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MANEJO FLORESTAL DE BAIXO IMPAC
Manejo florestal de baixo impacto
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28 de Dezembro de 2007

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É possível explorar a floresta economicamente e, ao mesmo tempo, contribuir para seu desenvolvimento sustentável

QUANDO OUVIMOS referências às madeireiras, a imagem que nos ocorre é a destruição de florestas, o aquecimento global ou o trabalho escravo. Entretanto, a boa notícia é que existe quem faz da atividade madeireira uma contribuição para o fortalecimento de florestas.

No município de Itacoatiara (AM), a 260 quilômetros de Manaus, existe uma madeireira que desenvolveu tecnologia de extração de madeira com menor agressão à floresta. É o Projeto de Manejo Florestal de Baixo Impacto, iniciado em 1994, único projeto de manejo em floresta nativa em todo o mundo, com reflorestamento natural, respeitando os ciclos da própria floresta.

A tecnologia de manejo de baixo impacto foi desenvolvida para possibilitar que o corte contribua para o fortalecimento da floresta, em vez de provocar sua destruição. Na mata, entre árvores, ocorre um processo de seleção natural darwiniano. Dá-se uma dura disputa entre árvores pela luz do sol, pela água, pelos nutrientes da terra e pelo CO2. Sobressaem as mais fortes, enquanto as menos resistentes são eliminadas.

Assim como numa poda, que ajuda as árvores a se desenvolverem, o corte criterioso, do jeito certo e no momento certo, também ajuda a mata a se desenvolver. É possível dar valor e explorar a floresta economicamente e, ao mesmo tempo, contribuir para seu desenvolvimento sustentável.

O projeto é proprietário de uma área de 450 mil hectares, dos quais, até o momento, 220 mil são aproveitados em forma de "fazendas" que variam de 8.000 a 12 mil hectares cada uma.

Essas "fazendas" são inventariadas por equipes de mateiros, nativos da região treinados pelo Ibama, que conhecem todas as espécies de árvore.

As equipes percorrem toda a área, metro por metro, e registram cada árvore individualmente (espécie, idade, diâmetro, altura etc). As informações coletadas são armazenadas num banco de dados. Até agora, já foram inventariados mais de 110 mil hectares.

Cada árvore recebe uma etiqueta com sua localização por meio de georreferenciamento. Essa identificação acompanhará todos os produtos que tiverem origem na madeira extraída daquela árvore. Qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, que comprar uma peça daquela madeira poderá reconstituir toda a trajetória da peça desde a sua origem e localizar o ponto exato de onde a árvore foi cortada.

Cada "fazenda" será trabalhada uma única vez em cada ciclo de 30 anos, ou seja, a equipe de corte entra na "fazenda", corta apenas as árvores selecionadas e, posteriormente, toda aquela área ficará intocada por 30 anos, permitindo à floresta regenerar-se no seu ritmo natural sem intervenção humana.

O "abate", como é conhecido o corte, segue critérios rígidos: apenas três árvores a cada hectare, apenas 25% das árvores de uma mesma espécie, apenas árvores com no mínimo 40 cm de diâmetro, no máximo 16 m2 por hectare.

Uma questão que se colocou como desafio ao projeto foi o destino dos resíduos que, por sua quantidade, se transformam num gravíssimo problema. O processo de decomposição da madeira, quando largada ao ar livre, gera ácidos altamente corrosivos. Se não forem controlados, podem contaminar a terra e o lençol freático.

Junto da madeireira foi construída uma usina termelétrica composta por um turbogerador a vapor de 9.000 kW, em operação desde novembro de 2002, que consome 300 toneladas de resíduos de madeira por dia. Essa energia abastece o consumo da própria madeireira e mais 85% da energia elétrica do município de Itacoatiara, que tem 80 mil habitantes.

Assim, os resíduos, que eram um grave problema para o aquecimento global, transformaram-se em brilhante solução com agregação de valor. Graças à energia dessa biomassa, desde 2002, o Brasil está economizando 20 milhões de litros de diesel por ano na geração de energia elétrica para a região.

Seguindo esse processo de conscientização, o mercado para a madeira certificada cresce exponencialmente no mundo e os projetos de manejo florestal se tornam cada vez mais viáveis economicamente.

O Ibama, ao definir o edital para a concessão de florestas públicas, adotou esse projeto de Itacoatiara como referencial de estudo.

O Brasil, assim, mais uma vez assegura sua vanguarda na luta em defesa do planeta, tanto na geração de energia renovável com baixo impacto quanto na redução do desmatamento e na preservação de florestas.

JOÃO PEDRO GONÇALVES DA COSTA , técnico agrícola, é senador da República pelo PT do Amazonas. FONTE: Folha de São Paulo ? SP



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