Gustavo Paul - O Globo; Jornal Nacional
BRASÍLIA E RIO - Uma semana depois de desmontada a fraude do leite adulterado, a Polícia Federal fez, nesta segunda-feira, a descoberta de outro esquema criminoso, ao apreender, também em Uberaba (MG), 16 toneladas de queijo com validade vencida. O produto era comprado em Goiás, reembalado e vendido para grandes supermercados do país com data de validade vencida ou próxima do vencimento. O dono da empresa, cujo nome não foi divulgado, está foragido. A região é a mesma em que foi descoberto o esquema do leite.
Em Brasília, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, anunciou medidas para aperfeiçoar a fiscalização sobre a produção de leite no Brasil. A principal das medidas, segundo ele, é o fim da presença de um só fiscal por empresa produtora de leite. A partir de agora, a fiscalização será feita por auditorias compostas por, no mínimo, três servidores, sendo dois médicos veterinários e um agente de inspeção sanitária, que poderão ficar o tempo que for necessário para averiguar toda a produção de laticínio. Atualmente, o Brasil tem 200 usinas de beneficiamento de leite voltadas exclusivamente para a produção de leite UHT. A auditoria será feita de forma aleatória e a intenção, segundo Stephanes, é de realizá-la pelo menos uma vez por mês.
- Esperamos que a nova fiscalização aumente a eficiência - disse Stephanes. - O sistema foi projetado para inibir fraudes como as detectadas em Minas, acrescentou, na primeira manifestação sobre o caso.
A ação começa a ser implementada, nesta terça-feira, em Minas e, gradativamente, em todo o país a partir da semana que vem. O foco será nos grandes produtores, que incluem ainda Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Outra medida do ministério é a intensificação de coleta de amostras de leite UHT de todas as marcas disponíveis, submetendo-as a análise laboratoriais para a avaliação da conformidade com os regulamentos técnicos. Pelo novo modelo, as fraudes serão encaminhadas ao Ministério Público. As empresas, a partir de agora, segundo o ministro, serão responsabilizadas criminalmente.
Boa qualidade
Durante a coletiva, o ministro Stephanes, defendeu a qualidade do leite brasileiro, apesar da revelação de um esquema de adulteração do produto pela Operação Ouro Branco da Polícia Federal.
- Eu recomendo sem dúvida alguma que se beba leite no Brasil. O fato de duas dúzias de pessoas desonestas e vigaristas terem adulterado um produto criou a dúvida em relação à qualidade do produto brasileiro, mas ele continua sendo de ótima qualidade -afirmou o ministro.
Análises
Apesar de o ministro da Agricultura recomendar o consumo de leite, garantindo que o produto não traz riscos à saúde, as irregularidades cada vez mais aparecem, ao mesmo tempo que a produção cresce. De acordo com o Ministério da Agricultura, de 355 amostras de leite industrializado, analisadas de janeiro a agosto, 59 estavam fora do padrão. Foram encontrados água, amido e até coliformes fecais acima dos níveis aceitáveis. O ministério abriu investigação e informou que as empresas que produziam o leite irregular foram multadas e o produto retirado do mercado.
Riscos à saúde
Um relatório sigiloso do Ministério Público Federal (MPF), cujo conteúdo foi divulgado nesta segunda-feira, confirma a contaminação do leite adulterado em cooperativas de leite do sul de Minas Gerais com peróxido de hidrogênio, que é conhecido como água oxigenada, e diz que o produto poderia causar danos à saúde.
Neste domingo, o autor das denúncias de fraude contra as duas cooperativas de leite mineiras revelou os detalhes da adulteração. Em entrevista exclusiva ao programa "Fantástico", da Rede Globo, ele contou que testemunhou tudo em julho deste ano. Ex-funcionário de uma das empresas acusadas, disse que descobriu que botavam água oxigenada e soda cáustica no leite em conversa com os próprios colegas. FONTE: O Globo ? RJ