A safrinha brasileira de milho, quem diria, já pode ser chamada de "safrona". A cultura, que ganha importância ano a ano, deve ter um plantio recorde no país em 2007/08, estimulado por um aumento de preços que já serviu para impulsionou as exportações brasileiras do grão em 2007.
No Paraná, principal Estado produtor de safrinha do país, a área de milho da chamada segunda safra já supera a da safra de verão. De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura, deverão ser semeados 1,6 milhão de hectares no Estado, 7% mais que na safrinha do ciclo anterior (2007/08). Na primeira safra, a de verão, o plantio no Paraná cobriu 1,374 milhão de hectares, conforme a Conab. Em todo o país, a estimativa é que a safrinha alcance uma área de 4,894 milhões de hectares, 7,3% acima do cultivado em 2006/07.
Diante desses números, Otmar Hubner, agrônomo do Deral, constata que o mercado favorável para o milho fez a área de safrinha ficar do tamanho de "uma safra normal". O milho da segunda safra começou a ser plantado no início da década de 1980 na região centro-sul e era visto mais como uma opção de cultivo para o inverno e como rotação de cultura para a soja. O grão é plantado logo após a colheita da oleaginosa, entre janeiro e março, dependendo da região do Brasil.
Nos últimos anos, entretanto, ganhou importância. E nesta temporada, especialmente, teve um empurrão da alta internacional em 2007 por causa da demanda pelo grão para produção de etanol, que fez as cotações subirem mais de 120% na bolsa de Chicago nos últimos dois anos. O resultado foram exportações recordes de milho - de 10,933 milhões de toneladas, segundo os dados da Conab.
Leonardo Sologuren, da Céleres, estima uma área de 4,7 milhões de hectares para a safrinha no Brasil, e admite que a expectativa da consultoria era de que esse número fosse alcançado apenas em 2012. A demanda crescente, entretanto, mudou tudo.
Colhida no começo do segundo semestre do ano, a safrinha também ganhou peso porque é nessa época que se concentram as exportações de milho do país, observa Sologuren. Se é mais conservador que a Conab em relação ao plantio, o analista é mais otimista no que tange às exportações. Enquanto o órgão do governo prevê vendas externas de 10,4 milhões de toneladas, Sologuren fala em 12 milhões de toneladas este ano.
Mesmo as turbulências na economia mundial por causa de problemas financeiros nos Estados Unidos não devem desestimular as exportações, acredita ele. "Apesar da crise, a demanda não arrefeceu", comenta, citando número das exportações americanas de milho de setembro de 2007 até agora. Foram 35,2 milhões de toneladas, 5 milhões de toneladas a mais do que no mesmo período um ano antes.
Para Sologuren, o país só não conseguirá exportar o volume esperado de milho se a turbulência mundial afetar os países emergentes e se a produção prevista na safrinha não vingar. Segundo a Conab, a previsão é de produção de 17,247 milhão de toneladas na segunda safra no país, 16,8% mais que na safrinha passada. No Paraná, a estimativa é de 6,33 milhões de toneladas, um novo recorde, ante 5,590 milhões na safrinha anterior, de acordo com o Deral.
Otmar Hubner, do Deral, acredita que a área de 1,6 milhão de hectares no Paraná deverá ser alcançada, a menos que o atraso no na colheita da soja e a seca atrapalhem. Ele estima que a área semeada já esteja em aproximadamente 90% do total previsto.
No Mato Grosso, segundo maior Estado produtor de milho safrinha do país, o plantio ocorreu um pouco mais tarde em partes do sul e do norte do Estado. Isso se deu por conta do atraso da semeadura da soja devido à escassez de chuvas - que acabou adiando a colheita -, explica Maria Amélia Tirloni, analista de grãos do Instituto Matogrossense de Economia Agrícola (Imea).
A preocupação, diz, é que esses plantios mais tardios de safrinha possam ser afetados pela falta de chuvas. Por enquanto, porém, o clima está favorável. A estimativa do Imea é de que a produção totalize 6 milhões de toneladas, numa área de 1,5 milhão de hectares. Na safrinha passada, o plantio ficou em 1,453 milhão de hectares, com produção de 5,846 milhões de toneladas, segundo o governo do Mato Grosso.
"O preço excelente", nas palavras da analista, estimulou o plantio no Mato Grosso, Estado onde a safrinha sempre supera a safra de verão. É que, no verão, o principal cultivo é a soja. FONTE: Valor Econômico ? SP