A estratégia da dona-de-casa brasileira deu errado. Com o preço do feijão carioca mais caro, o consumidor trocou de produto: passou a comprar mais lentilha ou feijão preto (típico para feijoada). Resultado: elevou a demanda por um tipo cuja produção é menor. A maior procura provocou aumento nos preços. Hoje, a saca de feijão preto custa mais que a de carioca. A média no mês de maio está em R$ 155,88 a saca do preto ante R$ 150,28 a saca do carioca. No início do ano, o carioquinha era R$ 112,38 mais caro. De janeiro a maio, o valor cobrado pelo feijão preto aumentou cerca de 20%, enquanto o do carioca caiu aproximadamente 40%. Apesar disso, as cotações atuais dos dois produtos são as maiores desde 2001.
"Era natural que isso acontecesse", diz o administrador da Bolsinha do Feijão, Valdemar Ortega. Segundo ele, como o preço do feijão preto não estava subindo nos mesmos patamares que o carioca, o consumidor trocou de produto. A estimativa da Unifeijão é que o consumo de feijão preto tenha saído da casa dos 15% para 20% do total de compras do grão.
O analista Rafael Poerschke, da Safras & Mercado, diz que a oferta dos dois produtos está restrita, pois a safra atrasou por causa do clima. Mas, segundo ele, em junho já estará no mercado a segunda safra do grão: atualmente cerca de 60% colhida no Paraná e 15% no Rio Grande do Sul, principais produtores. A média nacional é de 30%.
De acordo com a consultoria, a segunda colheita do cereal somará 1,39 milhão de toneladas, 30,5% superior à do ano passado. Isso porque os preços mais elevados, desde meados de 2007, estimularam o plantio, que aumentou. "Os dias de preços altos estão contatos", assegura o analista.
Opinião diferente tem Ortega. Isso porque, segundo ele, no inverno aumenta o consumo de feijão e a safra ainda vai demorar a chegar ao mercado. "Não há estoque. Normalmente os produtores de feijão preto guardam o seu produto para comercialização no inverno, quando o consumo aumenta. Mas o consumo chegou antes", explica. De acordo com ele, o preço só não ultrapassou antes porque o País tem importado o grão da China. No primeiro trimestre, o Brasil comprou do exterior 24,1 mil toneladas de feijão, volume equivalente a 30% de tudo o que foi internalizado em 2007.
Segundo levantamento da Safras & Mercado, a última vez que o valor do feijão preto superou o do carioquinha foi em 12 de agosto de 2005: uma diferença de R$ 0,50 por saca. Na época, o carioca custava R$ 85 e o preto, R$ 85,50 a saca. A diferença a favor do feijão preto se manteve até 23 de janeiro do ano seguinte, quando então o carioca saiu a R$ 79 e o preto, a R$ 76,50 a saca.
Poerschke explica que, naquela época, as duas primeiras safras do feijão preto foram ruins - quebra em função de clima - e, como o volume do grão preto é maior nas duas primeiras, houve escassez. Em janeiro daquele ano, os estoques do governo eram de 11,3 mil toneladas. Para atender à demanda, foram vendido e, em agosto, caíram para 1,07 mil toneladas. "O inverno chegou sem feijão suficiente e sem estoque para repor, além de uma safra cheia de carioca", explica Poerschke. Ele lembra que a situação atual é parecida, mas não espera diferença permanente. FONTE: Gazeta Mercantil - 19/05/2008