Famoso por fazer bem à saúde, o grão se torna matéria-prima para número crescente e diversificado de produtos
Adilson Camargo
A procura por produtos feitos à base de soja, principalmente as bebidas, aumentou 215% em quatro anos. Só neste ano, uma rede de supermercados de Bauru registrou crescimento de 30% na venda de sucos e leite de soja. A tendência, segundo comerciantes, é que as vendas continuem em alta porque a oferta de produtos que possuem soja em sua composição aumenta a cada ano. E as empresas descobriram que existe mercado para esses produtos.
Além do leite e do suco de soja, as prateleiras de supermercados estão cada vez mais cheias de outras opções, que vão desde creme de leite e biscoito até barras de cereais e chocolate à base de soja. E as novidades não param de surgir.
Na avaliação do gerente de compras de uma rede de supermercados, Eduardo Amaral, a expectativa é que esses produtos novos vendam tanto quanto o leite e os sucos porque, segundo ele, nota-se que as pessoas estão preocupadas com a saúde e não se importam de pagar um pouco mais por isso.
Na opinião da nutricionista farmacêutica Eliane Petean Arena, as pessoas estão consumindo mais os derivados da soja porque descobriram seus inúmeros benefícios. Segundo ela, estudos recentes comprovaram que a proteína presente na soja apresenta uma série de vantagens para o organismo.
Entre essas vantagens estão a redução dos níveis de LDL no sangue - o chamado colesterol ruim -, a prevenção da osteoporose (fragilidade dos ossos), a diminuição nos sintomas da menopausa e da tensão pré-menstrual.
Eliane lembra que uma pesquisa da Associação Americana do Coração mostrou que a ingestão diária de 20 a 25 gramas de soja (equivalente a dois copos de leite) reduz em até 33% a taxa de LDL no sangue.
Além disso, ela revela que a gordura da soja não obstrui as veias. Portanto, não provoca problemas cardiovasculares. O consumo diário da proteína presente na soja ajuda também a reduzir em 50% a incidência de câncer de próstata e de mama. Isso foi comprovado por pesquisas realizadas no Japão, Estados Unidos e Europa.
Outra propriedade da soja, segundo a nutricionista, é auxiliar na redução dos níveis de glicose no sangue. Por isso, é recomendada para quem tem diabetes. Na opinião de Eliane, a divulgação de todas essas vantagens transformou a soja em um produto muito requisitado pelos consumidores. E a indústria, percebendo isso, não pára de lançar produtos novos no mercado para atender a demanda.
De acordo com análise feita pelo instituto A/C Nielsen, especializado em pesquisa de mercado, de 2002 a 2006 a venda de produtos à base de soja cresceu 215%. Só no ano passado, o comércio brasileiro movimentou mais de R$ 480 milhões com esse tipo de mercadoria.
Os produtos derivados da soja são facilmente associados pelos consumidores a algo que faz bem para a saúde. É um apelo forte que seduz quem procura manter hábitos saudáveis. O que antes era consumido basicamente por quem tinha intolerância à lactose (presente no leite de vaca e derivados), hoje atrai todo tipo de consumidor.
A advogada Samira Bataiola Puls, 29 anos, por exemplo, foi influenciada pelo marido Marcelo, também advogado. "Ele está sempre comprando produtos derivados da soja e eu acabo indo na dele, porque é mais saudável. Embora eu goste mais dos outros sucos, eu tomo o de soja porque sei que faz bem à saúde", justifica. Além do suco, Samira diz ter trocado também o amendoim pela soja torrada. Ela é menos calórica e mesmo assim "cumpre" o papel de aperitivo perfeitamente.
Cotação pode trazer soja à região
Neste ano, a soja atingiu sua maior cotação nos últimos 33 anos. Somente no acumulado de 2007, teve uma valorização superior a 60% e não há indícios de que o preço vá cair tão cedo. Em um cenário como esse, plantar soja tornou-se um excelente negócio.
Não há na região praticamente nenhum alqueire de soja plantado, mas isso poderá mudar caso as cotações continuem em alta, o que parece muito provável. De acordo com o presidente do Sindicado Rural de Bauru, Maurício Lima Verde, a topografia da região favorece o cultivo da soja.
A colheita é toda mecanizada. Por isso, necessita que o terreno cultivado tenha superfície plana. E isso a região tem, segundo Lima Verde. Embora grande parte das terras esteja ocupada pela cana (outra cultura rentável), o presidente do Sindicato Rural afirma que ainda existem muitas pastagens que podem dar lugar à soja. "Se o preço (da soja) persistir nos níveis atuais, já no próximo ano ela deve surgir por aqui", acredita.
Garça é a cidade mais próxima de Bauru onde é possível encontrar algumas plantações. Mas segundo Lima Verde, a cultura da soja está mais disseminada nas regiões de Ourinhos e Assis.
O prognóstico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2008 para a safra de soja é de 59,3 milhões de toneladas, crescimento de 2% frente ao volume obtido em 2007.
O mercado deve seguir aquecido por uma combinação de fatores. Pesam a favor dos produtores de soja as incertezas sobre o tamanho da safra de grãos na América do Sul, redução dos estoques nos Estados Unidos e a grande demanda internacional.
De acordo com o último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o volume armazenado de soja naquele país será pouco superior a 5 milhões de toneladas no fim da safra 2007/2008. Isso significa uma redução de 10,5 milhões de toneladas em apenas um ano. Na outra ponta, a demanda segue aquecida, impulsionada pelo crescente apetite chinês e a perspectiva de aumento na produção de biodiesel em todo o mundo. Por isso, analistas dizem que o mercado tende a manter os preços da soja em patamar elevado.
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja. Na safra 2006/07, a cultura ocupou área de 20,687 milhões de hectares, o que totalizou uma produção de 58,4 milhões de toneladas. Os Estados Unidos, maior produtor mundial do grão, responderam pela produção de 86,77 milhões de toneladas de soja. A produtividade média da soja brasileira é de 2.823 quilos por hectares, chegando a alcançar cerca de 3.000 kg/ha no Estado de Mato Grosso, o maior produtor brasileiro de soja. FONTE: Jornal da Cidade de Bauru ? SP