Pela primeira vez neste ano, os preços do leite pagos aos produtores do país recuaram. O produto entregue em setembro pelos pecuaristas aos laticínios - pago em outubro - teve queda de 6,51% sobre o mês anterior, segundo levantamento realizado pela Scot Consultoria em 17 Estados brasileiros. O preço médio ficou em R$ 0,718 o litro ante R$ 0,768 pago em setembro. No ano, porém, o leite ainda acumula alta de 52,44% ao produtor.
De acordo com Cristiane Turco, analista da Scot, a forte queda nas cotações do leite ao produtor já era esperada e foi motivada pelo recuo expressivo dos preços do longa vida no atacado desde o último mês de agosto.
"O consumo de leite caiu porque os preços subiram muito. O atacado e o varejo já vinham recuando", observou. As redes varejistas diminuíram as compras e pressionaram as indústrias, acrescentou. Segundo a Scot, desde agosto, os preços do longa vida no atacado tiveram perda de 35%. A alta do leite vinha sendo estimulada pela entressafra e pela valorização do produto no mercado internacional.
O recuo dos preços não tem nenhuma relação com os recentes episódios de adulteração do leite por cooperativas de Minas Gerais, já que a pesquisa foi feita antes das denúncias. Além da queda no consumo, a melhora na oferta de leite em parte das regiões produtoras também ajudou a pressionar os preços ao produtor, de acordo com Cristiane Turco.
A analista acredita que os episódios de adulteração do produto podem ter "alguma influência" no consumo e admite que os preços aos pecuaristas podem ser afetados. Mas disse que "é difícil prever se vai piorar".
Segundo ela, mesmo antes das denúncias, a expectativa do setor já era de queda para o pagamento referente ao leite entregue em outubro por conta do aumento da produção devido à entrada da safra. Um eventual impacto no consumo poderia, então, reforçar a queda dos preços.
O levantamento da Scot Consultoria também mostrou que as cotações do leite no spot (produto comercializado entre as indústrias) caíram de forma expressiva em outubro sobre o mês anterior. O recuo foi de 16,96%, para R$ 0,71 por litro, em média. A cotação é a menor em seis meses e é inferior ao preço pago ao produtor. Isso não aconteceu entre janeiro e setembro deste ano, quando as cotações no spot ficaram, em média, 26,5% acima do valor recebido pelo produtor, segundo a consultoria. FONTE: Valor Econômico ? SP