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NOVO FATOR BAIXISTA NOS MERCADO
Novo fator baixista nos mercados agrícolas
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05 de Junho de 2008

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Um novo fator "baixista" de proporções incertas passou a contaminar as bolsas americanas de commodities agrícolas. As principais (soja, milho e trigo) até subiram ontem, ao contrário do que aconteceu na terça-feira, mas analistas de Chicago e Nova York crêem que haverá alguma pressão pelo menos enquanto a CFTC, a comissão que regula as negociações de contratos futuros nos EUA, não anunciar de vez que tipos de freios pretende impor à atuação dos fundos de investimento nesses mercados, para coibir especulações inflacionárias. Na semana passada, a comissão anunciou planos semelhantes para a área de energia.

Os sinais de que isso poderia acontecer não são novos. Os sucessivos recordes de cotações de commodities como petróleo e metais atraíram as atenções da CFTC. A escalada dos grãos, que testaram máximas históricas nos primeiros meses deste ano, manteve aceso o alerta. Ao anunciar, na terça-feira, que pedirá dados mais detalhados aos fundos sobre seus negócios com commodities, a comissão, nesse contexto, apenas confirmou expectativas.

Daí porque não houve pânico nem liquidações desenfreadas de contratos, apesar dos temores. Especificamente nos mercados agrícolas, ontem os fundamentos tiveram espaço na formação dos preços, e estes também foram influenciados por declarações de Ben Bernanke, presidente do Fed (banco central americano), que sinalizou que o ciclo de cortes nas taxas de juros no país chegou ao fim - teoricamente outra notícia baixista, já que qualquer elevação pode tornar mais atraentes outras aplicações financeiras.

Vinícius Ito, analista do grupo Newedge sediado em Nova York, lembra que ajuda a evitar liquidações em massa de posições compradas o fato de as commodities permanecerem como "os melhores ativos em termos de rentabilidade no mundo". Calcado nas perspectivas de demanda global firme para a produção de alimentos e biocombustíveis em época de estoques magros, tal status foi consolidado com a queda dos juros nos EUA e, apesar disso, com a crise hipotecária americana.

Ito ilustra o raciocínio com números. O principal índice de ações dos EUA, o S&P 500, acumula retorno negativo de 1,25% em 2008. A erosão também atinge os títulos do Tesouro americano, que hoje rendem cerca de 3,8% ao ano e perdem para a inflação. Enquanto isso, o índice CRB das commodities aponta uma alta superior a 16% no ano, com saltos de 34% para o milho e de 16% para a soja.

O analista da Newedge pondera, ainda, que a CFTC pode demorar meses para impor restrições concretas aos movimentos dos fundos nos mercados futuros de commodities, que aparentemente teriam de passar por limites mais curtos nos volumes negociados. Essa demora, aliada à possibilidade de que nada aconteça - que existe, sobretudo se os juros americanos subirem -, também ajuda a conter liquidações.

Walt Lukken, chairman da CFTC, confirmou ontem que há revisões em estudo, e que durante esse período a comissão será cautelosa. Procurou não se aprofundar sobre eventuais restrições - ainda que se saiba que os fundos de índices ("index funds") e os "swap dealers" sejam alvos preferenciais -, mas adiantou que não se trata de um boa hora, dados os elevados preços das commodities, para avaliar, por exemplo, eventuais ampliações de limites para movimentos especulativos.

Lukken também confirmou, segundo a Dow Jones Newswires, que está em curso uma investigação específica sobre uma possível manipulação no mercado de algodão em Nova York entre fevereiro e março. Isso porque em 5 de março as cotações do produto alcançaram o pico em 12 anos, e nos 15 dias posteriores houve uma forte retração de 26%.

Especialistas consultados pelo Valor nos últimos meses sempre ressaltaram que a maior aposta agrícola dos fundos decorre, em primeiro lugar, das perspectivas "altistas" de seus principais produtos. É o caso de trigo, milho e soja, as mais negociadas do setor nas bolsas americanas.

Para os especialistas, os fundos são apenas catalisadores da valorização, que deriva dos fundamentos. No pico dessa influência, na virada de 2007 para 2008, poucos se arriscavam a calcular quanto a marcha dos fundos inflacionou as cotações. Quem o fez estimou um plus de 20% a 25%. Todos notaram que, além da elevação de preços, o movimento também tornou as commodities agrícolas muito mais voláteis.

"Volatilidade é nome do jogo", cansou de repetir Antonio Sartori, da corretora Brasoja. Nesse novo cenário, variações diárias superiores a 3%, para cima ou para baixo, tornaram-se freqüentes graças aos fundos. Em geral, incluindo todas as commodities, os chamados "index funds" já somam US$ 180 bilhões, e os volumes físicos negociados já equivalem a muitas safras globais.

Entre eles estão inclusive players conservadores. É o caso do fundo que financia a aposentadoria de funcionários públicos da Califórnia, que diante da turbulência em outros mercados elevou seu aporte nas commodities a US$ 1,1 bilhão.

FONTE: Valor Econômico - 05/06/2008



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