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PECUÁRIA BOVINA AVANÇA NA BAHIA
Pecuária bovina avança na Bahia
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25 de Março de 2008

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pecuária bovina avança na bahia

Com terras mais baratas em comparação com Estados de tradição na pecuária, a Bahia ganha espaço na atividade. O rebanho baiano chegou a 10,4 milhões de cabeças, segundo os dados preliminares do censo agropecuário do IBGE, divulgado em dezembro passado e que apurou o rebanho de 2006. O avanço de quase 20% em comparação com o censo anterior, de 1995/96, fez o Estado superar o declinante rebanho paulista.

Casos como o do pecuarista Nelson Pineda têm se multiplicado. Com o encarecimento da terra em São Paulo e a rentabilidade cada vez mais desvantajosa em comparação com outras atividades, Pineda foi procurar outras paragens. Seu projeto prevê criação em 6 mil hectares na região de Wanderley, no oeste baiano. O número de animais o pecuarista não revela.

"Uma terra que vale R$ 10 mil por hectare, como em São Paulo, inviabiliza o negócio", afirma o pecuarista. Em sua busca por terras, os preços ficaram na faixa entre R$ 400 e R$ 2 mil por hectare. Uma alternativa seria aumentar a rentabilidade com criação intensiva, o que também pesa contra a pecuária em São Paulo, avalia ele. "A criação intensiva não é possível sem o uso de insumos, o que acaba encarecendo ainda mais a criação. Em São Paulo, a pecuária está destinada à integração com a cana".

A oferta de terra mais barata não é exclusividade da Bahia, mas o Estado tem outros diferenciais competitivos, segundo Pineda. Um dos mais relevantes é o fato de o Estado estar fora da Amazônia Legal, constante razão de conflito em terras onde a pecuária também ganha espaço, como Pará e Tocantins. Em lugar da obrigatoriedade de manter 80% de mata nativa, na Bahia, as fatias são de 20% a 35%, a depender da localização, segundo ele.

Ainda que existam variações de acordo com cada região, dados de 2007 da Câmara Setorial da Carne Bovina mostram o menor apelo da pecuária em São Paulo em comparação com outras culturas e ajudam a explicar casos como o de Pineda. A rentabilidade da pecuária em São Paulo ficou abaixo de R$ 400 por hectare no ano passado. Na soja, a rentabilidade foi superior a R$ 1 mil e, na cana, superou os R$ 3,9 mil por hectare.

Na Bahia, a melhoria genética tem ajudado a melhorar a produtividade. Os criadores do Estado já levam para o abate animais com dois anos e quatro meses, pesando entre 17 e 18 arrobas. "Há três anos, isso era impensável. Para chegar a esse peso era preciso esperar quatro anos", afirma Wilson Cardoso, presidente da Fórum da Pecuária de Corte na Bahia.

Há entraves que impedem um crescimento mais vigoroso da atividade no Estado. Estima-se que nada menos que 30% do abate de bovinos na Bahia seja feito de forma clandestina. Considerado área livre de febre aftosa com vacinação desde a década passada, o Estado ainda não tem frigoríficos exportadores. E, nas palavras de um criador, "há problemas de vacinação e falta muita informação".

São seis os frigoríficos em atividade na Bahia com inspeção do Ministério da Agricultura e 14 com inspeção estadual. Com essa estrutura, a demanda existente ainda não é atendida, mas há quatro projetos de frigoríficos privados em andamento, segundo Alex Bastos, coordenador de pecuária da Secretaria Estadual de Agricultura (Seagri). Em sete anos, afirma ele, ações conjuntas entre a Seagri e o Ministério Público fecharam 98 abatedouros clandestinos.

Boa parte dos frigoríficos busca habilitação para exportar. Um deles é o Frigorífico Feira de Santana (Frifeira), que pertence à cooperativa dos pecuaristas da cidade, a Cooperfeira. "Estamos investindo e nos capacitando para isso", diz Wilson Pereira, presidente do frigorífico e da cooperativa. Segundo ele, o Ministério da Agricultura já aprovou a planta para exportação. Agora é preciso que as instalações e o abate sejam adequados às exigências internacionais.

O boi baiano ainda é pouco valorizado, e o fato de o Estado não exportar sua carne contribui para os preços baixos. Segundo Cardoso, do Fórum da Pecuária de Corte, até julho do ano passado, o preço da arroba do boi no Estado era um dos menores do país. A partir de setembro, por conta de maior fiscalização nas divisas, houve um ajuste. A melhora para os produtores foi logo ofuscada pelo embargo da União Européia à carne brasileira. Com isso, muitos frigoríficos direcionaram sua produção para o Estado, o que derrubou novamente os preços.

Mas, quando aptos a exportar, para quem os frigoríficos venderiam a carne, já que as exigências dos compradores externos estão cada vez mais rígidas? "Podemos muito bem vender para a Rússia, que é menos exigente. Estamos livres de aftosa há mais de dez anos. Falta o exportador, os comerciantes daqui querer exportar. Muitos ainda são muito pequenos e não têm essa visão", diz Pereira.

Como o Estado ainda não exporta, alguns pecuaristas de menor porte estão desmotivados. "Hoje é preciso ter pelo menos mil cabeças para viver do gado. Os custos subiram muito", diz Pereira. Segundo ele, há cerca de cinco anos, era possível comprar um rolo de arame com uma arroba de boi. "Agora o arame custa R$ 130 e a arroba não vale nem R$ 80", diz.

Há, no entanto, quem caminhe em direção oposta. É o caso do Fabiano Borré que, com seu pai, Ivo Borré, passou a a criar gado onde antes colheu batatas. Como após a colheita é preciso esperar três anos para plantar novamente o tubérculo, a pecuária é uma boa alternativa.

Pereira acredita que os frigoríficos estão perdendo uma grande oportunidade. O mercado consumidor baiano "é pobre, mas é grande", diz. Segundo o pecuarista, os abatedouros poderiam exportar a parte traseira do boi, mais nobre, e vender no Estado a parte dianteira. FONTE: Valor Econômico ? SP



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