Uma nova onda protecionista no mercado mundial de alimentos está se desenhando. Depois de vários países terem segurado recentemente as exportações de grãos, como arroz e trigo, para garantir o abastecimento interno diante da escassez de produtos, agora é vez dos insumos, alerta o economista da MB Associados, Alexandre Mendonça de Barros.
No mês passado, a China, maior consumidora de adubos, com 30% da demanda mundial, bloqueou as exportações de fertilizantes com tarifas. "Há uma nova onda protecionista, agora sobre os fertilizantes", diz o economista.
Se for seguida por outros países, a decisão da China representa um risco para o Brasil, uma potência agrícola, mas fortemente dependente das compras externas de adubos. No ano passado, a matéria-prima importada para a produção de fertilizantes representou 72% do total consumido no País.
Com a produção doméstica de adubo mantida nos próximos anos, a participação do produto importado deverá representar 85% do consumo brasileiro em 2025 , projeta estudo da consultoria MB Associados.
"No solo tropical do Cerrado, não há como ampliar a produção de alimentos e agroenergia sem fertilizante", afirma Mendonça de Barros, responsável pelo estudo. Segundo ele, o Brasil - tido como o único país que tem capacidade para despejar mais comida no mercado mundial sem afetar a produção de bioenergia por causa da abundância de terras agricultáveis - está com esse potencial ameaçado no curto prazo por causa da restrições de fatores de produção.
Hoje o Brasil é o quarto maior consumidor mundial de adubos, com 6% do total, atrás da China (30%), Índia (14%) e Estados Unidos (12%). Em contrapartida, o País responde por apenas 1% da produção de adubos nitrogenados e derivados de potássio e 4% dos adubos fosfatados. Segundo o economista, a baixa disponibilidade de fontes naturais de matérias-primas, o elevado custo de capital para novos investimentos na produção e a falta de isonomia tributária entre produto nacional e importado inibem projetos de fábricas de fertilizantes.
De toda forma, a explosão dos preços dos fertilizantes no mercado internacional, que nunca estiveram tão elevados - subiram 240% em dólar entre janeiro e abril - e agora bateram no bolso do produtor brasileiro, é fruto do desequilíbrio entre a demanda e oferta mundial.
Projeções da associação internacional da indústria de fertilizantes (IFA) indicam que o consumo mundial deverá atingir neste ano 175,8 milhões de toneladas de nutrientes, com aumento de 5,5 milhões toneladas em relação a 2007. Nos cálculos do economista, serão necessários pelo menos três anos para retomar o equilíbrio entre demanda e oferta de adubos.
FONTE: O Estado de São Paulo - 12/05/2008