A elevação dos preços dos alimentos e dos insumos industriais acima das expectativas do governo desafia a adoção de medidas mais severas para manter a inflação sob controle. Na hora em que concedeu linhas de crédito menos onerosas e impulsos fiscais para o setor agrícola, as autoridades econômicas se mostraram conscientes do problema e dispostas a enfrentá-lo. O primeiro movimento se deu com a isenção de pagamento do Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) à importação de trigo. O encargo, agora alvo de dispensa, representa 25% do valor do transporte pago por importadores.
Cogita-se de estender a desoneração fiscal da AFRMM aos segmentos de fertilizantes e defensivos agrícolas. Como também estão em estudo a ampliação e o barateamento do crédito para alavancar o aumento da produção no âmbito do Plano de Safra Agrícola 2008/2009. Pretende-se buscar, pela expansão da colheita e da irrigação de financiamento a juros abaixo dos vigentes, a redução de preços ? ou, pelo menos, mantê-los estáveis ? junto ao consumidor. Dito de outra forma, atacar a escalada da carestia. Os alvos do benefício deverão ser o feijão, o arroz, o milho e, também, o trigo.
O problema é que, à margem das equações construídas no Banco Central (BC) e nos ministérios da Fazenda e da Agricultura, o Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) anotou alta de 1,52% em maio. O percentual é superior três vezes ao registrado em abril (0,45%). No acumulado de 12 meses, o índice alcança 10,71%.
A maior contribuição para o empuxe inflacionário veio dos mais altos valores dos produtos industriais no atacado. O aumento substancial dos minérios exacerbou o custo do aço. Daí os reajustes dos preços dos automóveis, equipamentos agrícolas, eletrodomésticos e artigos usados na construção civil, por exemplo. Já o petróleo mais caro arrastou para dentro do surto inflacionário as mercadorias da cadeia petroquímica ? embalagens plásticas, adubos, tintas, entre dezenas.
Diante do cenário nada alentador, não parece que a ferramenta monetária lastreada na elevação da taxa de juros, conforme cogita o Banco Central, seja suficiente para dissipá-lo. É possível, até, que os incentivos fiscais e creditícios já aprovados e outros em perspectiva sejam anulados, pelo menos em parte, pelos juros mais altos. Há pela frente, ensina a lição dos fatos, a necessidade de recorrer a diretrizes alternativas.
Entenda-se que o avanço do IGP-10 em maio de 1,52% retrata incidência universalizante: abrange a produção do campo e a da indústria de bens duráveis. Exige, pois, reação governamental também universalizante. Entre as iniciativas capazes de fazê-la eficaz, figuram a reavaliação da política fiscal para promover adequada redução da carga tributária e submissão dos gastos públicos a severa dieta de emagrecimento. Com a primeira se opõe forte resistência aos espasmos da inflação. E, com a segunda, retira-se de circulação montante considerável de meios de pagamento, dique contra a onda inflacionária impulsionada por excesso de demanda.
FONTE: Correio Braziliense - 19/05/2008