Áreas de grãos se destacam; valorização do hectare chega a 16,5% em 12 meses e a 26% em três anos
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O agronegócio brasileiro vive um momento raro, puxado por preços internacionais recordes e volumes internos de produção nunca atingidos.
Melhor ainda, os bons ventos sopram para todos os setores, de grãos e produção de carnes a reflorestamento.
Esse cenário altamente favorável ao agronegócio puxa os preços da terra, que voltaram a registrar novas valorizações no primeiro bimestre do ano. É o que mostra o mais recente estudo do Instituto FNP sobre o setor de terras no país.
Nas avaliações de José Vicente Ferraz e Jacqueline Dettmann Bierhals, engenheiros agrônomos e analistas do Instituto FNP, o início deste ano vem sendo marcado por grandes eventos no mercado brasileiro, com investimentos tanto de empresas nacionais como de internacionais.
Em janeiro e fevereiro, o preço médio da terra foi a R$ 3.998 por hectare no Brasil, com valorização acumulada de 26,3% nos últimos 36 meses. Em um período mais curto -de 12 meses-, a alta foi de 16,5%.
Segundo os analistas do IFNP, as terras para cultivo de grãos são as que mais têm movimentado o mercado, principalmente nas fronteiras agrícolas. E os preços estão bastante elevados, principalmente porque a soja é um dos patamares de negociação.
Como a oleaginosa vive momentos de preços recordes tanto no mercado interno como no externo, acaba empurrando para cima o valor das terras destinadas ao grão. Essa disparada dos preços faz com que haja poucos negócios à vista.
Além de incentivos internos para a valorização, as áreas de grãos também são disputadas por investidores estrangeiros, principalmente de fundos. Mesmo que esses negócio.s acabem não se realizando, a própria prospecção torna o mercado especulativo.
A presença de estrangeiros na compra de terras começa a ser mais bem avaliada, inclusive com audiência pública no Senado, como a que ocorreu no início deste mês. O Brasil não dispõe de uma legislação própria sobre a aquisição de terras por estrangeiros, mas a tendência é a ampliação das restrições, segundo analistas.
O setor de terra vive outra preocupação: o firme combate ao desmatamento da floresta amazônica. A divulgação de uma lista em janeiro, pelo Ministério do Meio Ambiente, de 36 cidades que mais desmataram, provocou a paralisação dos negócios no médio-norte de Mato Grosso e no Pará.
Outro fator de movimentação no setor de terras é a intensificação de reflorestamentos empresariais em Mato Grosso do Sul. No curto prazo, com a consolidação do setor de celulose e papel e da demanda maior por carvão, devido à entrada de uma siderúrgica na região, devem ser intensificadas as negociações de terras.
Ao contrário do setor de grãos, o de cana-de-açúcar segue em ritmo lento. Após ter puxado as valorizações nos últimos anos, a procura por terras para cana diminuiu devido à redução de preços do açúcar e do álcool. As usinas pisaram no freio nos projetos.
O que mais sobe
O estudo do IFNP mostra que as terras que mais se valorizaram nos últimos 36 meses foram as destinadas à agricultura, na região de Bauru (SP). Procurado devido à alta produtividade em grãos, o hectare dessas terras subiu para R$ 19.030, contra R$ 8.223 no bimestre março/abril de 2005.
Entre as maiores quedas, o IFNP aponta as terras destinadas à laranja, em Bebedouro (SP). Nessa região, o hectare de terra recuou de R$ 22.727 em março e abril de 2005 para R$ 17.678 neste ano.
As terras mais valorizadas continuam sendo as de Campinas (SP). Um hectare para fruticultura custa R$ 22.436. Nos últimos 12 meses, as maiores altas ocorreram nas regiões Norte (26,9%), Centro-Oeste (23,6%), Nordeste (21,3%), Sul (16,3%) e Sudeste (11,4%). FONTE: Folha de São Paulo ? SP