RODRIGO VARGAS
ENVIADO ESPECIAL A ALTA FLORESTA
Natural de Barretos (interior de São Paulo), o pecuarista Fernando Antônio Vieira, 68, chegou à região de Alta Floresta (MT) em 1975, no início do projeto de colonização que faria nascer a cidade. Hoje dono de três fazendas, onde cria um dos maiores rebanhos bovinos da região, ele rejeita o rótulo de "vilão" da natureza "imposto pelas regiões Sul e Sudeste".
FOLHA - Como o setor tem acompanhado a repercussão do anúncio dos números do desmatamento?
FERNANDO VIEIRA - O que chama a atenção é que não se fala das pessoas que trabalham aqui. É como se houvesse só a floresta. E somos mais de 20 milhões na Amazônia. A colonização nesta região deu um desafogo em Estados superpovoados, principalmente os do Sul. Eu não sei o que seria hoje desses Estados se não tivesse surgido essa válvula de escape oferecida pelas fronteiras agrícolas. Isso evitou o agravamento de problemas sociais.
FOLHA - Como era a região em 1975, quando o sr. chegou?
VIEIRA - Era mato. Somente mato. Na época, a documentação da empresa colonizadora já dizia que era preciso conservar as castanheiras e que seria preciso seguir a legislação e manter 50% de áreas preservadas [hoje, a reserva legal é de 80%]. Nós atendemos a um chamamento do governo para que viéssemos ocupar a região.
FOLHA - Mas não se desmatou além da conta?
VIEIRA - Ninguém iria se aventurar a sair dos grandes centros e vir para cá se não fosse para trabalhar e ganhar dinheiro. Houve exageros nesse período? Houve. Mas o que queremos hoje é parceria com o governo.
FOLHA - Como assim?
VIEIRA - A produção de grãos e de gado é importante para o país. Hoje, se nós precisamos fazer algum ajuste, temos que fazer em conjunto. Nós queremos parceria, não repressão.
FOLHA - Como é possível a coexistência da floresta e da pecuária?
VIEIRA - O pecuarista tem que trabalhar dentro da lei. Agora, o governo também precisa cumprir a sua parte. Se vão fazer o recadastramento das propriedades por satélite é fundamental que o Incra esteja estruturado para analisar as imagens. Do contrário, o processo vai se arrastar por longos anos e as nossas atividades ficarão paralisadas. É preciso punir quem precisa ser punido. Aqui a maioria é trabalhadora, que não merece ser tratada com polícia e repressão. Não somos bandidos. FONTE: Folha de São Paulo ? SP