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PROCURADO POR FURTO
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19 de Março de 2008

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Acusado de subtrair 160 reses de fazenda em Buritis para vender a frigoríficos, empresário Márcio Passos está foragido. Ele já havia sido condenado em inquérito por parcelamento ilegal de terras públicas

Ary Filgueira

Da equipe do Correio

Depois de ser preso e condenado em Brasília por participar de esquema de parcelamento ilegal de terras públicas, o empresário Márcio Passos está envolvido em outro escândalo. O irmão do ex-deputado Pedro Passos (PMDB-DF) é acusado pela polícia mineira de ser autor do furto de 160 cabeças de gado de uma fazenda em Serra Bonita, distrito de Buritis (MG), distante 250km da capital federal. Márcio, segundo os investigadores, atraía os bois para a sua propriedade, que fica próxima, com sal de cozinha. O rebanho passava por buracos na cerca que dividia as duas fazendas e se misturava com outras reses, de acordo com a investigação.

De Serra Bonita, onde estão as duas fazendas, as 160 cabeças de gado foram transportadas em nove caminhões para outra fazenda de Márcio Passos, em Sobradinho (DF). De lá, o gado foi negociado para venda em açougues e frigoríficos da cidade. O comboio era puxado pelo caminhoneiro conhecido por Tião Gaiola. Segundo depoimentos de funcionários da propriedade de Passos, que não tiveram sua identidade revelada, o rebanho foi levado para a fazenda de Sobradinho por determinação do próprio Márcio.

A polícia de Buritis (MG) pediu apoio à de Brasília. Por volta das 11h de ontem, agentes e delegados das duas cidades foram até a fazenda de Márcio, em Sobradinho. Lá, eles encontraram apenas 40 das 160 reses que os donos da fazenda roubada, a Santa Tereza, afirmam ter sumido. Os animais estavam presos numa espécie de curral. Os bezerros estavam sem a argola de identificação de propriedade. Dois caseiros da fazenda foram levados para a delegacia de Sobradinho (13ª DP) para interrogatório.

Fuga

No caminho para a propriedade de Márcio, os policiais se depararam com um Mercedez Benz de cor prata. O carro, segundo o delegado de plantão Luiz Gustavo Neiva Ferreira, deu marcha à ré e saiu pela outra porteira. Na delegacia, os caseiros da propriedade confirmaram que o veículo é de Márcio Passos. Segundo o depoimento deles à polícia, Márcio estava a bordo do carro no momento em que cruzou com as viaturas policiais. Ele estava acompanhado de homem de sua confiança, conhecido apenas por Grilo.

Assim que descobriu que a polícia estava à sua procura, Márcio Passos desapareceu. Mas enviou seu advogado, Kléber de Andrade Pinto, à 13ª DP (Sobradinho). O defensor do acusado também responde a processo por parcelamento ilegal de terras, segundo o delegado Ricardo Yamamoto.

Kléber Andrade afirmou que Márcio não foi informado oficialmente sobre o crime do qual é acusado e que por isso não havia se apresentado até aquele momento. Mas, em seguida, o advogado acabou revelando a estratégia da defesa. "A gente preferiu que ele não responda nada agora por causa do flagrante", admitiu Kléber Andrade.

"Se ele for preso em flagrante, o acusaremos de formação de quadrilha. Por enquanto, ele só responderá por receptação aqui em Brasília", explica Yamamoto. A pena para esses crimes varia de três a oito anos de prisão. Márcio Passos também foi indiciado pela Delegacia de Buritis (MG) pelo crime de furto qualificado.

Condenação criminal

As denúncias contra Márcio Passos começaram em 1995, quando a Câmara Legislativa criou a CPI da Grilagem. O relatório da comissão apontou o envolvimento dos irmãos Márcio e Pedro Passos em parcelamentos ilegais no DF. Em junho de 2000, o Ministério Público do DF denunciou os irmãos por formação de quadrilha e parcelamento ilegal de terras públicas na região de Sobradinho.

Em setembro de 2002, Márcio Passos teve a prisão preventiva decretada, mas conseguiu um salvo-conduto. Em 22 de maio de 2003, ele foi preso pela Polícia Federal, acusado de parcelar 221 hectares na QI 27 do Lago Sul. Ficou na cadeia por duas semanas. O Superior Tribunal de Justiça lhe concedeu habeas corpus.

Em 2003, o MPDF denunciou sete pessoas, entre elas Márcio Passos, por parcelamento ilegal entre as quadras 27 e 29 do Lago Sul. Com autorização judicial, os promotores monitoraram conversas telefônicas dos suspeitos de parcelar terras onde seria construído o condomínio Mansões Chácara do Lago, ao lado da Ponte JK. Em agosto de 2007, o juiz da 1ª Vara Criminal do DF, Roberval Belinati, condenou Márcio Passos e outros dois acusados de parcelar área entre as quadras 27 e 29 do Lago Sul. A pena é de quatro anos e três meses de reclusão em regime fechado, além de multa. Os três aguardam o julgamento da apelação em liberdade.

Sal para atrair o rebanho

Os donos da Fazenda Santa Tereza, Osmar Glauber de Brito, 40 anos, e Antonino Rodrigues de Souza Júnior, 38, começaram a desconfiar do vizinho Márcio Passos há uma semana. No dia 13, eles perceberam que haviam sumido 15 cabeças de gado. As pegadas dos animais iam em direção à Fazenda São Vicente, de propriedade de Márcio Passos.

No domingo passado, os cunhados Osmar e Antonino fizeram uma recontagem do gado e descobriram que o desfalque era maior. Ao vistoriar a propriedade de aproximadamente mil hectares para saber por onde os animais teriam passado, eles descobriram vários buracos na cerca que divide a terra com a propriedade de Passos. Encontraram sal de cozinha do lado da fazenda de Márcio. O alimento serve para atrair os bovinos. A confirmação das suspeitas de furto, no entanto, veio dos vizinhos. Os moradores contaram a Osmar e Antonino que na sexta-feira passada viram um movimento intenso de caminhões carregados de bois saindo da fazenda de Passos.

"Pedimos para ver se nosso gado havia passado para a fazenda dele, mas o Márcio não autorizou nossa entrada. Disse que só era permitido quando o vaqueiro dele estivesse presente", afirma Osmar. O gado é da raça nelore. A cabeça custa, em média, R$ 500. Apenas 40 foram recuperadas pela polícia. Das 160 reses furtadas, 80 foram foram sacrificadas no Frigorífico Nipobras de Planaltina. "Ele (Márcio) me pagou R$ 30 por cabeça abatida", afirma o dono, Virgilato Francisco Neto. A metade delas foi vendida para uma rede de açougues do DF, a Ki Carne. O proprietário, Carlos Roberto Daniele, 56, prestou depoimento na 13ª DP (Sobradinho). "Eu paguei R$ 52 na arroba de 15kg", afirma. Cada bovino saiu para ele ao preço de R$ 624, preço acima do valor de mercado. FONTE: Correio Braziliense ? DF



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