Español   /   English   /   中国人   /   Français   /   Deutsch Arrecadação  /   SisCONTAG  /   Guias  /   Webmail  /   Eventos  /   Todos os sistemas  /   Login
               
 
 
NOSTALGIA AGRÁRIA
Nostalgia agrária
WhatsApp

15 de Janeiro de 2008

TEMAS RELACIONADOS:
nostalgia agrária

Confusão na reforma agrária. Confronto entre assentados deixa 14 feridos, barracos destruídos e carros incendiados. Um corre-corre danado, culpa, pasmem, da cana-de-açúcar. A inusitada briga mostra os descaminhos da questão agrária brasileira.

Aconteceu em Araraquara, no interior de São Paulo, no último domingo do ano passado. O Assentamento Bela Vista, palco da triste querela, vem dos anos 80, implantado pelo Incra em antiga fazenda de usineiros falidos. Terra extensa e boa, infra-estrutura e benfeitorias à vontade, o projeto de reforma agrária, embora caro, nasceu para dar certo.

Mesmo assim, capengou durante anos. Tornou-se palco de constantes disputas entre grupos rivais, ligados às organizações políticas que dizem cuidar dos sem-terra. Nada novo. Diferente, mesmo, era a vontade dos assentados de plantarem cana-de-açúcar, para venderem ali perto. Qual o problema?

Ocorre que, no velho paradigma ideológico que domina a questão agrária, é um verdadeiro sacrilégio ver assentado produzindo gêneros "de exportação". Isso é comércio de fazendeiro rico. Obrigação de pobre é plantar alimento básico, para matar a fome do povo.

Parece mentira, mas é verdade. A regulamentação da atividade produtiva nos assentamentos de reforma agrária do País proíbe, em certo sentido, o sem-terra de progredir. As normativas técnicas restringem a agricultura comercial, impedindo a especialização do trabalho. Sem-terra não pode gostar de agronegócio.

Vem das origens essa esdrúxula deformação conceitual. O processo da reforma agrária foi concebido, há 50 anos, como uma forma de quebrar a hegemonia do latifúndio, seja açucareiro, cafeeiro ou cacaueiro. A esquerda, dominada então pelos comunistas, criticava o "modelo exportador" da economia, defendendo o desenvolvimento "nacional". Nesse contexto, a divisão da terra deveria servir ao mercado interno, tese que ganhava simpatia entre os trabalhadores urbanos. A revolução socialista se faria com a aliança operário-camponesa. Puro sonho.

Mais tarde, a birra, agora já comandada pelos neo-revolucionários do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), avançou contra as grandes fazendas de pecuária. E depois contra as plantações de soja. A idéia básica permaneceu a mesma: assentado que se preze deve produzir a subsistência, roça diversificada, um pouco de tudo, arroz com feijão, milho para a galinha caipira, uma hortinha, o porco na lavagem, leite na teta da vaca... Nostalgia rural.

Escudando-se nessa tese, as autoridades do Incra deram a ordem de despejo para 12 famílias, entre os 176 assentados em Araraquara. Desobedientes, elas se haviam especializado na produção de cana-de-açúcar. Pelas recomendações oficiais, apenas metade da terra, no máximo, poderia receber o doce plantio do açúcar.

A situação não é específica do conflituoso Assentamento Bela Vista. Vários outros projetos de reforma agrária apresentam casos semelhantes. O problema nem é restrito às áreas de reforma agrária. O plantio de cana-de-açúcar oferece boa rentabilidade e atrai os pequenos agricultores em geral. Afinal, embora modestos, eles também desejam ganhar dinheiro, trocar de carro, que os filhos estudem. Enfim, progredir na vida.

Pense bem. Qual o objetivo último da reforma agrária? Tornar, simplesmente, o sem-terra um agricultor para que padeça as agruras da terra ou, mais além, garantir-lhe condições dignas de existência? Ora, na economia de mercado importa a renda, não a terra. Impedir o assentado de buscar rentabilidade, atrás da cana-de-açúcar ou de qualquer outra atividade, é defender o atraso.

Quem comunga esse pensamento obscurantista, que obriga a reforma agrária a cuidar da subsistência básica, deveria ele próprio pegar na enxada e plantar um palmo de roça. Arregaçar a camisa e cultivar no sol. Os urbanóides, a começar de certas lideranças políticas dos sem-terra, formulam regras sem conhecimento realista, nem prático, do assunto.

No passado, época do Brasil rural, as fazendas e os sítios eram auto-suficientes. Produzia-se o gostoso pão-nosso-de-cada-dia. A economia monetária estava incipiente. Mas, aos poucos, tudo mudou. As pessoas se mudaram para a cidade e a roça de subsistência acabou trocada pela gôndola do supermercado. Agricultor nenhum planta mais arroz e feijão para comer, prefere comprar. Chega melhor, e mais barato, ao almoço.

Com a modernização da agropecuária, seguindo a tendência da economia geral, forçou-se a especialização do trabalho. E, sabidamente, a escala de produção interfere nos custos. Dessa forma, manter uma roça de subsistência, para aliviar o orçamento doméstico, funciona quando existir trabalho ocioso na propriedade rural. Fora disso, não faz sentido.

Proibir que os assentados de reforma agrária se dediquem àquilo que mais dá dinheiro, obrigando-os a produzir alimentos básicos, representa um grande equívoco, burrice das grossas. Pior, condena o (ex)sem-terra à vida miserável, um autoritarismo disfarçado.

O projeto de assentamento da Bela Vista já tem 20 anos. Mas os novos agricultores continuam subordinados. Nunca se pensou em emancipá-los, oferecendo-lhes os devidos títulos de propriedade. A reforma agrária brasileira continua via única de entrada, sem saída. Sem-terra se eternizam. Nunca se livram do mando, seja do governo, seja das organizações que os manipulam eternamente.

Aqui está o xis da questão. O problema não reside na plantação da cana-de-açúcar, mas, sim, no cultivo da dependência humana.

* Xico Graziano, agrônomo, é secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo E-mail: xico@xicograziano.com.br

Site: www.xicograziano.com.br FONTE: Estado de São Paulo ? SP



WhatsApp


Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares
SMPW Quadra 01 Conjunto 02 Lote 02
Núcleo Bandeirante/DF
CEP 71.735-102

(61) 2102 2288 | Fax (61) 2102 2299
secretariageral@contag.org.br

Horário de Funcionamento:
8h30 às 12h e 14h às 18h
A CONTAG é filiada à:
Secretarias
Presidência
Vice-presidência e Relações Internacionais
Secretaria Geral
Finanças e Administração
Política Agrária
Política Agrícola
Meio Ambiente
Políticas Sociais
Formação e Organização Sindical
Mulheres Trabalhadoras Rurais
Jovens Trabalhadores(as) Rurais
Trabalhadores(as) da Terceira Idade
Comunicação
Política Nacional de Comunicação
A Assessoria de Comunicação
Comunicação Visual
Bandeiras de luta
Fortalecimento da Agricultura Familiar
Acesso à terra e reforma agrária
Políticas públicas estruturantes
Políticas Sociais para o meio rural
Paridade de gênero
Sucessão Rural
Fortalecimento dos sujeitos do campo, floresta e águas
Agroecologia
Preservação e conservação ambiental
Combate à violência no campo
Direitos dos Assalariados/as Rurais
Mobilizações
Grito da Terra Brasil
Marcha das Margaridas
Festival Nacional da Juventude Rural
Festival Juventude Rural Conectada
Encontro Nacional de Formação (ENAFOR)
Plenária Nacional da Terceira Idade
Sistemas
SisCONTAG
ARRECADAÇÃO
GUIAS E CONTRIBUIÇÕES
WEBMAIL
SISTEMA DE EVENTOS
INTRANET
JOVEM SABER
LEGISLATIVO
EDITAIS
REFORMA AGRÁRIA
Campanhas Institucionais
Campanha Nacional de Sindicalização – Sindicato de Portas Abertas
Reforma Agrária: nossa luta vale a pena
Década da Agricultura Familiar
Raízes se formam no campo – Educação Pública e do Campo é um direito nosso
Campanha contra a Grilagem
Em defesa da Previdência Social Rural
Plano Sustentar
Cuidados com o Coronavírus
Campanha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico