Brasil e Alemanha estabelecerão um grupo de trabalho sobre biocombustíveis, no marco de um acordo de cooperação no setor energético que será assinado hoje pelo presidente Lula, no Palácio do Planalto, durante a visita da primeira-ministra Angela Merkel. Ela desembarcou na noite de ontem em Brasília, primeira escala de uma viagem que continuará hoje São Paulo e levará a premiê a Lima, onde assistirá na sexta-feira à reunião de cúpula entre União Européia (UE) e América Latina/Caribe. Merkel, a política de maior prestígio no Velho Continente, reafirmou em declarações recentes seu apoio aos biocombustíveis, a despeito das críticas de ONGs e de setores políticos ? inclusive de seu próprio partido, a União Democrata Cristã (CDU) ?, que levaram o governo a recuar da meta de adicionar elevar para 10%, até 2020, a participação do etanol e biodiesel no abastecimento da frota.
"A Alemanha tem um dilema entre a sua questão energética doméstica e os compromissos com as metas da UE para contenção dos gases do efeito estufa", disse ao Correio uma fonte do Itamaraty, especialmente envolvida na preparação da visita, a primeira da premiê à América Latina. Esse diplomata lembra que a economia alemã tem dependido de petróleo e gás fornecidos pela Rússia, inclinada a pressões políticas recorrentes. A situação se acirrou desde 1998, quando o governo do antecessor de Merkel, o social-democrata Gerhard Schröder, decidiu pela desativação total das usinas nucleares até 2020.
Não por acaso, Brasil e Alemanha trocarão notas diplomáticas que mantêm em vigor o acordo bilateral de cooperação nuclear, firmado em 1975, do qual resultaram as usinas de Angra II e III. Entre outros fatores, multiplicam-se na CDU as vozes favoráveis a uma revisão da decisão tomada por Schröder, condição importa pelos Verdes para integrar seu governo. O país terá eleições gerais em 2009, e a "grande coalizão" entre democracia cristã e social-democratas, no poder desde 2005, poderá dar lugar a uma composição da CDU com os liberais, também favoráveis à reinclusão dos átomos na matriz energética.
Investimentos
A visita de Merkel, que escolheu o Brasil para iniciar sua primeira viagem oficial à América Latina, terá na agenda outros ingredientes políticos, entre eles a adoção do Plano de Ação da Parceria Estratégica, para ataulizar o plano inicial de 2002. A Alemanha é um dos seis países com os quais o governo brasileiro mantém esse status de relação, ao lado de França, Itália, Espanha, Portugal e Rússia. Parceiros tradicionais também na economia, com a presença antiga e numerosa de empresas alemãs, os dois países tiveram no ano passado um comércio bilateral de US$ 16 bilhões, com superávit de US$ 1,4 bilhão para a Alemanha. No ranking dos investidores externos, porém, o capital alemão caiu para o quarto lugar em 2007, com US$ 1,7 bilhão.
"Queremos atrair mais investimentos deles, que caíram muito nos anos 1990 em função dos custos do processo de reunificação da Alemanha", observou essa fonte diplomática. Nas conversas preparatórias para a visita, os alemães manifestaram interesse principalmente por áreas cobertas pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), em especial o projeto de trem de alta velocidades no eixo Rio-São Paulo. Outra área considerada promissora é a de obras de infra-estrutura para as sedes da Copa do Mundo de 2014 ? a Alemanha vem da experiência bem-sucedida com a modernização de estádios, transportes e serviços nas cidades que receberam jogos do mundial de 2006.
No campo político, Lula e Merkel deverão discutir temas como o impasse nas negociações comerciais da Rodada de Doha e na discussão sobre livre comércio entre UE e Mercosul. Também tratarão do projeto comum para a reforma das Nações Unidas, na qual ambos os países reivindicam cadeiras permanentes no Conselho de Segurança, no âmbito do G-4 ? que inclui também Índia e Japão. FONTE: Correio Braziliense - 14/05/2008