André Alves, MANAUS
A Polícia Militar do Amazonas usou a força para expulsar, ontem pela manhã, um grupo de sem-teto que havia ocupado uma faixa de área privada na comunidade Lagoa Azul, na zona rural de Manaus. Metade do grupo de quase 200 invasores era formada por indígenas.
A área, com 180 mil metros quadrados, fica no quilômetro 11 da Rodovia Estadual AM-010 e estava ocupada havia três meses. Duas semanas atrás a PM já tinha cumprido mandado de reintegração de posse naquela mesma área, expedido pelo Tribunal de Justiça do Amazonas. Na ocasião, a ação se deu de forma pacífica.
Ontem, porém, os indígenas, previamente avisados da operação, decidiram se armar com arcos e flechas. Enfrentaram do outro lado um batalhão da PM com 150 homens, munidos com bombas de gás lacrimogêneo.
A PM cercou os invasores. Houve correria e choro. Mães com crianças no colo gritavam. Alguns poucos indígenas chegaram a atirar flechas contra os policiais, mas o aparato da PM, com a ajuda de cães e cavalos, era muito superior.
Um trator foi utilizado para derrubar os barracos que tinham sido construídos pelos invasores na área. Ao fim da operação, que durou duas horas, 17 pessoas foram detidas, entre elas, quatro índios. Arcos, flechas, terçados e facas também foram apreendidos.
AUSÊNCIA
Segundo o comando da Polícia Militar do Amazonas, membros da Polícia Federal, do Ministério Público Estadual e da Fundação Nacional do Índio (Funai) foram convidados para acompanhar a ação. Nenhuma das instituições, no entanto, teria enviado representantes.
O cacique Luiz Sateré, de 49 anos, da etnia sateré-mawé, prometeu denunciar o que chamou de "excessos da PM" à Câmara Municipal de Manaus, à Assembléia Legislativa do Estado e ao Congresso Nacional. Segundo o líder indígena, a PM agiu com truculência e não mostrou aos indígenas o mandado de reintegração de posse.
"Chutaram uma grávida como chutam uma bola", disse Sateré. "Deram coronhadas nos nossos guerreiros porque eles tentaram se defender."
De acordo com o cacique, a área, cuja propriedade é legalmente atribuída ao engenheiro civil Mitishu Inoue, já foi posse indígena. Não existem documentos, no entanto, que comprovem esse fato.
O chefe das Rondas Ostensivas Cândido Mariano (Rocam), major Walter Cruz., um dos comandantes da operação, negou que a PM tenha agido com truculência. "Fizemos tudo dentro da legalidade", afirmou.
O major também disse que os invasores haviam sido avisados da operação quase dois meses atrás: "Estavam avisados que a reintegração iria acontecer. Há duas semanas foi feita a primeira reintegração e eles retornaram ao local usando pessoas que se diziam indígenas."
O major disse que foi necessário agir "com rigor" para cumprir a ordem legal. "Algumas pessoas tentaram nos enfrentar e usamos instrumentos não letais."
O representante policial desconfia da afirmação de que os invasores eram indígenas. "Não posso garantir que quem usa cocar na cabeça e se pinta de índio seja realmente indígena". FONTE: Estado de São Paulo ? SP