A visita de 12 parlamentares da União Européia ao país preocupa as autoridades sanitárias brasileiras. O Ministério da Agricultura cercou a comitiva de cuidados para evitar que os deputados do bloco vistoriassem fazendas incluídas na lista de 95 propriedades autorizadas a vender gado para a exportação de carne bovina, segundo apurou o Valor. As cinco fazendas que serão inspecionadas pelos europeus, em Goiás, não fazem parte da primeira relação, aprovada pelas autoridades da UE no fim de fevereiro deste ano.
O governo temia dar munição extra aos críticos da carne brasileira em caso de uma recepção pouco amistosa aos parlamentares europeus, cujo esforço para aprovar o embargo às importações de carne brasileira ainda não foi esquecido pelos pecuaristas nacionais. Em caso de identificação de irregularidade ou inconformidade nas fazendas já aprovadas, os deputados europeus poderiam ampliar a propaganda negativa sobre o produto nacional.
A preocupação do governo aumentou com o clima de hostilidade aos europeus em reuniões na Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) e no Congresso Nacional. E piorou ainda mais com a reação agressiva dos europeus às cobranças de pecuaristas e parlamentares brasileiros.
Em audiência na Comissão de Agricultura da Câmara, os deputados europeus foram novamente desafiados a apresentar os argumentos científicos que embasaram a decisão de embargar a carne brasileira. Também foram provocados com acusações de usar protecionismo comercial e uma campanha difamatória na Europa para evitar a concorrência do produto brasileiro, mais barato que a carne produzida nos países da União Européia.
Confrontado com afirmações hostis sobre a fragilidade do sistema de rastreamento animal na Europa, o presidente da Comissão de Agricultura do Parlamento Europeu, o deputado britânico Neil Parish, enfureceu-se com o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO).
"Viemos como amigos, mas se o senhor quiser que voltemos como inimigos continue com sua agressividade. Não podemos aceitar que sua arrogância rejeite as regras por nós exigidas", disse. "O senhor deveria voltar sua agressividade ao Senado dos Estados Unidos. E isso mostra que estamos certos nas nossas exigências", afirmou, em referência ao protecionismo do vizinho do Norte.
Segundo ele, a a carne brasileira foi barrada por "falhas sistemáticas" no sistema de rastreamento do gado bovino (Sisbov). "Está no relatório do FVO [escritório sediado na Irlanda que cuida de questões sanitárias]". E ameaçou: "Se vocês não ouvirem, a situação ficará pior". Parish liderou a pressão do Parlamento sobre os serviços técnicos da UE pelo embargo total à carne brasileira. Um pouco antes, ele havia descartado aceitar modificações nas regras da UE. "Somos os clientes e decidimos o que queremos. Não vale a pena falar em novas regras porque elas estão postas e devem ser respeitadas".
No debate, sobraram questionamentos à produção do álcool de cana-de-açúcar. "Se querem vender o biocombustível, nos ajudem a calar a boca das ONGs que dizem que vocês queimam a floresta e que as fotos de satélite são inapeláveis", provocou a deputada espanhola Ester Herranz García. (MZ) FONTE: Valor Econômico - 30/04/08