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ALERTA MUNDIAL
Monsanto, seus OGM e as pesquisas científicas dos biólogos franceses
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09 de Outubro de 2012

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À medida que passam os dias se conhecem mais detalhes e reações sobre o que foi apresentado pela mídia francesa como “uma bomba de fragmentação científica, sanitária, política e industrial”: a pesquisa científica de um grupo de biólogos que denuncia a toxicidade das sementes de milho transgênico NK 603 da transnacional Monsanto. Em resumo, os estudos em questão, desenvolvidos por uma equipe de cientistas da universidade francesa de Caen, chefiada pelo biólogo molecular Gilles Eric Seralini, e publicados na revista especializada Food and Chemical Toxicology descobriram que cerca de 200 ratos de laboratório, alimentados durante dois anos (a vida inteira desses animais) com diferentes doses de milho NK 603 e água misturados com glifosato marca Roundup, o herbicida mais utilizado no mundo, também de propriedade da Monsanto, apresentaram em certos casos tumores do tamanho de uma bola de pingue-pongue. Comparados com as cobaias de controle alimentadas com milho convencional e não com OGM, os ratos “transgenizados” já apresentavam más-formações no 13o mês da experiência. Nas fêmeas apareceram tumores mamários que chegaram a até ¼ do seu peso. Nos machos, os órgãos depuradores –rins e fígado- sofreram anomalias severas com uma frequência de 2 a 5 vezes maior que nos roedores não alimentados com OGM. As fotografias que acompanham o trabalho -publicadas no semanário Le Nouvel Observateur, que revelou estes estudos para o “grande público”- são aterradoras. O que diferencia experimentalmente este trabalho dos anteriores é ter sido realizado durante toda a vida dos ratos de laboratório, e não apenas durante três ou quatro meses, caso da grande maioria dos estudos que buscavam demonstrar a inocuidade dos OGM. Os efeitos Uma primeira clara consequência destes estudos foi a Rússia ter suspendido toda a importação de sementes de milho NK 603, invocando o princípio da precaução. Uma segunda consequência foi o governo socialista francês dizer que “levava bastante a sério” o relatório e que havia solicitado à Agência Nacional de Segurança Sanitária (ANSES) uma avaliação do trabalho de Seralini e sua equipe. As conclusões dessa nova pesquisa serão conhecidas no dia 20 de outubro. E uma terceira consequência foi a discussão instalada, não só na França, sobre as relações, por exemplo, entre ciência e empresas e/ou empresas e instituições estatais e/ou científicas de controle e avaliação, e sobre a maneira como se desenvolvem os processos de autorização da comercialização de um produto de consumo em grande escala, neste caso alimentar, mas que poderia ter sido também um medicamento ou outra coisa. “Se fosse um medicamento, sua comercialização teria sido imediatamente suspensa”, afirmou o jornalista Guillaume Malaurie, do Le Nouvel Observateur. Ataque e contra-ataque Um exército de cientistas, alguns deles autores de estudos que vão em um sentido diametralmente oposto ao de Seralini, bombardearam nestes dez últimos dias a equipe da universidade de Caen. Criticaram-no, por exemplo, por ter escolhido para sua experiência uma espécie de ratos com tendência a produzir tumores e porque o número de animais integrantes de cada um dos subgrupos, em que foi organizado o trabalho, era demasiado reduzido. Joel Spiroux, médico e codiretor da pesquisa, respondeu que nesses terrenos não houve diferenças entre sua experiência e a realizada pelos cientistas pagos pela Monsanto: a espécie de animais foi a mesma e a quantidade de cobaias também. Também criticaram Seralini e sua equipe (no caso, a revista Nature) por terem, de fato, mentido ao afirmar que este seria o único trabalho “a longo prazo” sobre as consequências do consumo de OGM por animais. De acordo com a Nature, já existiam pelo menos 24 pesquisas científicas de “longa duração” que provavam a inocuidade dos transgênicos. Não é assim, disse Spiroux. Por um lado, estes estudos –que efetivamente existiram– eram nutricionais e não toxicológicos e, por outro, não abrangeram em nenhum caso a totalidade da vida dos animais analisados, como feito na pesquisa cientifica liderada por Seralini, tendo durado uns poucos meses ou, quando muito, um par de anos no caso de porcos que vivem, pelo menos, o dobro disso. Além disso, observou Spiroux, a maior parte das pesquisas científicas que “absolveram” os OGM foram financiadas ou encomendadas pelas próprias empresas produtoras de transgênicos e auditadas pelos organismos de controle de composição no mínimo duvidosa, ao contar em suas fileiras com integrantes de universidades ou laboratórios beneficiados com contribuições, convênios, acordos de cooperação com essas mesmas companhias. Tudo isto pra quê? O que o Le Nouvel Observateur conta sobre as condições de clandestinidade em que Seralini e os seus levaram a cabo seu trabalho é realmente alucinante: desde a forma escondida de conseguir as sementes do milho transgênico em um colégio de Canadá e de transportá-las da mesma forma para a França, até a codificação das comunicações telefônicas e os e-mails entre os membros da equipe, para manter em segredo as suas conclusões, passando pela difusão de um estudo falso para despistar eventuais “espiões”. Essa clandestinidade não foi escolhida de graça –afirmou certa vez um jornalista do Le Monde- mas revela o modus operandi habitual de empresas como a Monsanto. Com relação a esta forma de atuar da maior empresa do mundo no setor da biotecnologia, Chantal Jouanno, a ministra do Meio Ambiente do governo do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, deu o seu testemunho há poucos dias. Em 2007, pouco depois de Paris ter decretado uma moratória para a entrada de transgênicos em seu território, Jouanno recebeu a “visita” do vice-presidente da transnacional em seu gabinete do Palácio do Eliseu. “Fiquei estupefata com o tom ameaçador que empregou. Alguém que está confiante do produto que vende, responde a quem o critica e não atua desta maneira”, disse a ex-ministra. Jean-François Le Grand, ex-senador pela UMP, o partido que levou Sarkozy ao poder na França, participa dos mesmos temores que Jouanno com respeito à metodologia da Monsanto e de empresas similares. “O lobby pró OGM sabe seduzir com presentes especiais para aqueles que querem obter favores, e tem um enorme poder”, disse Le Grand, que já foi presidente da Alta Autoridade sobre os Organismos Geneticamente Modificados. “Não se privam de recorrer a qualquer coisa”. O político, hoje presidente de uma região francesa, tem uma lembrança negativa dessa experiência: sua postura contrária aos OGM fez com que seus próprios companheiros de partido o ignorassem, não só neste organismo como no Senado. Precisou renunciar primeiro e romper com a sua formação política depois. Seralini o conhece daquela época. “É um cientista de primeira, que atua com extremo rigor” e que levou a cabo o estudo “que eu queria que os poderes públicos alavancassem”, disse para Le Nouvel Observateur. Olhos que não veem O que mais preocupa a Seralini no “affaire OGM”, além das consequências que poderiam recair nos seres humanos ao consumirem, é a ausência de controles estatais eficazes, quando vemos conivência entre o poder político e as empresas do setor. Não houve forma de conseguir que o organismo público financiasse os trabalhos da equipe de Caen. E não foi por não terem tentado. Os 3,2 milhões de euros para custear a pesquisa, os biólogos conseguiram por sua própria conta. “Vamos exigir contas de quem deve prestá-las”, disse Corinne Lepage, ex ministra do Meio Ambiente da França, atual primeira vice-presidente da Comissão de Ambiente, Saúde Pública e Segurança Alimentar do Parlamento Europeu, e autora de um livro (“La vérité sur les OGM”, La verdade sobre os OGM) lançado em 21 de setembro deste ano. Lepage integra, há 15 anos, o Criigen (Comitê de Pesquisa e de Informação Independentes sobre Engenharia Genética), organismo ao qual também pertence Seralini e que administra os 3,2 milhões de euros. “Já não será possível aos organismos públicos, que até agora exibiram uma inoperância gritante para controlar os OGM, prosseguirem agindo desta forma”, disse Joel Spiroux. A batalha pública, esperada por Seralini e sua equipe, dá sinais de que será dura. Por um lado, deverão continuar se confrontando com os colegas. Por outro lado, terão que fazer frente ao próprio lobby das empresas de sementes, encabeçadas pela Monsanto. E em terceiro lugar, às instituições políticas nacionais e regionais, que serviram de guarda-chuva para as anteriores para proteger as anteriores. Em Bruxelas, na sede da União Europeia, Seralini já se confrontou fortemente com a diretora da EFSA, a autoridade de segurança alimentar regional, Catherine Geslain-Lanéelle. A dirigente disse que o organismo que dirige aceita auditar a pesquisa do biólogo, mas através do mesmo comitê que autorizou anteriormente o milho NK 603. “De nenhuma forma aceitaremos uma coisa dessas”, se indignou Seralini. “A intransigência da diretora da EFSA ilustra a posição extremadamente delicada em que se encontra a UE. Entre o principio da precaução que rege o direito europeu, as regras do comércio internacional e as pressões dos Estados Unidos, o caminho é estreito”, destaca Nouvel Observateur em um artigo publicado no dia 21 de setembro deste ano. Neutros? A difusão do estudo de Seralini em Food and Chemical Toxicology coincidiu com a publicação de um livro (Todos cobaias, do próprio biólogo), a estreia de um documentário homônimo e a edição do trabalho de Lepage. Todos no mesmo dia. Essa “superexposição midiática” foi outro dos ângulos de ataque escolhidos pelos detratores do cientista francês, ao lhe criticarem uma “militância global contra os OGM” que havia tido uma expressão em sua própria pesquisa. “É um estudo viciado desde o início pela militância de seus autores”, comentou, entre outros, um biólogo espanhol. Seralini não oculta essa “militância”, assim como não oculta sua oposição ao considerar a ciência como uma disciplina neutra. “Tenho meus pontos de partida, minhas posições, como também têm os outros, os que me criticam, mas sou extremamente exigente com relação ao rigor dos trabalhos que realizo”, defendeu-se o biólogo, que neste plano encontrou advogados inclusive entre os colegas que criticaram as suas conclusões. “Não há ciência neutra”, acrescentou, e tampouco houve problemas em admitir que efetivamente existiu uma “operação midiática” para fazer coincidir a difusão em massa de sua pesquisa e seu livro com o documentário e o livro de Lepage. “Trata-se efetivamente de pesar na opinião pública por ser este um tema impossível de ficar reservado à discussão e ao conhecimento exclusivo dos cenáculos científicos, porque concerne ao conjunto da sociedade. E, na batalha midiática, os promotores dos OGM levam muitos, mas muitos corpos de vantagem”. FONTE: Rel-UITA - Daniel Gatti



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