Ainda existem 800 milhões de pessoas que passam fome no mundo, apesar de ter havido uma redução de 25% nos últimos 25 anos. Nunca se teve tantas possibilidades técnicas de produzir alimentos, o problema da produção está resolvido em grande parte, o que está em aberto é o problema social da distribuição e a oferta de qualidade.
Os alimentos se transformaram em arma política e econômica pelas mãos do secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger ainda em 1982, por meio da sistemática redução dos estoques e pela distribuição de alimentos pela via da ajuda humanitária. Esta estratégia desova os estoques dos países ricos, ao mesmo tempo, em que fragiliza a produção local dos alimentos.
O fato é que vencido o problema da produção, além do problema da distribuição, está em questão o problema da qualidade dos alimentos e dos impactos ambientais oriundos da produção. É sabido que os impactos da agricultura sobre o meio ambiente não são desprezíveis, pois, a ampliação da fronteira agrícola traz reflexos no uso dos recursos da biodiversidade.
Neste cenário, qual seria o papel da agricultura familiar? Logicamente, a opção da agricultura familiar em concorrer com o modelo de produção de commodities para o mercado internacional não seria a alternativa adequada. Uma das principais virtudes da agricultura familiar é o abastecimento local de produtos diferenciados e de alto valor agregado, a fim de reconectar as dimensões perdidas entre agricultura, meio ambiente, saúde e alimentação.
Para tanto, há que repensar o papel do Estado no diz respeito ao financiamento público. A fim de fortalecer as bases produtivas da agricultura familiar, será necessário o aporte de políticas públicas estruturantes de apoio para garantir tecnologia, infraestrutura e garantia de renda aos agricultores no novo modelo. Especialmente para apoiar iniciativas que agregue a dimensão produtiva com o uso amigável dos recursos da natureza.
De outra parte, deve-se se aproximar dos consumidores urbanos para debater e discutir uma política de abastecimento para país, a fim de melhorar a oferta de alimentos que conduzam as pessoas à saúde de bem estar, e a transformar o acesso à alimentação como um direito humano inalienável.
Além disso, a produção de alimentos será drasticamente afetada pelas mudanças climáticas em curso, significa dizer que se avizinham transformações nos padrões de consumo, especialmente, no tocante a necessidade de reduzir o desperdício, pois quase a metade da produção agrícola não se transforma em alimentos, em parte, devido a nossa cultura pautada na ideia de abundância de recursos infinitos.
FONTE: Assessoria de Meio Ambiente - Eliziário Toledo