Após três meses de investigações, a Polícia Federal deflagrou ontem a operação "Ouro Branco", com o objetivo de combater crimes contra a saúde pública e relações de consumo. A Cooperativa de Produtores de Leite do Vale do Rio Grande (Copervale), com sede em Uberaba, e a Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro (Casmil), da cidade de Passos, no Sul de Minas, tiveram as produções de leite longa vida integral lacradas pela Justiça. As duas cooperativas produzem juntas aproximadamente 450 mil litros de leite por dia, dos quais 150 mil pertencem à cooperativa uberabense.
O trabalho foi realizado a partir de 6h desta segunda-feira, em conjunto com os Ministérios Públicos Federal e Estadual, e contou com a participação de 200 agentes federais, os quais cumpriram 29 mandados de prisão e 22 de busca e apreensão nas duas cidades, expedidos pela Justiça Federal.
As investigações confirmaram denúncias de que as cooperativas misturavam substâncias não permitidas ou permitidas, porém, além da dosagem máxima admitida por lei, ao leite integral de caixinha, tornando o produto impróprio para consumo humano. O laudo do exame providenciado pela PF apontou excesso de produção alcalina em uma mistura que representa 10% do leite (aumentando a quantidade) e conteria soda cáustica, ácido cítrico, citrato de sódio, água, sal e açúcar.
Além disso, existe a suspeita da utilização de peróxido de hidrogênio (água oxigenada), com o objetivo de recuperar leite já em processo de deterioração, e ao mesmo tempo enganar os chamados exames de crioscopia, que analisam o alimento antes da liberação para o consumo. Segundo o promotor da Defesa do Consumidor e Saúde, João Vicente Davina, a suspeita é de que a fraude estivesse sendo cometida há cerca de três anos.
O Ministério Público determinou a apreensão cautelar de todo o estoque existente nos estabelecimentos comerciais que revendem o leite integral, com o apoio do Procon Estadual. Além do leite marca Centenário, não devem ser comercializadas as marcas Calu e Parmalat, que adquirem o produto da Copervale. Os estoques foram lacrados por dez oficiais do MP Estadual, e o proprietário de cada estabelecimento deixado como depositário fiel dos produtos, até que novas análises fiquem prontas.
Em Uberaba foram presas 19 pessoas no período da manhã, incluindo três diretores da Copervale: Luiz Gualberto Ribeiro Ferreira, Luiz Ricardo Freire Resende e José Afonso de Freitas. Outros 14 presos são funcionários da cooperativa, dos quais 13 acabaram sendo liberados ontem mesmo. À tarde, os agentes cumpriram mais dois mandados de prisões, em desfavor de funcionário do Ministério da Agricultura e responsável pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), que autoriza a venda do leite, e de Pedro Renato Borges, engenheiro químico da empresa. É investigada a possível participação de outras pessoas na fraude.
De acordo com o delegado chefe da PF em Uberaba, Davidson José Chagas, as prisões temporárias de cinco dias podem ser revogadas, prorrogadas ou até mesmo transformadas em preventivas. FONTE: Jornal da Manhã ? SP