Líder dissidente do MST disse que recurso foi destinada a projeto do biodiesel; UDR quer investigação
22 de novembro de 2007, 21:21 | Online
José Maria Tomazela, do Estadão
SOROCABA - Duas entidades ligadas ao líder dissidente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), José Rainha Júnior, no Pontal do Paranapanema, receberam R$ 1,4 milhão este ano para atividades ligadas à reforma agrária.
De acordo com informações da Controladoria Geral da União (CGU), a Federação das Associações dos Assentados e Agricultores Familiares do Oeste Paulista (Faaafop), com sede em Mirante do Paranapanema, obteve repasse de R$ 622 mil no dia 18 de outubro último para "fomentar a produção de oleaginosas nos assentamentos", conforme prevê o convênio.
Já a Associação Amigos de Teodoro Sampaio, também ligada a Rainha, obteve R$ 602 para "contribuir para o aumento da biodiversidade nos assentamentos". O dinheiro foi liberado em duas parcelas. Em abril deste ano, a mesma entidade tinha recebido R$ 182 mil para elaborar e acompanhar projetos habitacionais destinados às famílias assentadas.
Rainha disse que a maior parte dos recursos foi destinada ao projeto do biodiesel, que tem o apoio do governo federal. Segundo ele, as 1.200 famílias que aderiram ao projeto receberam a verba para iniciar o plantio de plantas produtoras de óleo, como mamona, girassol e pinhão manso. Ele convidou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o lançamento oficial do programa. "Está dependendo da agenda do presidente."
Rainha esclareceu que não preside as duas entidades. "Faço o que sempre fiz, que foi organizar os trabalhadores no campo." Ele disse que o projeto vai gerar renda para os assentados.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o cumprimento do convênio será fiscalizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O órgão se responsabilizou pela compra de sementes, calcário e adubo. A federação alugou tratores para o preparo da terra. O plantio do pinhão manso será feito na segunda fase, após o zoneamento ecológico da região.
O presidente da entidade, José Eduardo Gomes de Moraes, braço direito de Rainha, disse que a intenção é produzir 1,2 milhão de litros de óleo em 2008. O produto será negociado com a Petrobras.
UDR
O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, enviou ofícios aos integrantes da CPI das ONGs no Senado para pedir que as entidades ligadas a Rainha sejam investigadas.
"Ele é investigado por desvio de verbas federais repassadas à cooperativa do MST, mas continua recebendo dinheiro público", afirmou. Afastado dos cargos de liderança do MST, Rainha age por conta própria no Pontal. Seus seguidores fizeram 80% das invasões de terras, este ano, no Estado de São Paulo.
Igreja
A Mitra Diocesana de Presidente Prudente, dirigida pelo bispo d. José Maria Liborio Saracho, também recebeu R$ 59 mil no ano passado para um projeto ligado à reforma agrária no Pontal.
O convênio firmado com o MDA previa a atuação da igreja no desenvolvimento territorial sustentável nas áreas de assentamentos. De acordo com o bispo, independente do repasse dos recursos, a Igreja Católica tem um histórico de trabalho com as comunidades de acampados e assentados.
D. José Maria liderou recentemente uma campanha contra o projeto do governador José Serra de regularizar as terras do Pontal. Ele classificou a proposta como a "legalização da grilagem". FONTE: Estadão Online ? SP