João Carlos de Faria - O Estado de S.Paulo
- A fruticultura nunca foi o forte do Vale do Paraíba (SP), onde os produtores são mais conservadores e preferem atividades tradicionais, como o cultivo de milho, arroz e feijão e a pecuária de leite. Por isso, a introdução na região da cultura do maracujá foi um desafio para o engenheiro agrônomo Walter Sulino Timóteo, que, além de dar assistência técnica a produtores de Pindamonhangaba, onde trabalha no Departamento de Agricultura, atende também à região e tem sua própria produção.
A idéia não surgiu do nada, afinal, antes de cursar agronomia na Universidade de Taubaté (SP), o técnico morava no pequeno município de Pacaembu, no oeste paulista, de onde saíam, nos bons tempos, cerca de 5 mil caixas de maracujá por semana. Seu pai, Francisco Sulino Timóteo, pequeno produtor, tinha 500 pés (os grandes tinham em média 5 mil pés) e colhia de 250 a 300 caixas da fruta por semana.
VIROSE
O projeto começou em 2005, quando em visita aos pais Timóteo constatou que os pomares da região oeste paulista estavam sendo dizimados por uma virose, que ataca os frutos e folhas, deixando-os duros, sem condições de consumo. ''Voltei com a determinação de iniciar a cultura na região, em escala maior'', diz.
Primeiro, ele fez diversos estudos para ampliar seus conhecimentos e organizou palestras para despertar o interesse dos produtores. Na primeira palestra ele esperava 40 produtores e veio o dobro. ''Fiz um CD explicativo, desde o plantio até a colheita, que foi distribuído aos interessados pelo Departamento de Agricultura'', conta.
COLHEITA
Após dois anos, Timóteo começa a, literalmente, colher os frutos do seu trabalho, ao constatar que hoje já são 15 produtores na região do Vale do Paraíba que aderiram à sua idéia, sendo 8 só em Pindamonhangaba. Há, ainda, um em Jambeiro, um em Lagoinha, um em Tremembé, dois em Guaratinguetá e dois em Caçapava.
A produção não alcança grande escala - a atividade vem sendo bem acolhida por agricultores familiares -, mas já chega a cerca de 1.200 caixas de 10 quilos/mês, sendo parte vendida no Mercado Atacadista de Taubaté (Mercatau) e outra parte, diretamente.
Um grupo local de quatro produtores, incluindo o próprio Timóteo, foi pioneiro. ''O resultado foi muito melhor do que o esperado'', diz ele, que fez o acompanhamento técnico desde a formação das mudas até a colheita da primeira safra. Na época a região ainda era totalmente dependente da importação da fruta proveniente do Espírito Santo e do Vale do Ribeira, no sul de São Paulo.
O arrendatário Riberto Custódio Borges fez parte desse grupo e tem, hoje, no Sítio Nossa Senhora Aparecida, no Bairro Maçaim, em Pindamonhangaba, um pomar com 126 pés de maracujá azedo, a variedade cultivada na região. A tradição da família de Borges era a criação de cavalos.
No primeiro ano, quando colheu a primeira safra, Borges conseguiu 2 caixas de 10 quilos por pé, mas este ano, ao instalar irrigação por gotejamento,dobrou a produção e chegou antes dos demais ao mercado. ''O investimento de R$ 400 na irrigação compensou; a produtividade média é bem maior.''
RENDIMENTO
O pomar de Borges ocupa 2.500 metros quadrados, ou 1/4 de hectare, com espaçamento de 8 metros entre ruas e 2,5 metros entre plantas, e o custo total de instalação foi de R$ 1 mil. Feitas as contas, pode-se afirmar que o rendimento do pomar é de cerca de R$ 30.200 por hectare, se ele atingir as 450 caixas que projeta para esta safra e vendê-las ao preço de R$ 18 cada.
''Que cultura tradicional tem esse rendimento?'', pergunta Timóteo, chamando a atenção para o fato de que a produção de maracujá na região ainda é uma atividade de agricultura familiar, uma forma de diversificação para pequenos e médios produtores. E cita o exemplo de Borges, que cuida do pomar com a ajuda da mãe, dona Rute Cardoso Borges, de 72 anos.
O negócio parece mesmo rentável, porque Borges já se prepara para o plantio de mais 700 pés de maracujá, com a expectativa de multiplicar o seu lucro. ''Estou dependendo apenas do acerto no arrendamento de uma outra área.'' FONTE: Estado de São Paulo ? SP