Integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) expulsaram ontem as seis famílias de trabalhadores rurais que moravam na Fazenda Turvinho, da empresa Cutrale, em Iaras, sudoeste paulista. Entre os expulsos, estão assentados e filhos de antigos integrantes do próprio MST. A propriedade de 800 hectares foi invadida no dia 18 por cerca de 600 militantes, como parte do chamado "abril vermelho".
A fazenda faz parte de uma área maior, de 2,7 mil hectares, cultivados com laranja. Os invasores ocuparam todas as instalações, inclusive a casa-sede. Os empregados da Cutrale que moravam nas casas da fazenda receberam um ultimato para deixar a propriedade. "Eles fizeram uma reunião lá e decidiram que a gente tinha de sair", contou o vigilante José Mariano de Oliveira, de 27 anos.
A mulher e a filha de 3 anos do vigilante já tinham ido para a casa da sogra, no Acampamento Zumbi dos Palmares, na mesma região. Eles são assentados e já foram militantes do MST, mas isso não impediu a expulsão. "Muitos assentados trabalham na fazenda", explicou Mariano, que saiu deixando móveis e objetos pessoais para trás.
Os invasores não permitiram também a retirada de 35 tratores, 4 caminhões-pipa, dezenas de máquinas e implementos da empresa que estão em seu poder. O assentado Adriano Feliciano, de 28 anos, trabalhava na empresa como tratorista. Voltou para seu lote, no Zumbi dos Palmares, e agora não sabe como vai ser o futuro da família. Sua mulher também trabalhava nos laranjais. "A empresa é muito boa, dá ônibus, cesta básica e manda presentes para as crianças."
Adriano voltou para o lote na esperança de que a situação se resolva logo. Na Cutrale ele recebe cerca de R$ 600 por mês, dinheiro com que mantém a casa e sustenta as três filhas, de 15, 10 e 7 anos. Segundo ele, em nenhum outro lugar da região vai conseguir o mesmo salário. "Emprego por aqui está difícil."
O lote no assentamento pertence a sua mãe, que já foi acampada e militante do MST, assim como seu sogro. "Nós somos agregados", disse, referindo-se à mulher e aos filhos. A produção do lote não é suficiente para sustentar toda a família. Por isso muitos assentados foram trabalhar na Cutrale. "O ônibus passa no acampamento recolhendo o pessoal." Ou melhor, passava: os trabalhadores agora ficam em casa, com medo de perder o emprego.
Como chegou a época da colheita, as frutas estão amadurecendo nos pés e caindo. Se depender do MST, contudo, a Cutrale não volta a colher laranjas na fazenda. Segundo a líder Claudete Pereira de Souza, da direção estadual do movimento, os sem-terra pretendem lutar "até o fim" pela posse da área. "As terras aqui pertencem à União e a empresa usa indevidamente", disse.
Claudete afirmou que a saída dos funcionários foi decidida pelo grupo. "Não tem sentido eles ficarem aqui." A reintegração de posse foi dada em favor da Cutrale no dia seguinte ao da invasão, mas o mandado ainda não foi cumprido. Os oficiais de Justiça não conseguiram intimar pessoalmente os líderes do movimento.
FONTE: O Estado de São Paulo - 30/04/08