Clóvis Rossi
ROMA - Parecem razoavelmente mapeados os responsáveis pela disparada de preços da alimentação no mundo todo, inclusive no Brasil. Alta do petróleo (e, como conseqüência, aumentos nos fretes e no preço de fertilizantes e outros derivados); especulação nos mercados futuros; a debilidade do dólar norte-americano; a redução dos estoques mundiais; e (a parte positiva) o aumento do consumo em gigantes como China e Índia, para não falar do Brasil.
Como ninguém, salvo um ou outro tarado, pode ser contra o aumento do consumo, aos governantes restaria, em tese, enfrentar as demais causas. Não podem ou não querem. Ou as duas coisas ao mesmo tempo, como se vê com clareza na Cúpula sobre Segurança Alimentar, inaugurada ontem.
Quem manda no petróleo, na especulação e até no câmbio são os mercados. Ponto. A ActionAid, ativa organização não-governamental, calcula que a especulação nos mercados futuros movimentou US$ 1 bilhão por dia em fevereiro e março, o que criou "um divórcio" entre o que de fato é produzido na terra e o que vale a produção nos mercados futuros. A ONG aponta o dedo também para empresas do setor agrícola que não fazem parte dos mercados financeiros. "A gigante de processamento de alimentos Archer Daniel Midland informou um aumento de quase 700% nos lucros de sua divisão de serviços agrícolas no primeiro trimestre de 2008", diz nota da ActionAid.
Conclui: "Está claro que as corporações transnacionais estão obtendo lucros recordes com alimentos enquanto as pessoas pobres pelo mundo afora não conseguem comer. É uma ilustração particularmente grotesca de como a economia mundial está organizada para o benefício dos ricos". Muita gente vai dizer que é demagogia, que é uma retórica démodé. Mas é mentira?
crossi@uol.com.br FONTE: Folha de São Paulo - 04/06/2008