A Petrobras espera definir nos próximos meses os últimos detalhes para a construção de sua terceira fábrica de matérias-primas para adubos no país. Anunciado em 2005, o projeto inicialmente previa investimentos da ordem de US$ 700 milhões. Como de lá para cá a demanda global pelo insumo explodiu e os custos subiram, explicou Fernando Martinez, gerente-geral de fertilizantes da estatal, hoje o aporte na nova unidade está estimado em US$ 1,5 bilhão.
Uma vez definida a localização da planta (as regiões Sudeste e Centro-Oeste foram apontadas como alternativas no passado) e iniciadas as obras, serão três ou quatro anos até o começo da produção comercial. Serão 1 milhão de toneladas de uréia e 760 mil de amônia por ano destinadas ao mercado de adubos, o que mais do que duplicará capacidade e vendas da divisão da Petrobras.
Com Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados instaladas na Bahia (Fafen-BA) e em Sergipe (Fafen-SE), a estatal vendeu, no total, 700 mil toneladas de uréia e 235 mil de amônia em 2007. O faturamento da divisão alcançou R$ 840 milhões, 15% mais que em 2006, conforme balanço publicado no Valor no último dia 10. "Em 2008 o mercado ainda estará aquecido, mas nem tanto quanto no ano passado", diz Martinez.
Em 2007, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), a demanda nacional pelo insumo atingiu quase 25 milhões de toneladas de produtos acabados, um recorde histórico. Os preços dos produtos entregues pelas misturadoras às revendas espalhadas pelo país subiram, em alguns casos, mais de 30%, em linha com o aumento internacional. Como cerca de 65% do consumo brasileiro é atendido por importações, afirmam as indústrias do segmento, a influência externa na formação dos preços domésticos é direta.
Grande parte do aumento de preços registrado derivou da contínua escalada das cotações do petróleo, de onde derivam as matérias-primas nitrogenadas. Fosfato, potássio e nitrogênio são as principais fontes de matérias-primas para fertilizantes, e entre os chamados nitrogenados uréia e amônia são os produtos mais importantes. Daí o segmento encarar como fundamental a expansão planejada pela Petrobras.
"A Petrobras está se mexendo. Há uma nova 'vontade' na empresa de melhorar a atuação na área de fertilizantes. Se não para fazer, pelo menos para estudar, o que já é alguma coisa. O problema é que o cobertor é curto. Uréia e amônia precisam de gás natural, e não há gás disponível para veículos, usinas térmicas e adubos, sobretudo após os problemas com a Bolívia", diz uma bem informada fonte do ramo. Conforme esta fonte, é a falta de disponibilidade de gás que mantém a terceira fábrica de adubos da estatal na gaveta.
Se sair do papel, a nova UFN-3, como por enquanto é chamada a planta projetada, engrossará um movimento de expansão da capacidade de produção de fertilizantes que tem se espalhado sobretudo por países da África e do Oriente Médio, que têm reservas naturais relevantes. Egito, Catar e Marrocos estão entre esses países, e entre as empresas que puxam os planos de expansão estão as multinacionais Yara, Mosaic e Bunge, com forte presença no Brasil.
Enquanto a nova planta não sai, a Petrobras investe na modernização das fábricas existentes. Em Sergipe, por exemplo, a empresa aplicou cerca de R$ 40 milhões para começar a fabricar uréia granulada, melhor adaptada, em termos de dimensão e consistência, à adubação de culturas como algodão, café e milho. Segundo Martinez, esses investimentos foram aplicados ao longo de dois anos e as vendas começaram em 2007. Na Bahia, foram gastos R$ 11 milhões no ano passado em novos equipamentos e na melhoria de processos, considerados importantes para que a produção de uréia ficasse próxima de 300 mil toneladas, maior volume em oito anos.
Martinez lembra que a divisão também começou a operar recentemente com xisto agrícola e que, como consta no balanço da estatal, está investindo US$ 115 milhões na unidade baiana para a produção de 120 mil toneladas de ácido nítrico destinado ao Pólo Petroquímico de Camaçari. FONTE: Valor Econômico ? SP