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PRODUTORES GANHAM ESTRADA ENTRE
Produtores ganham estrada entre Plácido de Castro e Acrelândia
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19 de Dezembro de 2007

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Leonildo Rosas

Abel Alves e Clemensa Silva se conheceram ainda jovens, no interior do Espírito Santo. Capixaba, ele tinha 20 anos. Baiana, ela acabara de comemorar os 16. Foi amor à primeira vista. O namoro durou pouco. O casamento dura 50 anos. O relacionamento gerou 12 filhos. Sempre juntos, moraram em São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Rondônia. Chegaram ao Acre em 1980. Como muitos naquela década, vieram atraídos pela possibilidade de ter uma vida mais tranqüila e um pedaço de terra para sobreviver.

Casados há meio século, os dois logo perceberam que a vida não seria nada fácil no local que escolheram para morar. Nem tranqüila. Terra havia, mas faltavam a estrutura e o apoio mínimo para trabalharem. Sofrerem com malária e falta de apoio das autoridades aos produtores assentados no Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto, onde hoje estão os municípios de Plácido de Castro e Acrelândia.

"Desses doze filhos que tivemos, quatro nasceram no Acre. Dois morreram - um de afogamento e outra vítima do sarampo quando tinha apenas dez meses", revela Abel Alves.

Ontem, após 27 anos, Abel e Clemensa nitidamente vestiram a melhor roupa para um evento considerado de gala para as centenas de produtores que moram ao longo ou no entorno da AC-475.

Morador do Projeto Orion, na Linha 3, chegaram à cidade na segunda-feira. Ficaram instalados na casa de uma das filhas. Ela estava com uma blusa azul e saia preta. Um dente de ouro reluzia na boca entre os dentes não tão bem cuidados. Aos 70 anos, Abel trajava uma calça preta, camisa clara e óculos escuros tipo ray-ban. Na cabeça, um boné azul escondia os poucos cabelos.

Ao batizar a BR de Estrada do Produtor, o governo homenageou centenas de pessoas como Abel e Clemensa, que passaram quase três décadas de vida praticamente abandonadas pelo poder público.

O sentimento de gratidão misturado com um pouco de incredulidade era possível ser detectado no semblante dos cidadãos, principalmente nas ruas e janelas de Acrelândia, onde o governador Binho Marques soltou o laço de inauguração junto com o produtor Sebastião de Souza, 63.

"Moro no Ramal Granada há quinze anos. Nunca pensei que um dias iria passar por uma emoção dessas", revelou o produtor.

Binho Marques entregou a última etapa de uma obra iniciada em 2000, com o ex-governador Jorge Viana. Em 2002, uma nova etapa foi concluída. Ontem foram entregues os 23,8 quilômetros de uma rodovia que tem 59 quilômetros de extensão.

Para executar a obra, o governo investiu R$ 18,4 milhões. O dinheiro foi conseguido por meio de parceira com o governo federal, a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), o Projeto Calha Norte e o Ministério da Defesa.

Sebastião, Abel e Clemensa fazem parte de um exército de trabalhadores acreanos e de outros Estados - a maioria da Região Sul - que foram assentados no Pedro Peixoto, pensado a partir da lógica dos gabinetes em Brasília em 1977, para acomodar seringueiros expulsos das suas colocações pelos chamados "paulistas" e imigrantes vindos do Centro-Sul - muitos também quase expulsos da sua terra natal após a construção da hidrelétrica de Itaipu.

Era o tempo de um Brasil grande dirigido aos grandes. Os pobres eram retirados do caminho do desenvolvimento pensado pelo regime militar como se fossem obstáculos móveis.

Esses obstáculos móveis eram retirados com facilidade e jogados nos projetos de assentamento na Amazônia, que mais pareciam campos de concentração. Esquecidos por poder público, aqueles que permaneceram produzindo podem ser considerados sobreviventes.

As dificuldades eram tantas que os procedentes de outros Estados trocaram suas glebas por uma passagem para poder regressar ao ponto de partida. Os acreanos foram povoar a periferia das cidades. Muitos morreram.

"Aqui era apenas sofrimento. Ninguém falava em estrada. Era apenas sofrimento para todos nós", disse Abel, arrancando aplauso das centenas de famílias que foram prestigiar a solenidade de inauguração na localidade chamada Santana, no quilômetro 14 a partir de Plácido de Castro.

No local não estavam apenas convidados ou autoridades. Famílias inteiras largaram as atividades na agricultura para prestigiar uma inauguração esperada durante trinta anos. Havia também os ambulantes, que esperavam faturar um dinheiro a mais com a venda de água, refrigerantes e salgados.

"Sempre que tem festa aqui, meu patrão me traz de carro de Plácido de Castro com o carrinho cheio de água e refrigerante. Sempre vendo bem", comentou o vendedor Sebastião Maia da Silva, 40.

Mas as pessoas não estavam de olhos nos vendedores de produtos industrializados. Estavam com os olhos pregados nos discursos. Foi assim que ouviram quando Abel Alves falou sobre as dificuldades enfrentadas por todos. Segundo ele, os obstáculos eram tantos que ninguém plantava, nem colhia ou criava porque não tinha para quem vender. Hoje, comentou, o pessoal poder plantar e criar porque tem para quem vender.

"Também temos tudo no campo. Temos luz, geladeira e televisão. Só vai para a cidade quem quiser. Tudo isso graças ao ex-governador Jorge Viana, ao governador Binho Marques e ao presidente Lula, que olham para os pobres", afirmou, enquanto era observado pela esposa Clemensa, que concordava com a cabeça.

"Como todos os nossos filhos casaram, é ele que ainda vai para a roça cuidar da plantação. Eu vou, mas ajudo muito pouco", comentou a mulher.

Vinte por cento de todo o asfalto do Acre em um ano

Com a entrega dos 23,8 quilômetros da Estrada do Agricultor, a atual administração estadual cruzou a barreira dos 200 quilômetros de asfaltamento somente este ano. O número não é pouca coisa. Corresponde a mais de 20% de toda área asfaltada do Acre.

"Há mil quilômetros asfaltados no Acre. Mais de vinte por cento foi feito este ano", revelou o governador Binho Marques.

Binho Marques fez questão de destacar, no entanto, que o asfaltamento não vem sozinho. Lembrou que os municípios de Plácido de Castro, Acrelândia, Capixaba e Senador Guiomar fazem parte de uma Zona Especial de Desenvolvimento (ZED), que está recebendo investimentos porque tem potencial para se desenvolver.

"ZED é uma palavra que vocês ainda ouvirão falar muito, mas entenderão com o passar do tempo. Nós também entraremos forte nos ramais", disse. Só Acrelândia dispõe de 700 quilômetros de ramal.

Marques declarou que o povo acreano não pode ter medo de desafios. E voltou a declarar que o Acre será o melhor lugar para se viver na Amazônia a partir de 2010.

"Disse isso porque sei que o povo acreano não tem medo de desafios. É um povo que não brinca com coisa séria. Nossos índices irão melhorar muito nos próximos anos."

Tudo é uma questão de acreditar no progresso

Ao chegar ao Ramal Granada, em Acrelândia, José Resende veio atrás de conseguir um pedaço de terra para produzir leite. Tinha experiência acumulada no Espírito Santo e acreditava que poderia obter sucesso na Região Amazônica.

"Eu sempre fui empregado, queria trabalhar e ser proprietário de alguma coisa", recorda.

Resende chegou ao Acre quando o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) ainda estava assentando as famílias que vieram do Paraná, praticamente expulsas de suas propriedades quando a hidrelétrica de Itaipu entrou em funcionamento.

"Foi um tempo difícil. Nos anos de 1987 e 1988 só não foi embora quem não pôde. Conheci gente que trocou sua propriedade por uma passagem de volta para o Paraná,"

As dificuldades, no entanto, não assustaram Resende nem seus familiares. O negócio do leite não deu certo e todo o plantel foi desfeito. Passou a investir no café, mas também não obteve sucesso.

A persistência, porém, valeu a pena. Atualmente, José Resende é presidente da Cooperativa dos Produtores de Leite de Acrelândia (Coopa). São 618 produtores cadastrados, que entregam 18 mil litros de leite por dia para a empresa de laticínio do município produzir derivados como queijo e manteiga. O faturamento mensal médio é de R$ 200 mil.

Com o asfaltamento da AC-475, Resende acredita que a produtividade será ainda maior, já que a perda atual é de 40% porque a logística de transporte tende a melhorar a partir de agora.

"Hoje tenho consciência de que o importante é acreditar no progresso. No início não dava para acreditar. Mas, como estávamos dentro do barco, fomos obrigados a isso. Não me arrependo."

Mãe e filha se encontram

Plácido de Castro e Acrelândia são cidades que podem ser consideradas mãe e filha. Mas passaram vários anos se encontrando com pouca freqüência por falta de uma via de acesso que lhes permitisse trocar as experiências.

São cidades que foram separadas no berço e na lei. Emancipado há 30 anos, Plácido de Castro teve que ceder parte do seu território ao novos município, que ganhou autonomia há apenas 15 anos.

A separação territorial aumentava porque a AC-401, renomeada de AC-475, não permitia que houvesse um intercâmbio maior.

Ontem, no palanque improvisado, o governador Binho Marques visivelmente não queria ser o grande responsável pela união freqüente desses "parentes". Ele preferiu compartilhar o feito com seu antecessor Jorge Viana, com os prefeitos Vilseu Ferreira (PP/Acrelândia) e Paulinho Almeida (PT/Plácido de Castro) e a população.

Binho Marques deixou claro que os verdadeiros pais das crianças são os produtores, que passaram anos convivendo com as dificuldades sem abandonar suas propriedades.

Plácido de Castro e Acrelândia são cidades que representam bem os modelos de desenvolvimento pensados para o Acre. Também simbolizam a troca de saberes entre povos de culturas opostas. Uma foi a maior produtora de borracha do Acre. É nela que mora a maioria de acreanos. A outra nasceu apostando forte na pecuária e na agricultura. Foi povoada pelos imigrantes do Sul do país.

Inspirado pela produção da cidade vizinha, Plácido de Castro passou a mudar o foco dos investimentos. Hoje produz grãos e tem uma forte bacia leiteira.

Essa inspiração não veio por acaso. O prefeito Paulinho Almeida veio para o Acre ainda criança - toda família é de Maringá (PR). Foram três anos tentando plantar café. Não deu certo. A solução foi montar um comércio na cidade. Na política, o petista está no primeiro mandato. Sobre o parentesco, ele comenta: "Agora, a cidade-mãe poderá se encontrar mais com a cidade-filha e vice e versa".

O pioneirismo de Aristeu

A AC-401, hoje AC-475, foi concebida para garantir o escoamento da produção dos milhares de ex-seringueiros instalados em projetos de assentamento e colonização dos governos de Geraldo Mesquita e Joaquim Falcão Macedo.

Naquela época, o Deracre tinha em seus quadros o experiente mateiro Aristeu Pereira da Silva, homem requisitado pelo Exército Brasileiro, por três vezes, para fiscalizar a pé todo o limite do Estado do Acre. "Pau pra toda obra no trabalho", ele construiu em ramais e estradas mais de 200 bueiros feitos de paxiúba na década de 60 e foi responsável pela montagem dos primeiros 50 bueiros metálicos no Deracre.

Aposentado há anos, Aristeu, muito lúcido, contou há dois anos ao jornalista Pheyndews Carvalho como foi a abertura da primeira picada da antiga estrada. "Iniciamos a picada usando apenas uma vara verde [baliza] para traçar a reta da estrada."

Aristeu pôs em dúvida a capacidade de um teodolito (aparelho de precisão para traçar estrada) conseguir detectar alguma curva no seu traçado feito a olho nu. "Eu e mais três auxiliares fizemos em doze dias vinte quilômetros. Era tarefa para macho mesmo. Senão esmorecia e largava o trabalho."

Números da obra

23,8 quilômetros foram asfaltados entre a zona urbana de Acrelândia até o quilômetro 10 de Plácido de Castro

R$ 18,4 milhões é o valor da obra

118 equipamentos utilizados

492 mil metros cúbicos de terraplanagem

16,6 mil toneladas de massa asfáltica utilizadas

10 mil metros cúbicos de brita

1.331 metros de bueiros e galerias

40 metros de ponte sobre o igarapé Santa Helena FONTE: Página 20 ? AC



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