Quixadá. Cerca de 450 operários da construção da usina de biodiesel da Petrobras, que está sendo instalada em Juatama, a 17km do Centro de Quixadá, entraram em greve, na manhã de ontem. Com a paralisação, o prazo de conclusão da obra, previsto para o início de março do próximo ano, será afetado. Cada dia sem atividades resultará em 10 dias de atraso, segundo informou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplanagem Geral no Estado do Ceará (Sintepav), Raimundo Nonato Gomes, ao anunciar o início do movimento de paralisação.
A decisão ocorreu após a constatação do que os sindicalistas consideram ser uma série de irregularidades trabalhistas. Algumas delas são salários e horas extras atrasados. Denunciam também a existência de um banco de horas, apontado como um "esquema" utilizado pelas empreiteiras para burlar a legislação. "O operário trabalha as horas a mais e ao invés de receber pelo que produziu, o período extra lhe é devolvido com folgas, dependendo do interesse do patrão", explica o presidente do Sintepav.
As denúncias mais graves dão conta dos casos de doenças. Quem necessita de cuidados médicos é obrigado a permanecer no alojamento. A afirmação é feita por alguns trabalhadores que foram demitidos. O pedreiro Valdemar Holanda da Silva, 58 anos, é um deles. Diz que teve uma costela fraturada quando estava de serviço. O acidente de trabalho lhe rendeu a demissão. "Assim como o meu, existem outros casos", alerta ele. Enquanto faz a denúncia, aponta para a ambulância saindo do canteiro de obras. "Mais uma vítima, embora a placa fixada ao lado do portão registre 289 dias sem acidentes", observa.
De acordo com os representantes do Sintepav, a fiscalização da Delegacia Regional do Trabalho já foi acionada. As medidas legais para decretação da greve, também. Quando a mobilização foi iniciada, na manhã da última quarta-feira, 30 empregados já haviam se recusado a trabalhar. Agora, todos cruzaram os braços e ainda não definiram quando retornam às atividades.
Assalto
Algumas horas após o início da manifestação, uma funcionária da Intecnial ? construtora gaúcha contratada para executar as obras da usina ? foi assaltada a pouco mais de 2km do local da obra. Ela seguia num automóvel da empresa para a usina. Foi interceptada pelos bandidos que seguiam numa camioneta Fiat Strada de cor vermelha e numa motocicleta. Um disparo de arma de fogo atingiu o pára-brisa do veículo. A auxiliar administrativa sofreu apenas um corte na mão esquerda. Equipes das polícias Civil e Militar cercaram a região.
O delegado regional de Quixadá, Edmar Granja, informou que a intenção do bando era roubar valores que poderiam estar sendo transportados para o pagamento dos operários.
SEGURANÇA
Clima tenso na manhã de ontem
Quixadá. No início da manhã de ontem, sindicalistas e operários, que retornavam à jornada de trabalho, se depararam com forte aparato armado no portão de acesso à obra. Eles ficaram revoltados. Acreditavam que a construtora havia adotado a medida para intimidar os grevistas. O clima ficou tenso, mas funcionários da construtora explicaram que a segurança foi acionada logo após o assalto. Temendo que os bandidos retornem, o serviço particular de proteção armada foi contratado pela direção da empresa Intecnial.
Mesmo assim, os manifestantes ficaram desconfiados. Alguns passaram a especular que a construtora estaria atribuindo a tentativa de roubo a uma armação dos próprios operários, como forma de pressionar a construtora e sub-empreiteiras que realizam a obra a atenderam as reivindicações da categoria. Por conta da falta de diálogo e do que consideram ser provocação, decidiram paralisar a obra.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplanagem Geral no Estado do Ceará (Sintepav), Raimundo Gomes, informou que operadores de máquinas, metalúrgicos, pedreiros e serventes decidiram retornar ao trabalho somente quando a direção da Intecnial resolver sentar à mesa para dialogar e discutir soluções para os problemas apontados pelos filiados. Ele ressaltou que, atualmente, mais de 7 mil trabalhadores com especialização na área da indústria, construção e terraplanagem estão associados ao sindicato.
Até o encerramento desta edição, a direção da Intecnial não deu retorno sobre a solicitação de entrevista. A reportagem esteve no canteiro de obras, mas o gerente administrativo, Noberto, afirmou não ter nada a declarar.
Alex Pimentel
Colaborador FONTE: Diário do Nordeste ? CE