A Oxiteno, empresa do grupo Ultra, comprará, por ano, 100 mil toneladas de óleo de palmiste, que, assim como o óleo de dendê, é derivado do fruto da palmeira. O óleo será usado para fazer álcool laurílico, base para a indústria de cosméticos e alimentos. Mas, apesar de estar construindo sua nova planta no pólo de Camaçari, cidade baiana a menos de 400 quilômetros de áreas de dendezeiros, a Oxiteno comprará todo o óleo de palmiste da Malásia, onde a oferta é garantida e o produto é 10% mais barato do que no Brasil.
A Bahia, famosa pelo azeite de dendê, está longe de ter produção suficiente para atender pelo menos parte da demanda da Oxiteno. O Brasil, com fazendas de dendezeiros principalmente na Bahia e no Pará, produz por ano entre 120 mil e 130 mil toneladas de óleo de palmiste, quase o volume que a empresa precisa comprar anualmente. "Os produtores locais não têm escala para nos atender", diz Jorge Brito Saliba, gerente da unidade de Camaçari. A nova fábrica, que usará o palmiste como insumo, entra em operação no início de 2008. O investimento é de R$ 260 milhões e a unidade será a primeira na América Latina a fabricar álcoois graxos, com produção de cerca de 80 mil toneladas por ano.
O discurso de Saliba é o mesmo dos produtores de óleo de dendê e de palmiste. A Opalma, empresa baiana, que tem fazendas de dendezeiro em Taperoá, sul da Bahia, produz apenas 1,2 mil tonelada de óleo de palmiste por ano. A produção de óleo de palma, ou de dendê, como também é chamado, chegará a 10 mil toneladas neste ano.
Jarbas Filho, diretor da fábrica, diz que, com esta escala, não tem como fornecer para a Oxiteno. "Com esse câmbio derretendo, fica ainda mais difícil". O executivo prefere seguir com os contratos menores fechados com empresas de alimentos, como a Cargill, do que se arriscar a plantar mais e depois não ter para quem vender. Além disso, uma palmeira recém-plantada leva quatro anos para começar a produzir o coco de onde se tira o óleo.
Nem mesmo a maior produtora de óleo de palma e de palmiste do país, a Agropalma, vai se aproveitar do investimento da Oxiteno. "Hoje não temos volume para isso, mas pode ser que no futuro tentemos ser um dos fornecedores da empresa", afirma Marcelo Britto, diretor comercial da empresa.
Este "futuro" parece estar distante. O Brasil está longe de ter uma grande produção desses óleos. Levantamento da consultoria Oil World projeta que a produção anual de óleo de palma (incluindo dendê e palmiste) no Brasil ficará em 200 mil de toneladas, entre 2006 e 2010, representando 0,7% da produção mundial. Malásia e Indonésia, no mesmo período, atingirão produção anual de 12,7 milhões e 11,4 milhões de toneladas e responderão por 82,5% da produção mundial.
Produtores do Brasil questionam os custos mais baixos dos óleos obtidos em países como Indonésia e na Malásia
Os produtores brasileiros dizem que é muito difícil competir com esses dois países e alegam que o custo de produção no Sudeste Asiático é bastante inferior. "Lá não se respeita legislação trabalhista, as terras são mais baratas e não há certificação ambiental", argumenta Britto, da Agropalma.
Além da pequena produção, o óleo de palmiste enfrenta outro entrave: por dificuldades no processo de extração, o rendimento é baixo. A cada tonelada de cacho colhida da palmeira, são extraídos cerca de 25 quilos desse óleo, obtido a partir de uma pequena amêndoa que há dentro de cada coco, fruto da palmeira. Já o óleo de dendê, que é retirado da casca que recobre esse pequeno coco, rende mais. Cada tonelada de cacho gera cerca de 200 quilos de dendê.
Embora existam empresas especializadas na colheita e refino desses óleos, a cultura ainda é pouco profissional no país e não tem condições, nem no médio e longo prazo, de fazer frente à produção dos países asiáticos. Na Ilha de Itaparica, a menos de 20 quilômetros de Salvador, há pessoas vendendo azeite de dendê pelas ruas, depois de terem colhido e extraído manualmente o óleo. "A maioria do dendezal da Bahia é antiga e espontânea", diz José Mário Carvalhal, diretor de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura do governo da Bahia.
Hoje, o Estado abriga 53,25 mil hectares de terras voltadas ao plantio da palmeira. É mais do que o de 2006, quando essa cultura ocupava 44,8 mil hectares. A secretaria estima que em 2007 sejam colhidas 198 mil toneladas de cachos da árvore, um crescimento de 13% em relação ao ano passado.
Segundo Carvalhal, a intenção do governo de Jaques Wagner é fomentar o plantio de palmeiras e reduzir a necessidade de importação do óleo no Estado e no país. "O foco é na agricultura familiar e na variedade da palmeira chamada de tenera, que é mais produtiva", afirma. Ainda não há, no entanto, uma política estadual realmente estruturada para essa cultura. Enquanto isso, o dendê só continua abundante no acarajé e na moqueca baiana. FONTE: Valor Econômico ? SP