Os preços atrativos do milho no mercado internacional têm levado muitos produtores a postergar o plantio do milho safrinha no Mato Grosso. A janela para o plantio ficou mais apertada em virtude do atraso na colheita da soja, ocorrido tanto pelo atraso do plantio, no fim do ano passado, quanto pela demora da colheita em virtude das chuvas.
Uma das apostas no plantio postergado do milho safrinha foi feita por Getúlio Gonçalves Viana, grande produtor de soja e prefeito de Primavera do Leste pelo DEM. "Vamos com o plantio março adentro", afirma ele.
Não apenas os preços convidativos do milho - os contratos futuros apontam, no momento, manutenção dos preços acima do patamar de US$ 5 por bushel - incentivam os produtores a sustentar um plantio mais tardio do milho safrinha, tido por muitos como arriscado. No ano passado, ao menos dois grandes projetos industriais ligados à cadeia do grão foram anunciados para o município. A paranaense Big Frango investe R$ 450 milhões na construção de um frigorífico para abate de 500 mil aves por dia e produção de 600 mil litros/dia de biodiesel de sebo animal. A mineira Granja Mantiqueira também investe R$ 450 milhões em um aviário de 4,8 milhões de galinhas para produção diária de 4,5 milhões de ovos.
O Grupo Itaquerê preferiu não dilatar o período de plantio do milho safrinha, mas também reforçou o trabalho na cultura. Em vez de plantar girassol e mamona nas áreas em que a soja já foi colhida, terá milho safrinha. A área foi ampliada de 1,3 mil hectares para 2,7 mil. "Dobramos o número de plantadeiras de 10 para 20", afirma Eurico Brunetta, sócio-diretor do grupo.
A crescente demanda mundial pelo milho também é evidente no Brasil. Em 2008, o volume de milho consumido pela avicultura deverá crescer 7%, para 11 milhões de toneladas. Na suinocultura, o avanço projetado é de 7%, para 3,3 milhões de toneladas, segundo dados de mercado compilados pela Agroconsult.
Os custos operacionais em ascensão devem derrubar a rentabilidade do milho. Em lugar dos R$ 705 por hectare esperados para a safra 2007/08, o próximo ciclo deverá registrar rentabilidade de R$ 466 por hectare, na média nacional.
Os números têm suas nuances localizadas, com cada Estado obtendo resultados com características próprias, mas é generalizado o cenário mais promissor para o milho com alta tecnologia. No Paraná, por exemplo, a produtividade estimada para a safra 2008/09 é de 111 sacas por hectare nas lavouras em que há mecanização considerada média, o que deverá gerar rentabilidade de R$ 466 por hectare. Nas de alta tecnologia, a produtividade pode chegar a 145 sacas por hectare e a rentabilidade, a R$ 789 por hectare.
"O uso de tecnologia pode aumentar a renda", atesta André Debastiani, analista da Agroconsult. De acordo com a última estimativa de safra apresentada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção do milho safrinha no Mato Grosso deverá crescer 10,1%, para 5,6 milhões de toneladas. Crescimento maior será verificado apenas em Goiás - que terá produção que corresponde a apenas 20% do milho safrinha do Mato Grosso -, com 20,3%, e Distrito Federal, que tem produção irrisória. (PC) FONTE: Valor Econômico ? SP