Esse clima de efervescência vem igualmente provocando migrações de empresas agroindustriais entre as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte. Onde o solo aponta para maior produtividade da cana-de-açúcar, até as lavouras de soja estão cedendo lugar à produção de álcool carburante, especialmente no Estado de Mato Grosso. Em São Paulo, a busca é por mais etanol para exportação.
Na contramão da tendência, o Ceará não tem conseguido sequer motivar investidores em torno do desativado parque agroindustrial do Cariri, onde a cana-de-acúçar chegou, por três décadas, a dominar a economia primária regional. A Usina Manoel Costa Filho produziu, nas décadas iniciais de seu funcionamento, açúcar e álcool carburante para abastecer o sul do Ceará e as áreas limítrofes.
A exploração da cultura da cana-de-açúcar nas terras férteis do sul do Estado data do século XIX. Voltada, inicialmente, para a produção artesanal de rapadura e seus derivados, essa atividade chegou a abastecer cerca de 300 engenhos. Depois, incorporou a destilação de aguardente. A rapadura produzida era escoada para o Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Piauí, sendo comercializada, especialmente, nas feiras sertanejas.
Na década de 70, a instalação da unidade industrial pioneira de açúcar e álcool trouxe avanço considerável, pelos novos métodos de cultivo gerando alta produtividade. A usina conseguiu, também, organizar os produtores de sua matéria-prima num raio de 100 quilômetros, alcançando o município de Salgueiro.
A abertura de poços profundos nas manchas de solos com água escassa, o fornecimento de sementes selecionadas, assistência técnica e garantia da compra da cana produzida inauguraram um ciclo de prosperidade. Mas, em seguida, a inflação, a estagnação do preço do açúcar monopolizado pelo governo e os conflitos de interesse entre os produtores e a usina levaram o negócio ao fracasso.
Há pouco tempo, tentou o governo incentivar um movimento para a retomada do plantio da cana e da produção de açúcar e álcool. Uma empresa de consultoria foi contratada para realizar amplo diagnóstico sobre os problemas setoriais, esbarrando em dois embaraços: o predomínio do minifúndio entre os plantadores de cana e a ausência de investidores.
Retoma o Governo do Estado o projeto para soerguer a atividade sucroalcooleira do Cariri, apoiado na iniciativa privada e na disseminação de várias usinas. Embora relevante, a empreitada deve integrar um plano de desenvolvimento regional, diversificando as atividades econômicas, para evitar os vexames provocados pelas crises das monoculturas. FONTE: Diário do Nordeste ? CE