Buenos Aires, 30 mar (EFE).- A negociação entre o Governo argentino e o setor agropecuário para pôr fim ao conflito iniciado há 18 dias corre perigo depois que as maiores entidades do campo retornaram com a mobilização diante da "falta de propostas" do Executivo.
Tanto as associações agropecuárias como o Governo exibiram disposição para dar continuidade às negociações, embora o chefe de Gabinete argentino, Alberto Fernández, tenha assegurado hoje que a greve retomada este sábado pelo campo "é um obstáculo para o diálogo".
"Voltar à greve era tudo o que não deveriam fazer", advertiu Fernández.
A Sociedade Rural Argentina (SRA), a Federação Agrária Argentina (FAA), as Confederações Rurais Argentinas (CRA) e o Coninagro anunciaram este sábado que retomaram a paralisação e os bloqueios parciais nas estradas em rejeição ao recente aumento dos impostos à exportação de grãos.
Mesmo assim, o ministro afirmou que o Governo espera nesta segunda-feira se reunir com os dirigentes das organizações para continuar as negociações iniciadas na sexta-feira - encontro em que ambos os setores não conseguiram chegar a um acordo.
O titular da SRA, Luciano Miguens, confirmou hoje que as entidades participarão do encontro convocado pelo Governo da presidente Cristina Kirchner para amanhã, embora tenha lamentado a falta de "propostas" da administração para resolver o conflito.
A greve foi iniciada em 12 de março, um dia depois de o Governo argentino estabelecer o aumento tributário para o setor agrário.
"A falta de respostas favoráveis por parte do Governo para solucionar o conflito do campo dá a entender que não há nenhuma outra proposta além do aumento de retenções", disse Miguens em declarações a rádios ao se referir ao conflito, que gerou desabastecimento de alimentos em várias cidades do país.
"Os produtores esperam um sinal positivo", indicou o dirigente, que disse que, além disso, aguardavam um chamado do Governo para continuar o diálogo.
De acordo com o que as fontes agrárias explicaram à Agência Efe, as entidades estão dispostas às negociações, mas não colocarão fim à greve até quarta-feira, quando se reunirão para analisar os passos a serem seguidos, apesar de o Executivo ter reivindicado o fim das paralisações para iniciar o diálogo.
"Há muita bronca entre os produtores. A medida não é retirada, a não ser que o Governo volte atrás em relação à medida (que aumentou a tarifa de impostos para exportações)", advertiram os porta-vozes.
Oscar Guillermo Vale, um pequeno produtor da província argentina de Mendoza, afirmou hoje à Efe que há "um longo caminho a percorrer" para resolver o conflito porque "a situação é muito difícil".
"É preciso que todos os atores se sentem e projetem uma política conjunta do setor, não isolada. O Estado fixa suas próprias políticas sem consultar o campo", acrescentou Pablo Godoy Lemos, outro pequeno produtor da zona do Vale de Uco.
O Governo prometeu aos pequenos agricultores se esforçar para "garantir sua rentabilidade" tendo em vista que outra reclamação do setor foi a "desqualificação" do Executivo nesse segmento.
"Estão fora do lugar. O Governo não está vendo a realidade", manifestou o produtor Jorge Nehiem.
Por isso, a presidente, Cristina Kirchner, suspendeu a viagem prevista para esta semana a Londres onde participaria de uma cúpula de líderes progressistas, segundo explicaram fontes oficiais à imprensa local.
Após sua passagem pela Grã-Bretanha, estava previsto uma viagem a Paris, onde realizaria um almoço oficial com o presidente da França, Nicolas Sarkozy.
Por outro lado, o Executivo planeja realizar na terça-feira um ato em apoio à presidente argentina na histórica Praça de Maio, em frente à Casa de Governo, onde numerosas pessoas se congregaram na semana passada para apoiar o protesto do campo mediante um "panelaço", que também se repetiu em outras zonas de Buenos Aires e do interior do país.
Estes protestos se complementaram com os bloqueios parciais das estradas que neste sábado foram retomados por produtores agropecuários em vários pontos do país para impedir a passagem de mercadorias vinculadas ao campo, embora permitam o envio de produtos para o mercado interno como leite, para evitar que se agrave o desabastecimento.
Os piquetes nas estradas geram falta de produtos básicos em muitas cidades do país, enquanto a greve comercial também impactou outros setores da economia, como a indústria, o transporte de carga e passageiros.
As autoridades do Mercado Central de Buenos Aires, onde chega boa parte dos alimentos transportado de outros pontos do país, analisam iniciar ações legais contra as quatro entidades diante das "perdas milionárias" sofridas. EFE ms/bf/fb FONTE: Último Segundo