Luiz Fernando Cardoso
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Ninguém esconde que o BHC foi, por décadas, a "salvação" da lavoura, ou melhor, dos cafezais. O produto, que já era proibido em países ricos, foi por muito tempo a principal "arma" no combate à broca, inseto que ataca os grãos de café. Bem por isso, o agrotóxico era popularmente chamado de "pó de broca".
O que os produtores rurais da época desconheciam eram os riscos do BHC à saúde. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Maringá, Paulino de Carlos, lembra que o produto era utilizado sem as mínimas condições de segurança.
"Antigamente, o BHC era o inseticida mais utilizado. Eu mesmo usei bastante. A gente chegava a usar duas ou três máquinas, de uma vez só, para espalhar o produto. Isso fazia levantar uma grande nuvem branca", comenta.
Hoje, Paulino se queixa de dores no corpo, mas atribui o desconforto à idade, isentando de qualquer culpa o "pó de broca", que já teve seus dias de glória. "Sem o BHC, a broca acabava com o cafezal. É que nem a lavoura de soja hoje, se não passar veneno, o percevejo come tudo."
CRONOLOGIA
* 1945 - O BHC começou a ser utilizado em larga escala no combate de pragas agrícolas. Nas regiões norte e noroeste do Paraná, serviu os cafeicultores no controle de um inseto conhecido como broca, que ataca os grãos de café. Por isso, o inseticida também é chamado de "pó de broca".
* 1988 - pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) encontram traços do agrotóxico BHC em quase 100% das análises do leite das mães do Norte do Paraná. O estudo alertava para o alto grau de contaminação do produto, que pode causar câncer.
* 1989 - aprovada em 11 de julho daquele ano, uma lei federal passou a proibir a utilização do chamado "pó de broca" em todo o território nacional. Desconhecendo o alto risco de contaminação e temendo problemas com a Justiça, muitos agricultores enterraram grandes quantidades do agrotóxico, que também chegou a ser despejado em rios. Outros armazenaram, clandestinamente o agrotóxico.
* 2005 - Levantamento da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos estimava que cerca de 3 mil toneladas de BHC ainda estavam estocados pelos campos do Paraná. O governo estadual prossegue com recolhimento e incineração do hexaclorobenzeno.
* 2006 - Cerca de 54 toneladas de BHC foram cuidadosamente recolhidas de Alto Piquiri, noroeste do Paraná, para incineração no interior de São Paulo. O agrotóxico era estocado na fazenda Monte Sinai, há 25 anos, em um barracão de madeira e piso de cimento.
* 2008 - O problema volta a ser abordado pela imprensa nacional. FONTE: Diário do Norte do Paraná ? PR