"É um bom momento, até como resposta a nível mundial, e com todos os temores que a saída da Marina provocou no Brasil e, sobretudo, no planeta", afirmou ele, nas primeiras horas de domingo, no desembarque do Aeroporto Internacional Tom Jobim. E completou, no seu conhecido tom debochado: "Vários países que destruíram suas florestas estão agora preocupados com a nossa". Numa sinceridade cortante - mas não surpreendente -, Minc disse que sua antecessora, a senadora Marina Silva (PT-AC), e o ex-governador do Acre, Jorge Viana - que se negou a sucedê-la - são mais preparados do que ele para o cargo, mas que aceitou encarar o desafio por acreditar na causa e por pressão de seu atual chefe, o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB). Minc deixará a Secretaria Estadual do Ambiente. Depois de ter lançado o nome de Jorge Viana para coordenar o PAS - proposta descartada pelo ex-governador - , ele sugere agora que Marina Silva assuma a gestão de um fundo internacional para captar recursos internacionais para a Amazônia.
Minc, que chegou a dizer que só era ministro "em tese", admitiu que vai aceitar o convite do presidente para o cargo e que levará ao encontro com ele, marcado para as 17h30 de hoje, no Palácio do Planalto, dez propostas - não imposições - para uma gestão eficiente. Antes de selar seu destino com o presidente, vai se encontrar com a ex-ministra Marina Silva - para quem trouxe, de Paris, uma blusa de seda verde. "Ainda estou em estado de choque", admitiu.
Dono da Amazônia A mudança no Ministério do Meio Ambiente gerou curiosidade internacional. Uma reportagem publicada na edição de ontem do jornal americano The New York Times afirma que causa preocupação no Brasil a sugestão feita por líderes globais de que a Amazônia não é patrimônio exclusivo de nenhum país. No texto intitulado "De quem é esta floresta amazônica, afinal?", assinado pelo correspondente do jornal no Rio de Janeiro Alexei Barrionuevo, o jornal diz que "um coro de líderes internacionais está declarando mais abertamente a Amazônia como parte de um patrimônio muito maior do que apenas das nações que dividem o seu território".
DISCURSO RADICAL
Arrogância "Arrogância seria imaginar que eu pudesse desempenhar uma missão - da qual tenho realmente dúvidas se estou à altura - sem ter condições de trabalho. Aqui no Rio, só pude ser um bom secretário porque o governador me deu força política. Participo do Conselho Econômico do Estado do Rio e não há decisão econômica da qual não participe. Isso me permitiu fazer licenciamentos rápidos e conseguir compensações para algumas obras. Se o Lula realmente quer um ministro que dialogue com os setores econômicos, com os ruralistas, precisa dele forte."
Marina Silva e Jorge Viana "O Jorge Viana tem muito mais condições de ser ministro do que eu. Ele seria o que quisesse no ministério. Já a Marina (Silva) foi a melhor ministra do Meio Ambiente da América Latina. Ela é minha ídala (sic)."
Mangabeira Unger "O Mangabeira Unger (ministro de Assuntos Estratégicos) é um grande intelectual, um grande formulador, e o presidente atribuiu a ele a idéia de pensar o plano (Programa Amazônia Sustentável) para o futuro globalmente. E isso não é uma coisa má."
Governador Blairo Maggi "Em Paris, disse que, se deixassem, ele plantava soja até nos Andes. Ele ficou muito irritado. Como sou um ambientalista, e vou ser duro nessas áreas, não espero ser aplaudido de pé. Quanto à expressão em si, quis dizer que todos devem ter limite. E é claro que eu poderia também dizer, para contentar um pouco a turma do agrobusiness, que nós também, os ecochatos de plantão, temos que ter bom senso. Se os ambientalistas radicais fossem muito fortes há 80 anos, provavelmente não haveria Pão de Açúcar e Corcovado, que foram feitos em costão rochoso."
Preocupação mundial "O afastamento da Marina levou a uma sinalização internacional que foi a seguinte: a Amazônia está indefesa. O mundo quer saber quais as garantias de que a Amazônia, sem sua principal guardiã, não será devastada. Então, eu, que não pedi para ser ministro e não queria ser ministro, tive que explicar porque a Amazônia não ia virar carvão. E não vai virar carvão porque não só vamos manter a política da Marina, e boa parte dos quadros dela, como vamos fazer outras coisas que ela não fez."
Pastagem na Amazônia "A Amazônia é um grande banco genético. Transformar esse banco genético em pastagem de baixa produtividade não é botar a ecologia contra o desenvolvimento econômico, é botar a ecologia contra a barbárie, a regressão econômica."
Conciliação ou confronto? "Não costumo transigir. Quando é não, é não. Mas também sou um homem de diálogo. Como ecoxiita de plantão, aquele que vive infernizando a vida das empresas poluidoras, surpreendi empresários colocando um representante da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio) na Ceca (Comissão Estadual de Controle Ambiental), que decide sobre licenciamentos ambientais, e também na Câmara de Compensação Ambiental, que era controlada só pelo secretário, dando margem a práticas pouco republicanas. Para ser duro, não é preciso ser sectário. A regra deve ser dura, mas ouvindo todos. Dito isso, quem não cumprir será tratado como criminoso ambiental."
Exército nos Parques Nacionais "A primeira sugestão que vou levar ao presidente é repetir o que fizemos aqui no Rio com os guarda-parques nas Unidades de Conservação. Tínhamos unidades de 30 mil hectares cuidadas por uns poucos fiscais do IEF (Fundação Instituto Estadual de Florestas). Três Picos, que é o maior, tem 46 mil hectares e quatro pessoas tomando conta. Aí criamos o guarda-parque, destacamento dos Bombeiros lotado dentro das unidades de conservação. Vou propor isso para o Exército, que se aloque alguns regimentos para funcionar dentro dos grandes parques nacionais, inclusive no entorno deles, e também das reservas extrativistas. Basicamente na Amazônia. Claro que é preciso conversar com as Forças Armadas e esse é um papel do presidente."
Desmatamento Zero "O PAS é um bom plano. Mas pretendo complementá-lo com outro plano, que foi abandonado, chamado de ?Desmatamento zero em sete anos?, que tem entre seus autores o atual presidente do BNDES (Luciano Coutinho), portanto não é uma coisa sem pé, nem cabeça. Vou propor ao presidente que a gente incorpore aspectos desse plano. É um bom momento, até como resposta a nível mundial, e com todos os temores que a saída da Marina provocou no Brasil e, sobretudo, no planeta."
Licenciamentos a jato "A Petrobras achou que a aprovação do licenciamento do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) demoraria um ano e meio. Demos a licença em seis meses. E nunca houve tanto rigor. A Petrobras terá que plantar seis milhões de árvores nas nascentes de rios. Nenhuma gota de poluição vai parar na Baía de Guanabara. É possível ser mais ágil e, ao mesmo tempo, mais rigoroso. É possível ficar três anos enrolando com papelada, carimbo e burocracia e ser um licenciamento frouxo. Isso encheu os olhos do presidente. Só que ele não sabe o resto da história. Para fazer isso tudo tem que ter autonomia, poder, dinheiro."
ICMS Verde na Amazônia "Com as adaptações necessárias, podemos adotar no país o que a gente fez com a criação do ICMS Verde no Rio. Aqui, o prefeito que melhor defende o meio ambiente ganha mais recursos. Quem não era ecologista, virou rapidamente."
Proibição da compra de madeira do desmatamento "Vou propor ao Lula que não se compre um armário, uma estante, uma cadeira em qualquer escola pública do país sem que haja certificação de origem da madeira para garantir que ela não venha do desmatamento da Amazônia e da Mata Atlântica."
Energia "Nossos padrões de emissão - o máximo admissível de poluentes atmosféricos - são muito frouxos em relação a outros países da Europa. No Rio, os padrões que exigimos para licenciamento são mais rigorosos que os padrões Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que valem para todo o país. Vou querer também que a nível nacional, para vários poluentes importantes, tornemos a legislação mais rigorosa."
Ministro "em tese" "Formalmente, sou secretário do Meio Ambiente do Rio de Janeiro. Imagino que na conversa com o Lula, e também com a Marina, tudo andando bem - a essa altura do campeonato já estou imaginando que andará -, vamos marcar o dia para eu formalmente ser empossado. Já falei com o Lula, e por telefone mesmo coloquei uma série de questões, que ele achou boas. Mas não queria ser ministro. O Sérgio Cabral tinha pedido para mim, de pé junto, para não ser ministro. Para mim, eu não era, não queria ser, não seria ministro. Estava bem aqui no Rio. E expliquei que quem conhecia era a Marina, o Jorge Viana. Se temos dificuldade de conter a favelização aqui no Rio, o que dizer do desmatamento num lugar que é maior que a Europa. Mas resolvi aceitar essa simples e fácil missão (risos)."
FONTE: Correio Braziliense - 19/05/2008