Grupos que defendem os interesses de pessoas afetadas por construções de barragens organizaram, ontem, protestos em quatro estados ? São Paulo, Ceará, Maranhão e Rio Grande do Sul. Além de pedirem maiores benefícios para aqueles que têm suas terras desapropriadas, os grupos também tentam impedir a construção de hidrelétricas, contando com o apoio de movimentos ambientalistas.
Na capital paulista, o Movimento dos Ameaçados por Barragens (Moab) decidiu ocupar a sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) para evitar que o órgão dê parecer favorável à construção da hidrelétrica de Tijuco Alto, no Rio Ribeira de Iguape, na divisa entre Paraná e São Paulo. O edifício só foi liberado no final da tarde, depois que o Ibama mostrou disposição para ouvir as exigências das comunidades afetadas pela barragem.
Durante a manifestação, gritos de ordem tinham como alvo o empresário Antônio Ermírio de Moraes, presidente do conselho do grupo Votorantim. A hidrelétrica fornecerá energia exclusivamente à Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), pertencente ao grupo. O projeto arrastou-se durante 20 anos por impasses ambientais e está próximo de receber a licença prévia que possibilita o início das obras.
O diretor de campanhas do Greenpeace, Marcelo Furtado, prestou solidariedade aos movimentos sociais e resumiu a posição dos ambientalistas: "O Brasil não precisa de projetos como esse". De acordo com a assessora jurídica da ONG Instituto Socioambiental, Luciana Bedeschi, o protesto serve para ressaltar que há estudos complementares ignorados pelo Ibama. Além disso, força uma reavaliação do estudo de impacto ambiental, que, segundo ela, "não conclui pela viabilidade do projeto".
A usina ficaria a 6km da cidade de Ribeira (SP), que seria a mais atingida pelo alagamento previsto de 51,8 quilômetros quadrados. O prefeito Jonas Dias da Silva (PMDB), porém, declara que "não é contra" a usina, mas pede uma compensação financeira para o município. "Existem promessas, mas não há nada oficial", disse. Outra cidade que perceberia o impacto da implantação da barragem seria Registro, também em São Paulo. Para o prefeito Clóvis Vieira Mendes (PMDB), o apoio à construção é incondicional. "Seria nosso regulador de cheias. Não sofreríamos mais como sofremos em 1997, com a maior cheia da história da cidade, que dizimou 70% dos bananais e expulsou a população ribeirinha", explica. "Teríamos um benefício econômico indireto com o retorno da cultura no rio."
Outros estados
Cerca de 700 agricultores ligados ao MST haviam paralisado desde segunda-feira a obra do canal da integração da Serra do Félix ao açude de Pacajus, na região metropolitana de Fortaleza. Uma reunião realizada ontem entre manifestantes e representantes governamentais pôs fim ao protesto, que ocorreu de forma pacífica.
A ação integrou uma série de outras desencadeadas pelo MAB em vários estados em comemoração à Semana Internacional de Luta Contra as Barragens. A intenção é abrir canais de negociação com os governos estaduais e o governo federal para que seja atendida uma pauta de reivindicações, que inclui desde valores das indenizações pagas por desapropriações de terra até a não construção de uma hidrelétrica no Vale do Ribeira, interior paulista.
No Rio Grande do Sul, 150 manifestantes ocuparam a usina de Machadinho, exigindo a indenização referente a 300m da área de preservação. O Ibama rebate o grupo, afirmando que a área, na verdade, é de 100m. Eles afirmam que só vão deixar o local depois de uma audiência com o Ministério Público, órgãos ambientais e representantes da usina.
Outro protesto contra a construção de uma hidrelétrica ocorreu no Maranhão, onde integrantes da Via Campesina e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) paralisaram os trabalhos da obra realizada no município de Estreito. A empresa conseguiu um mandado de reintegração de posse, que ainda não havia sido cumprido. FONTE: Correio Braziliense ? DF