No primeiro depoimento à polícia do Distrito Federal, ontem, o empresário Márcio Passos negou participação no furto das 160 cabeças de gado de uma fazenda em Buritis (MG). Apesar disso, ele foi indiciado pelo crime. Se condenado, pode pegar até 15 anos de prisão. Por enquanto, a prisão preventiva do acusado está descartada, mas o irmão do ex-deputado Pedro Passos (PMDB/DF) também é investigado por sonegação fiscal, formação de quadrilha e receptação qualificada. Os agentes da 13ª Delegacia (Sobradinho) apuram ainda a relação entre Márcio e os responsáveis pelo frigorífico Nipobrás, em Planaltina. Eles teriam abatido 80 reses sem a apresentação de nota fiscal para o recolhimento de impostos.
O desaparecimento do gado da fazenda Santa Tereza, a 250km de Brasília, veio à tona na terça-feira da semana passada, quando o proprietário da terra, Osmar de Brito, denunciou o sumiço à polícia de Minas Gerais. "O arame que divide o meu terreno e o do Márcio estava quebrado, havia pegadas e sal ? usado para alimentar o gado ? no chão. Ele fez isso para atrair os animais", disse Osmar. Durante a investigação, a polícia encontrou 40 cabeças de gado numa fazenda do filho do empresário, Márcio Passos Júnior, em Sobradinho. Os animais tinham as orelhas perfuradas (em geral, os donos das rezes colocam uma espécie de brinco de identificação nelas) e marcas de ferro quente da fazenda de Osmar no couro. Márcio Júnior deve depor ainda hoje. Outras seis pessoas devem ser ouvidas esta semana.
Segundo a polícia, além de não admitir o furto, o empresário acusou Osmar de Brito de usar sem autorização o pasto da propriedade dele, chamada São Vicente. Márcio teria afirmado que os animais do vizinho quebraram a cerca. Segundo o delegado-chefe da 13ª DP, Ricardo Yamamoto, a perícia comprovou que as marcas no pêlo dos animais encontrados em Sobradinho foram feitas com o ferro da fazenda de Osmar. "A versão de Passos é ridícula, inverossímil. Temos várias provas da sua participação no crime", reiterou Yamamoto.
O empresário chegou à delegacia às 10h. "Não cometi nenhum crime. Não vou falar para não comprometer a investigação", disse após sete horas de depoimento. Segundo o advogado de Márcio, Kléber de Andrade, ele não havia se apresentado antes pois descansava na São Vicente. Sobre as 40 reses que apareceram na fazenda de Sobradinho, o acusado afirmou que vieram de outras propriedades dele. Os animais foram devolvidos a Osmar.
Sem nota fiscal
Na tarde de ontem, a polícia convocou o dono do frigorífico Nipobrás, Virgilato Neto, e o funcionário do local Francisco Alves para acareação com Márcio Passos sobre o abate das 80 cabeças de gado, realizado no último dia 17. "Márcio disse que o abate foi feito em Formosa (GO). Mas Francisco confirma que o procedimento ocorreu em Planaltina", afirmou o delegado-adjunto da 13ª DP, Jorge Xavier. Os 80 animais estariam entre os furtados.
O valor da venda para o frigorífico de Planaltina, R$ 42 mil, ainda não foi pago ao empresário. "Vamos pagar ao verdadeiro dono. Compramos gado do Márcio há 10 anos, mas nunca soubemos a procedência dos animais", confessou Francisco. Segundo o delegado Xavier, Passos não apresentou nota fiscal sobre o rebanho, indício de sonegação. O diretor de Defesa de Vigilância Sanitária do DF, Lucílio Ribeiro, explica que, para o transporte interestadual do gado, é preciso permissão sanitária e declaração da Secretária de Fazenda do Estado para o recolhimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS). FONTE: Correio Braziliense ? DF