Uma nova aliança a favor do meio ambiente foi lançada ontem em São Paulo. Desta vez, o foco da discussão é o cerrado, segundo maior bioma do Brasil (atrás da Amazônia) e reconhecidamente marginalizado pelas políticas públicas de proteção.
Não que ele será efetivamente protegido - há um longo caminho para isso. Mas trata-se da primeira iniciativa elaborada em conjunto por organizações ambientais e um peso-pesado da indústria para elevar a conscientização de comunidades e produtores da região, o que é um primeiro passo.
Por trás do movimento "Aliança BioCerrado" estão a gigante Bunge, a Conservação Internacional (CI) e a ONG goiana Oréades. "Mas não queremos a paternidade, queremos mais parceiros", afirma Adalgiso Telles, diretor corporativo da Bunge.
A idéia é criar um canal de troca de experiências e disseminação de informações para viabilizar projetos sustentáveis no cerrado, uma lacuna já preenchida por alianças como a da Mata Atlântica, Amazônia e caatinga.
"Cerca de 75% das propriedades do cerrado têm problemas de cumprimento da lei e 59% não tem interesse imediato em resolver a situação", diz Renato Moreira, da Oreádes. "Eles acham que nunca serão penalizados e apostam na deficiência da fiscalização".
Monteiro falava para uma pequena e atenta platéia de representantes de empresas como Klabin, Unilever, Nestlé e Mc Donald's e interessados no bioma.
São essas pessoas, diz Telles, que podem condicionar suas compras à sustentabilidade, tal como com a moratória da soja, em 2006. "Não pensamos em moratória a quem desmatar o cerrado. Antes, precisamos convencer os stakeholders".
Tacitamente, a aliança atesta a inevitabilidade da expansão da agricultura pelo que restou do cerrado. Com a lupa voltada à proteção da Amazônia e preços de grãos em alta, o campo se voltou com ambição ao bioma. Os produtores de grãos alegam que entrariam só nos 90 milhões de hectares já abertos. Mas há dúvidas. Nas últimas décadas, o agronegócio ajudou a desmatar quase 80% do cerrado. FONTE: Valor Econômico ? SP