Amanda Marques é estudante do 3º semestre do curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Pará (Uepa), e uma das universitárias que participou do Pro-campo, o primeiro Programa de Vivência Estudantil-Camponesa, executado pelo governo do Pará, sob a coordenação da Secretaria de Governo (Segov).
Acompanhada de outros sete bolsistas do Pro-campo, Amanda conheceu no último sábado (10) o assentamento João Batista II, no município de Castanhal, onde 120 famílias praticam agricultura familiar. Foi o primeiro contato de alunos do Pro-campo com uma comunidade assentada participante do programa.
"Antes do Pro-campo eu não imaginava que pudesse aprender tanto com essa comunidade. Aqui as crianças aprendem não só português e matemática, mas têm noções de relacionamento com o meio ambiente e com os movimentos sociais que a educação infantil na cidade não tem. Nós temos muito a aprender com eles", disse Amanda.
Os estudantes foram recebidos na comunidade ao som de Asa Branca, de Luiz Gonzaga, tocado em flautas pelas 30 crianças do assentamento que têm aulas de música. Desenhos infantis pendurados num varal na sala de aula mostram o dia-a-dia dessas crianças: pessoas, cães, plantações, criação de galinhas e de outros animais são traçados e pintados em folhas de papel.
Primeira a se dirigir à sala onde as crianças tocavam, Amanda acompanhou a dinâmica da aula e conversou com alguns dos filhos e netos dos agricultores assentados.
Por meio do Pro-campo, o caminho de estudantes como Amanda, futura pedagoga que estudou sempre em colégio particular, começa a se cruzar com o caminho de crianças como Alex Neves, 12 anos, estudante da 5ª série do ensino fundamental. Alex mora no assentamento com a avó e mais três irmãos. O pai faleceu e a mãe mora no município de Marabá com outro companheiro.
As aulas de flauta fazem Alex sonhar com o futuro. "Vou ser professor de música quando crescer", disse o garoto. O objetivo do menino fica mais concreto diante do empenho que as crianças demonstram. "Em um mês de aula os alunos já mostraram que têm um potencial elevadíssimo pra música, não deixam a dever em nada para meus alunos da cidade", informou o professor Carlos Ferreira, 32 anos, formado pelo Conservatório Carlos Gomes, em Belém.
Como todas as crianças do "João Batista II", Alex vai de manhã para a escola e, à tarde, ajuda a avó no lote onde plantam feijão e mandioca, e criam galinhas e porcos. Dessas e de outras culturas, como a plantação de macaxeira, criação de gado bovino, caprinos e ovinos, as famílias assentadas retiram seu sustento e abastecem o mercado interno de Castanhal e de outros municípios.
Visita semanal
As caravanas do Pro-campo acontecerão semanalmente, aos sábados, alternando os locais visitados entre o assentamento João Batista II e as comunidades ribeirinhas de Abaetetuba. Esses são os locais que receberão os 120 universitários participantes dessa primeira edição do programa.
A cada visita, oito estudantes sorteados durante a semana vão participar da caravana, que visa apresentar a comunidade aos universitários, onde eles irão morar durante duas semanas do mês de julho, e também planejar esse período de vivência.
A primeira visita ao assentamento João Batista II foi bem avaliada pela coordenação do programa. "Os estudantes conseguiram se sentir à vontade no assentamento. É isso que queremos, que essa realidade se torne parte da vida deles e que se sensibilizem com ela, para assim unir todos os seguimentos na construção de uma terra de direitos", afirmou o coordenador do Pro-campo, Daniel Garza.
Durante a visita, os estudantes ouviram um pouco da história do assentamento e das motivações das famílias que lá estão, as quais até hoje lutam por melhorias. "Nós conseguimos ocupar essa área em novembro de 1998, mas só dois anos mais tarde ela foi considerada improdutiva e desapropriada para a reforma agrária. Depois disso, ainda lutamos por condições adequadas para produzirmos. Veio a energia elétrica pelo programa Luz para Todos, do Governo Federal, a escola de ensino infantil, o posto de saúde, tudo conquistado com muita luta", contou o agricultor Manoel Baía, que mora e trabalha no assentamento e representa a Associação dos Produtores e Comerciantes do João Batista II (Aprocjob).
Outro agricultor, Fernando Santiago, falou de uma das metas no assentamento. "Nosso maior sonho, hoje, é construir uma escola-pólo na região de Castanhal, que possa receber as crianças não só do assentamento mas de localidades próximas, e que promova, além de uma educação formal, uma educação que forme as crianças nas bases dos movimentos sociais", informou Fernando.
Espaço aberto
Para Gracilda Silva, agricultora e representante da Associação de Agricultores do João Batista II (Acajob), as expectativas da comunidade em relação ao Pro-campo são as melhores. "A governadora Ana Júlia tem aberto espaço para a gente discutir a reforma agrária e a situação no campo. O Pro-campo é mais uma oportunidade de parceria para conseguirmos melhorar o nosso assentamento", ressaltou.
Depois das palestras, os universitários estiveram em casas de agricultores e conversaram com alguns deles. "A gente está aqui de portas abertas pra receber vocês. Podem vir sempre que quiser", disse o agricultor Ildo Souza, mais conhecido como "Maranhão".
No próximo sábado (17) será feita a primeira visita às ilhas de Abaetetuba. Todos os 120 universitários participantes do programa passam pelo período de formação, com aulas e outras atividades, três vezes por semana até o mês de junho.
De 12 a 27 de julho os estudantes morarão em casas de famílias do "João Batista II" ou dos ribeirinhos de Abaetetuba. Após essa experiência, a idéia é que eles contribuam com a transformação da realidade do campo paraense, aproximando ainda mais a universidade e a produção do conhecimento desses cenários.
O Pro-campo faz parte da política de valorização e apoio às comunidades rurais e à agricultura familiar do governo estadual. No mês de março, a governadora Ana Júlia Carepa assinou 15 convênios no valor de R$ 3,945 milhões, recursos do Ministério do Desenvolvimento Agrário, para contribuir com o fortalecimento da infra-estrutura da agricultura familiar.
Para até o final deste semestre está prevista a criação de, no mínimo, cinco assentamentos rurais estaduais, que se somarão aos mais de 890 já existentes sob a responsabilidade do governo federal. Por meio do programa Territórios da Cidadania, serão destinados R$ 1,2 bilhão a comunidades rurais do Pará este ano, com ações de desenvolvimento rural e garantia de direitos sociais.
FONTE: Governo do Estado do Pará - 12/05/2008 19:56