Documento final de encontro na Itália trará palavras brandas sobre barreiras tarifárias e também sobre os biocombustíveis brasileiros
Após três dias de reuniões em Roma e várias semanas preparatórias, o documento final da Cúpula da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) evitará críticas aos subsídios e às barreiras tarifárias impostas ao comércio de alimentos pelos países ricos. Estados Unidos e União Européia não admitem, sequer, que o documento diga que as barreiras tarifárias e os subsídios afetam a produção e distribuição internacional de alimentos.
Em discussões até ontem à noite, os representantes de mais de uma centena de países tentavam citar a necessidade de acelerar as negociações para redução de barreiras na Rodada Doha como uma das necessidades imperativas para melhoria da situação inicial. Afetar o comércio é a expressão que chegou mais próxima de um acordo mas, mesmo assim, não estava sendo admitida pelos países protecionistas.
Um dos parágrafos previstos no rascunho preparado antes do início da Cúpula pedia a conclusão da Rodada este ano, como forma de "estabelecer um regime de agricultura mais justo e orientado para o mercado", o que ajudaria países pobres a melhorar a capacidade de produção. No entanto, é um dos vários que está entre colchetes e dificilmente entrará no texto.
Diplomatas brasileiros reconhecem que colegas dos países protecionistas querem um documento o mais "aguado" possível. Uma mensagem política, mas sem viés crítico a um dos pontos centrais da crise alimentar mundial. Apesar do diretor-geral das Nações Unidas, Ban Ki Moon, e do diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, terem pedido o fim dos subsídios nos discursos de abertura, dificilmente o documento chegará perto de uma admissão desse tipo.
O parágrafo do rascunho que poderá ficar, se mantida a resistência dos países mais ricos, fala em "esforços para assegurar que o comércio internacional de alimentos e as políticas gerais de comércio conduzam a uma segurança alimentar para todos."
Já o Brasil obteve uma vitória ao tratar de biocombustíveis: não haverá condenação no documento. Depois de resistências iniciais de países do Oriente Médio e alguns europeus - que queriam ver o etanol condenado e apontado como uma das principais causas da atual crise de alimentos -, o texto trará parágrafo brando, sem defender nem condenar, apenas pregando necessidade de mais estudos e troca de tecnologias.
FONTE: O Estado de São Paulo - 05/06/2008