Antes do sol nascer, a maior parte das mulheres que vivem no campo, florestas e águas no Brasil e no mundo já estão de pé: para alimentar a família, alimentar os animais, tirar leite, recolher ovos, cuidar da horta, das plantações, ou lançar a rede nos mares e rios, catar mariscos, colher frutas, quebrar côcos, fazer farinha, cortar cana... E ainda cuidar das crianças, cuidar dos idosos, cuidar de si mesmas, cuidar da casa... tudo isso até bem depois do sol se pôr, todos os dias, sem descanso, sem ajuda dos maridos, muitas vezes sofrendo diversas violências. Mas milhares dessas mulheres ainda têm força e energia para lutar por um mundo melhor, se organizando e reivindicando os direitos fundamentais para uma vida digna.
Fotos:Alina Souza/Palácio Piratini e Proalimentos Ecuador
O Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais brasileiro, por exemplo, é composto por mais de 60% de mulheres. E elas conseguiram, com garra obstinada, fazer da CONTAG uma das únicas confederações no mundo onde a paridade de gêneros é obrigatória. Embora ainda existam muitos desafios sobre a representação feminina na luta sindical, a paridade é um passo importante na luta acirrada por direitos iguais para as mulheres, principalmente as rurais.
A Marcha das Margaridas 2019 deixou claro que é preciso respeitar as mulheres do campo, florestas e águas. Cem mil mulheres de todos os estados brasileiros mostraram, em Brasília, a força de seu querer. Em um momento político de retirada de direitos, de aumento do feminicídio e de todos os tipos de violência contra a mulher, em que a retórica machista da elite brasileira ecoa nos discursos dos governantes, as mulheres rurais marcharam para mostrar sua resistência. E em todo o mundo, outras mulheres ouviram e se identificaram com a nossa luta.
Fotos:Olivier Asselin/FAO e Minkoh FAO/SFLP Project
No dia 15 de outubro, comemora-se o Dia Internacional das Mulheres Rurais, outro momento fundamental para refletirmos sobre a importância delas para o desenvolvimento sustentável não apenas do campo, mas de todo o planeta. Elas são guardiãs de conhecimentos tradicionais e de modos de produção fundamentais para a preservação e conservação do meio ambiente, e também de memórias e culturas. São elas as principais responsáveis por colocar em prática a agroecologia, que é uma maneira de produzir que respeita todos os elementos envolvidos na produção de alimentos, contribuindo para a saúde das pessoas e do planeta. “Mesmo enfrentando tantos desafios e retrocessos, nós, mulheres rurais, não baixamos nossas cabeças. Não pensamos em desistir, não vamos recuar. A Marcha nos mostrou a força que temos. Somos resistência e nenhum governo vai nos intimidar. Seguiremos marchando, até que todas as mulheres sejam livres”, afirma a secretária de Mulheres da CONTAG, Mazé Morais.
Fotos: Rafaella Sabino e César Ramos
FONTE: Assessoria de Comunicação CONTAG - Lívia Barreto