As organizações rurais da Argentina vão se reunir hoje para avaliar se mantêm a greve contra a política fiscal do governo ou se a suspendem, para possibilitar negociações com a presidente Cristina Kirchner, como querem entidades representativas de outros setores econômicos.
- O campo está disposto a dialogar - admitiu Luciano Miguens, presidente da Sociedade Rural Argentina, que aglutina 10 mil grandes pecuaristas e produtores agrícolas.
No sábado, organizações industriais, banqueiros e comerciantes pediram o fim do embate - que já dura dois meses - pela implementação de um imposto à exportação de soja. No início, o setor agrário bloqueou as estradas, o que levou a escassez de alimentos inclusive em Buenos Aires. Agora, suspenderam também a exportação de soja.
A Argentina vende para o exterior 95% de sua produção de soja e espera-se que o grão gere este ano renda de US$ 24 bilhões, dos quais o governo espera fica com US$ 11 milhões por meio de retenções móveis - imposto que os agricultores consideram confiscatório.
Apesar de alguns apostarem em solução à vista, o analista Joaquín Morales Solá alerta que a Argentina "ainda está no meio do sismo".
"Falta fazer um balanço dos danos, sobre como a paralisação afetou a microeconomia das cidades do interior. Nestes lugares a vida parou de pronto", escreveu, na edição de ontem do La Nación. "Incerteza, desconfiança, mau humor. Foi isso que substituiu a confiança que tinham na Argentina profunda".
Também no La Nación, o articulista Mariano Grondona compara a situação a "uma pedra que cai num lago":
"Primeiro, o campo limitou-se a reclamar do imposto do então ministro de Economia, Martín Lousteau, que pretendia confiscar a rentabilidade da soja e colocá-la nas mãos do governo. Depois, parou o país. A pedra no lago gerava cada vez mais círculos concêntricos e o protesto, inicialmente rural, ganhou as cidades do interior, num movimento que mostra o espírito federal contra o centralismo do Estado".
Para Grondona, a política econômica deve deixar de ser industrial e passar a ser agroindustrial. FONTE: Jornal do Brasil - 19/05/2008