que fazer o trajeto a pé. Sem tempo para me dedicar a lavoura, acabei perdendo 800 plantas com o sol quente, pois ainda não tinha todos os conhecimentos e técnicas certas para mexer com a cultura.
O sindicato passou a orientar o produtor, que também buscou outras fontes de conhecimento, até surgir o convite do diretor da entidade para participar de um curso sobre gestão na propriedade em parceria com o Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (Mepes) voltado para jovens rurais. O curso tinha tudo a ver comigo e foi nele que vi que estava enganado sobre os estudos. Para ficar na roça era, sim, preciso estudar, diz.
Rubney aprendeu sobre café e outros temas relacionados ao meio rural e ousou mais ainda dessa vez. Plantei três mil plantas e optei por mudas de sementes menos produtivas, porém mais tolerantes ao clima na minha região, e porque não tinha recursos para implantar irrigação no terreno.
E o agricultor não ficou só no café. Com os conhecimentos do curso e a produção aumentando ano a ano, ele, o pai, a mãe e o tio já aposentado passaram a administrar toda a área do sítio, de 9,6 hectares, diversificando a renda na propriedade com piscicultura, fruticultura e criação de bezerros para engorda. Dois cavalos eram usados nos trabalhos pesados na lavoura, pois a família ainda não tinha carro para transportar o adubo e puxar o café para o terreiro.
Apesar dos negócios evoluírem, Rubney SantAna ainda sonhava com um terreno para chamar de seu e continuar os projetos na agricultura, sempre com boa administração. Há dois anos, adquiriu um sítio de 4,8 ha, tudo em braquiária, no Córrego de Capoeirinha, também no distrito de Anutiba.
Ele construiu uma casa na propriedade, onde vive com a mulher, Chirlei, também filha de agricultores e apaixonada pela terra. Juntos, dão continuidade ao plano de tornar o sítio também produtivo com café, sem destruir a natureza.
Engajamento
Em busca de sustentabilidade para se manter na terra, Rubney mostrou vocação também como liderança. Foi presidente por dois anos da Associação de Produtores Rurais da comunidade e convidado para compor chapa na diretoria do Sindicato dos Agricultores e Assalariados Rurais de Alegre na cota de jovem. Faz seis anos que ocupa este posto e também está à frente da Comissão Estadual de Jovens.
Tenho compromisso com a juventude rural do Estado, mesmo diante das dificuldades. Sou militante da juventude, na busca por direitos e políticas públicas para os jovens do campo, pois penso que todos devem ter a oportunidade de se manter na roça com dignidade, ressalta Rubney.
O agricultor organiza a participação dos capixabas no 4º Festival Nacional da Juventude Rural, que acontecerá de 05 a 07 de maio em Brasília. A expectativa é da presença de 10 mil jovens rurais para levar a pauta de reivindicações da juventude rural até o governo federal. A juventude rural é o presente e futuro da agricultura familiar. Se o campo não planta, a cidade não almoça e não janta, conclui.
*A matéria está disponível aqui na íntegra.
FONTE: Leandro Fidelis - Anuário do Agronegócio Capixaba