A lavradora, Ana Maria Rodrigues Magalhães, teve sua casa revirada pelos policiais, que não apresentaram qualquer mandado de busca e apreensão, necessário para ações desse tipo. Segundo ela, procuravam pelos homens de cada casa e por armas. "Com certeza, pegaram minha cômoda, tiraram todas as gavetas, colocaram em cima da cama. Tirou peça por peça de roupa que estava dentro, documentos, reviraram tudo. Eu perguntei a mando de quem eles estavam lá, ele (policial) me disse que estava a mando do dono", disse a lavradora.
O dono atual da área de cerca de mil hectares ou mais é o deputado estadual, Antonio Carlos Bacelar, que, segundo os lavradores, afirma não se opor ao processo de desapropriação da terra iniciado pelo INCRA, em 2003. Mas não há qualquer evolução, desde então, segundo padre Orlando, também envolvido na defesa dos lavradores. "Há mais de três anos isso vem se arrastando e, desde este período, sempre procurando mediação, conversando, diálogo com a parte que aparece lá se dizendo dono, mas não avançou nenhuma coisa", reclama o padre.
O caso pode ter se originado de evidentes desentendimentos entre as 23 famílias de Mata Virgem, que esperam a desapropriação, e homens que trabalham para o proprietário da terra em questão.
O comandante da PM, Major Ruy Fernandes, explicou que dois homens, sem citar nomes, compareceram à delegacia para registrar queixa, dizendo-se ameaçados de morte pelos lavradores. O major disse que, em resposta à isso, os policiais foram apenas tentar evitar um problema maior."Dois senhores procuraram a polícia civil e, posteriormente, a polícia militar dizendo que não retornariam mais para suas residências haja visto estarem sendo ameaçados de morte por pessoas lá na localidade. Nós acionamos os policiais de serviço que foram até a localidade e constataram, realmente, a presença de uma ameaça. Quando da revista na área foram encontradas 9 armas de fogo", explicou o major referindo-se à algumas espingardas mostradas à imprensa.
Quanto à forma como as pessoas foram abordadas dentro de suas próprias casas, Ruy Fernandes respondeu: "A ação da Polícia Militar foi no sentido de evitar um mal maior que estava acontecendo uma ameaça, inclusive as armas de fogo foram apreendidas no local. No primeiro momento foi sanar esta ameaça contra a vida das pessoas que vieram fazer a denúncia e vamos averiguar se houve excesso dos policiais, mas foi uma ação, até que me provem o contrário, uma ação normal", concluiu o comandante.
Ninguém saiu do quartel da PM satisfeito com o que ouviu do comandante. Tanto que as denúncias continuarão à quem de direito. "Eles afirmam que a comunidade estava ameaçando os jagunços do deputado. E é o contrário, estes homens ficam desfilando dentro da comunidade armados de espingardas 28 e revólver calibre 38 ameaçando a comunidade e foram eles mesmo que vieram denunciar que são os lavradores que estão usando armas. Vamos levar a denúncia junto ao Ministério Público, vamos levar a denúncia à secretaria de Segurança do Estado, inclusive também à olvidaria agrária, do Ministério da Reforma Agrária e à todos os órgãos competentes porque nós queremos justiça. Policiais como estes que foram lá na comunidade nós não aceitamos na cidade de Codó", disse Mário Sérgio Moreira de Queiroz, presidente da União das Associações das Escolas Família Agrícola do Estado do Maranhão (UAEFAMA).
Acélio Trindade - Codó FONTE: Imirante.com ? MA