Dom Cappio volta a Sobradinho e reinicia mobilização em defesa do Rio São Francisco
Um calendário de mobilizações em defesa do Rio São Francisco e de ações de convivência com o semi-árido foi fechado ontem, último dia da Conferência dos Povos do São Francisco e do Semi-Árido, no município de Sobradinho. O bispo de Barra, dom Luiz Flávio Cappio, acompanhou a conferência na maior parte do tempo. "A luta não é como um jogo de futebol em que, após 90 minutos, se sabe quem ganhou ou perdeu. A luta tem o tempo que dura a própria vida", afirmou o frei Luiz durante a celebração religiosa da última terça-feira. Cappio contou que as lembranças da greve de fome de dezembro são para ele como um pesadelo.
Ontem, logo após a celebração religiosa que encerrou o encontro dos povos do São Francisco e do semi-árido, dom Cappio recebeu, em solenidade na Câmara Municipal, o título de Cidadão de Sobradinho. Foi neste município que o frei cumpriu seu mais recente jejum prolongado. Hoje, frei Luiz estará em Juazeiro, onde vai benzer a Capela de São Francisco, erguida no acampamento de sem-terras na região do Salitre, em Juazeiro.
A estratégia consensuada entre os movimentos e instituições antitransposição presentes à conferência é mobilizar os estados da bacia receptora da obra - Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. "Os representantes desses estados na conferência se comprometeram a ampliar o debate com o povo", relatou o sociólogo Rubem Siqueira, da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Da área receptora, fizeram parte do evento as seguintes: o Pólo Sindical de Petrolina (PE), as frentes cearense por uma Nova Cultura de Água Contra a Transposição e a Paraibana Contra a Transposição, além de organismos de alcance nacional, como MST, Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), Cáritas, Conselho Pastoral dos Pescadores, entre outros.
De acordo com o sociólogo, o objetivo é ampliar a nacionalização do debate sobre o projeto de desenvolvimento que o país deseja para as duas regiões. Uma das atividades nos dias de mobilização, adiantou Rubem Siqueira, será o jejum solidário, quando lideranças antitransposição de diversos pontos do país ficarão um dia sem se alimentar.
O método de protesto ganhou força em dezembro do ano passado, quando o bispo de Barra, dom Luiz Flávio Cappio, ficou 24 dias sem comer em protesto contra a transposição do São Francisco. "O calendário será iniciado em 1º de abril, dia da mentira", ironizou Siqueira. A conferência atraiu delegados de 13 estados e mais visitantes da Alemanhã e da Argentina.
O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, vê com naturalidade essas novas manifestações já que o país vive um estado democrático de direito e que todas as críticas que venham a aprimorar o projeto de transposição são bem-vindas, desde que apresentadas e debatidas. "Estou aberto a receber toda e qualquer proposta que venha aprimorar o projeto. Agora, nunca fui procurado por esses movimentos contrários à transposição. Ninguém nunca me pediu para discutir esse projeto. E estamos abertos a receber contribuições que venham a aprimorá-lo. Continuo aberto ao diálogo", enfatizou Vieira Lima. FONTE: Correio da Bahia ? BA