São Paulo, 28 de Maio de 2008 - Apesar dos preços mais elevados da soja, o produtor dessa oleaginosa deve correr mais riscos para plantar na safra 2008/09. Isso porque os custos de produção estão 40% mais altos, segundo levantamento da Consultoria Céleres, o câmbio, 14% mais desvalorizado, e os preços futuros sinalizando menos otimismo que em igual período de 2007. Somente as condições climáticas devem ser melhores.
A incerteza sobre preço futuro neste momento está relacionado com a diferença entre os valores dos contratos de junho (mercado físico) e os de novembro (safra americana) na Bolsa de Chicago (CBOT) que ficaram negativos durante a maior parte deste ano, o que indica preços futuros mais baixos do que os atuais. Em 2007, essa perspectiva se apresentavam diferente; pois o contrato de novembro ficou mais valorizado que o de julho durante todo o ano, segundo explica Leonardo Menezes, analista da Céleres. "Naquele momento, os Estados Unidos já tinham anunciado que iriam plantar menos soja, o que foi um fundamento altista muito forte, diferentemente deste ano em que os produtores americanos indicaram que vão retomar área de soja", compara Menezes.
Mas, apesar do cenário menos otimista para este ano, a situação melhorou do início do ano para cá, segundo o analista. "O contrato novembro ficou, em 23 de abril, 9,2% mais desvalorizado que os papéis mais próximos. Essa diferença foi caindo, chegando a zerar no dia 21 deste mês, e agora está próximo do 1% negativo. Essa oscilação, entretanto mostra que há muitas incertezas no mercado".
É nesse cenário que o produtor de soja brasileiro vai colocar a semente em campo. Segundo primeiro levantamento da Céleres, em Mato Grosso, por exemplo, a alta no custo de produção será de 41,4%, o equivalente ao gasto de R$ 1,615 mil por hectare (soja convencional). Já é sabido que os fertilizantes estão sendo os vilões do campo. Assim, a participação desse insumo no custo total da safra 2008/09 elevou-se para algo próximo de 50%, segundo Menezes, percentual que no ciclo anterior estava em 38% do custo direto.
A boa notícia é que o enfraquecimento do fenômeno La Niña deve normalizar as chuvas no período de plantio do grão, ao contrário da estiagem prolongada de 2007 que atrasou o cultivo e até provocou replantio, segundo Paulo Etchuchury, da Somar Meteorologia. "A condição climática será ligeiramente mais favorável ao cultivo de soja. O clima retorna ao regime normal - e aos riscos normais - de cada região", prevê Etchuchury.
Para Fábio Turquino Barros, analista da Agra-FNP, apesar dos custos de produção mais altos, a perspectiva é de preços bons para soja neste ano, mesmo com a produção maior nos Estados Unidos. Ainda, para ele, a margem do produtor vai depender muito da forma como ele vai se posicionar ou seja, planejar, travar custos. Alguns falam em redução do pacote tecnológico outros, em manutenção do nível de insumos apostando em compensar com uma produtividade melhor", diz Turquino.
O produtor de Mato Grosso Eraí Maggi, que na próxima safra deve manter a área cultivada com 180 mil hectares de soja, calcula ter feito uma economia de, pelo menos, 25% no plantio de soja da safra 2008/09. Isso porque, além de adquirir os adubos em janeiro, quando o preço estava menor, também vai reduzir em 50% a aplicação desse insumo na lavoura. Isso vai fazer com que o seu custo de produção fique em US$750 por hectare, valor que ele calcula hoje estar em US$ 1 mil para quem vai comprar fertilizante agora. "Guardei metade do adubo no barracão para usar só na safra 2009/10. Agora, está na hora de usar a 'poupança' que nós produtores viemos aplicando no solo durante esses 20 anos. Mas isso tem que ser feito com muito critério, por um nutricionista do solo, para não atingir a produtividade", ensina Maggi. FONTE: Gazeta Mercantil - 28/05/2008