O encontro de organizações e governos de todos os continentes na VI Conferência Mundial da Agricultura Familiar, em Bilbao, País Basco – Espanha, está chegando ao fim. Uma das principais atividades de encerramento foi a assinatura da Declaração das Organizações da Agricultura Familiar e outras OSCs, documento que une percepções, desafios e perspectivas das organizações que participaram da Conferência para a Década da Agricultura Familiar.
“Além dos nossos pensamentos enquanto organizações, essa Declaração representa também o compromisso que assumimos, e esperamos que os governos, parlamentos e toda a sociedade também possam assumir, com a causa da Agricultura Familiar, tão nobre e importante para o mundo”, conta Alberto Broch, vice-presidente e secretário de Relações Internacionais da CONTAG e secretário Geral da COPROFAM, que participou do evento representando as duas entidades. A CONTAG também foi representada pela secretária de Mulheres, Mazé Morais, e pela secretária de Jovens, Mônica Bufon.
Além da reflexão e reafirmação da importância do papel da Agricultura Familiar para a geração empregos e renda, gestão sustentável do ecossistema e produção de alimentos saudáveis em todo o mundo, a Declaração fala ainda do desejo dos trabalhadores e trabalhadoras rurais e seus movimentos de participarem e cooperarem em todas as etapas da Década. O documento afirma ainda a importância das demandas das mulheres e da juventude rural para o desenvolvimento pleno da Agricultura e sua continuidade pelas próximas gerações.
A ideia desta Declaração surgiu durante o encontro internacional em preparação à Conferência Mundial que a CONTAG sediou mês passado. Reuniram-se Federações filiadas à CONTAG, dirigentes da COPROFAM e participantes do Programa de Diálogo Rural Regional (PDRR), e desta reunião nasceu a sugestão de um documento que trouxesse as abordagens que a Declaração traz.
Leia a Declaração das Organizações da Agricultura Familiar e outras OSCs na íntegra a seguir:
DECLARAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES DA AGRICULTURA FAMILIAR E OSCs DURANTE A VI CONFERÊNCIA GLOBAL SOBRE A AGRICULTURA FAMILIAR
Nós, as Organizações de Agricultores e Agricultoras e outras OSCs reunidas na VI Conferência Global sobre Agricultura Familiar, afirmamos que:
A Agricultura Familiar produz mais de 80 por cento dos alimentos do mundo em termos de seu valor a nível mundial, desempenhando um papel vital não somente na produção sustentável de alimentos, mas também no emprego rural e na geração de rendimentos, na gestão ambiental das áreas rurais e marinhas e sua biodiversidade. Também é a fonte de elementos culturais significativos para cada povo e, em última instância, um pilar fundamental do desenvolvimento geral dos países, que contribui para a conquista dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Quando se estabelece um ambiente propício adequado aos países, com políticas públicas específicas implementadas a favor da Agricultura Familiar, esta pode garantir uma vida digna para os agricultores e agricultoras familiares, incluindo os e as campesinos, as comunidades indígenas, as e os Pescadores e pastores, e pode satisfazer as necessidades das e dos consumidores mais apropriadamente e de forma eficaz.
Devido aos resultados altamente positivos do Ano Internacional da Agricultura Familiar (AIAF-2014) em todo o mundo, dezenas de organizações de agricultores e agricultoras familiars e outras organizações da sociedade civil solicitaram a Declaração da Década para a Agricultura Familiar. O processo na Assembleia Geral das Nações Unidas foi liderado pelo Governo da Costa Rica e apoiado por um grupo de 14 países e organizações internacionais, especialmente o FIDA e a FAO. Finalmente, em dezembro de 2017, a Assembleia Geral das Nações Unidas, em sua Sessão 72, proclamou a Década para a Agricultura Familiar 2019-2028 das Nações Unidas, como um marco para que os países desenvolvam políticas públicas e inversões para apoiar a Agricultura Familiar e contribuam para a conquista dos ODS abordando a Agricultura Familiar desde uma perspectiva holística e incluindo a erradicação da probreza rural em todas as suas formas e dimensões.
Portanto, estamos satisfeitos que os Estados membros da ONU se unam a nós nesta visão, através de seu apoio a essa iniciativa global.
A Década para a Agricultura Familiar foi nossa petição, nossa visão, mas sobretudo, é nossa oportunidade para, coletivamente, conquistar mais e melhores políticas públicas a Agricultura Familiar e defender as existentes; ser uma força importante por trás da implementação de tais políticas; assegurar-se que a Agricultura Familiar seja entendida e reconhecida por seu valor; colocar as pessoas acima dos interesses principais; para construir um futuro melhor em nossas áreas rurais e, também, para nossas cidades.
Nesse sentido, nós, as organizações de agricultores e agricultoras e as OSCs reunidas em Bilbao, aplaudimos a celebração da VI Conferência Global sobre Agricultura Familiar que reuniu representantes de organizações de agricultores e agricultoras e outras organizações da sociedade civil, governos, organizações internacionais, centros de investigação e cooperativas dos cinco continentes.
Reafirmamos que a melhora da qualidade de vida e trabalho dependerá da cooperação e da ação conjunta das organizações representativas da Agricultura Familiar, dos organismos internacionais diretamente envolvidos no processo (FAO e FIDA), e dos governos em assumir o compromisso de implementar a nível nacional e local as políticas públicas necessárias para a Agricultura Familiar. O Plano de Ação da Década da Agricultura Familiar nos convoca a trabalhar juntos e avançar nos Direitos dos Campesinos e Campesinas; acesso e controle sobre a terra, a água, os recursos genéticos, os territórios e aos mercados, assegurar a inversão e o fomento produtivo, atenuar os efeitos da mudança climática, promover a autonomia econômica e o empoderamento das mulheres e eliminar todas as formas de violência contra elas, assim como, animar a juventude a permanecer em seus territórios e garantir a substituição geracional.
Nós, as Organizações de Agricultores e Agricultoras e outras OSCs reunidas na VI Conferência Global sobre Agricultura Familiar, nos comprometemos a compartilhar os resultados da VI Conferência Global sobre Agricultura Familiar em nossos territórios, nossas comunidades, nossos agricultores e agricultoras familiares.
Solicitamos encarecidamente aos Governos, ao Comitê Diretivo Internacional da Década, sua Secretaria e as demais partes interessadas:
1. Que tenham em conta os resultados de nossas discussões em Bilbao;
2. Incluir os Agricultores e Agricultoras familiares e nossas organizações no processo de construir uma agenda estratégica de cooperação mais horizontal, transparente, inclusive e participativa para a implementação da Década em todos os níveis (global, nacional e local);
3. Considerar que os Agricultores e Agricultoras familiares e nossas organizações devem ser reconhecidos como sócios e sócias chave fundamentais que participam nos espaços de governança, a nível mundial, nacional e local, para contribuir com o desenho, coordenação, monitoramento e avaliação da implementação da Década e das políticas e ações nacionais adotadas em cada país;
4. Considerar que os Agricultores e Agricultoras familiares e nossas organizações devem beneficiar-se de todo o apoio necessário, incluindo o financeiro e técnico direto, para ajudar-nos a promover sistemas alimentares e dietas sustentáveis, vivendo dignamente de nossa profissão;
5. Solicitamos aos Governos, ao Comitê Diretivo Internacional da Década, a sua Secretaria e às demais partes interessas que reconheçam a contribuição que fizeram os Agricultores e Agricultoras familiares através das gerações, criando, mantendo e conservando os ecossistemas, e nosso papel essencial agora para garantir a sobrevivência da humanidade.
Sigamos construindo o futuro, juntos e juntas! FONTE: Correspondente da COPROFAM - Gabriella Avila